Esta semana tenho saído pouco, mas, entre os maiores prazeres de ser repórter de rua é ter a oportunida de contemplar com mais atenção alguns detalhes das cidades que passariam despercebidos, seja dentro dos ônibus (com seus trajetos sempre por grandes avenidas) seja no volante do carro, com a necessidade de prestar toda a atenção.

Na minha curta experiência como repórter do glorioso Informativo, eu tinha a vantagem de andar sempre com uma máquina fotográfica portátil para fotografar Lajeado e toda a região (oportunidade que não aproveitei como deveria). Não é o caso da minha atual experiência como repórter do Agora, e a riqueza do fator humano de São Paulo (em oposição ao do natural no Vale do Taquari) torna esta limitação de andar sem uma máquina portátil ainda mais frustrante.

Indo para o prédio do Law King Chong, na região do Brás, topei com uma pichação que denotou a evidente bagagem cultural de quem a concebeu. Emoldurando os dizeres "UM DEDO DE PROZAC", uma imagem de Truman Capote, naquela pose mais famosa, de chapéu. Quem seria esta pessoa dotada de pelo menos alguma leitura e capaz de reproduzir isso na entrada de um prédio todo carcomido de uma rua longe de qualquer avenida no meio do Brás?

Num sinal, outro tesouro jogado ao pó das grandes cidades. Numa sinaleira da Avenida do Estado, se oferece para limpar o vidro do carro uma menina de seus 13 anos, surpreendentemente bonita e bem alimentada para uma criança de rua, porém com os traços característicos das indefesas que dormem onde conseguem: a poeira encrustada na cara e as roupas de rapaz, tentando disfarçar os seios protuberantes e evitar o estupro que certamente já veio ou virá em alguma noite dessas.