A DIGNIDADE DA JUSTIÇA BRASILEIRA
É muito vexaminoso admitir, mas estou cheio de orgulho: por minha iniciativa, o jornal onde estou temporariamente trabalhando será provavelmente o único jornal diário de amanhã a ter o resultado do julgamento do ex-síndico que matou o condômino. Acho que é meu primeiro furo.
Mas não é a isto que venho. Me ofereci para ir até o Forum da Barra Funda. Só tinha umas TVs e a Jovem Pam, mais uns estudantes de Direito e familiares. 22h30min, o julgamento tinha começado 10h. Lá pelas tantas aparece uma mulher de toga. A promotora. Ela vai até outra e a cumprimenta efusivamente: o cara foi condenado (a viúva começa a chorar).
O advogado de defesa era uma das figuras humanas mais escrotas que já conheci. A toga contrastava com o rosto de feições macabras, orelhas de abano, uma careca ordinária e um jeito de policial civil. Cumprimentou com um tapinha na barriga um PM que escoltava o réu.
Acompanhava ele um séquito de janotinhas e patis do direito, que SUGAVAM qualquer coisa cochichada pelo mestre, alguns curvados, todos cheios de dignidade, no entanto.
Quando chegou um dos promotores o advogado de porta de cadeia o chamou com um gesto e cochichou no ouvido dele, deputado style.
Um outro cara de toga chega, outro promotor, e explica que a decisão havia sido por 7 x 0, que fora comprovada a autoria e a materialidade de forma unânime, mas que a Defesa tinha conseguido o que queria: um dos qualificadores do homicídio havia sido indeferido pelo júri. A premeditação estava comprovada pela emboscada na qual o condômino foi morto, mas não o motivo fútil. Com mais duas decisões favoráveis ao réu, a negativa do agravante da domesticidade (ou algo assim, resumindo, que ele matou uma pessoa conhecida e isso é escroto) e com a decisão favorável ao atenuante (unânime) por ter confessado e ser primário e pai de família, o juíz leu: cara pegou 12 anos (a mínima). Como já cumpriu dois anos, recorre em liberdade.
Houve uma espécie de comoção no plenário, mas eu já estava correndo para a Sala de Imprensa passar a nota.
Agora me diz: dá alguma coisa matar alguém na Grande Banana? Tu contrata o melhor criminalista do país, a figura humana mais escrota do universo, paga bem e tá solto. O crime aconteceu em 1999 e até agora o assassino, um cara que matou um morador do prédio onde era síndico por ser acusado de caixa dois, passou só DOIS ANOS preso. E nada indica que vá ficar mais. Amanhã ou depois o Seu Ex-Síndico morre e vai para o céu, sem ter passado mais que uma temporada de 24 meses no gaiolão.
Se o carma já fez o seu papel ou não eu não sei, mas a Justiça Brasileira fez o seu: manter o seu eterno jogo de cena, assassinos na rua e urubus de porta de cadeia e todo o resto da corja aonde quer que seus milhões os levem. Deus abençoe a todos estes dignos senhores de toga.
Para quem não sabe do que eu estou falando.
12/07/2007 00:53 | Comentários (2)