BRIZOLISMO EM CONGONHAS
O gaúcho é melhor em tudo e sabe disso. Ele só tem um problema: precisa que os outros reconheçam sua superioridade, ou pelo menos tenham consciência da inferioridade de não compartilhar do nascimento na mesma latitude.
E não é qualquer um dos patrícios que serve, não pense que o gaúcho se sensibiliza com o catarinense que toma chimarrão e torce pelo Inter ou o nordestino que reconhece na picanha mal passada uma alternativa mais saborosa à carne de sol.
Não. O gaúcho precisa que um paulista ou um carioca renda-se à sua superioridade moral e cultural de nascido na latitude boreal e incentive no bom sentido um separatismo. Por isso, sempre que tem oportunidade, desfralda a bandeira verde-amarela com a faixa vermelha e o brasão no meio, leva o chimarrão e a Zero Hora pra praia em Copacabana e, dependendo do calor do momento, canta a plenos pulmões o hino.
Foi o que aconteceu ontem, no protesto das famílias do acidente da TAM. Tudo ia muito bem, as pessoas aderiram ao protesto, gostaram, se identificaram com a causa. As crianças, risonhas, repetiam o mantra “JUS-TI-ÇA”, “VER-DA-DE”, repetido incansavelmente num coro de arrepiar. O balcão fechou e quem estava no check-in chorou em solidariedade às 199 almas que há 6 meses tinham se evaporado nas chamas do acidente.
Foi então que alguém puxou o “COMO A AURORAAAAA, PRECURSOOOORAAAAAA”. E a dor imediatamente se tornou pastiche, o protesto empastelou. Já não era mais um protesto de relevância nacional, era o Rio Grande em choque pedindo explicações ao resto da gentalha que mora no norte.
Um pouco da seriedade daquela manifestação de arrepiar se foi nas primeiras estrofes do hino riograndense. E o pior é o repórter ter que confessar que cantou junto.
21/01/2008 19:29 | Comentários (9)