Me sentiria uma pessoa muito melhor se não desse gargalhada toda vez que passo por aqui. Acho que o tipo de construção, o nome do cara e a banda na qual ele tocava são fatores contribuintes.

1) Armas biológicas - Carol acordou com espasmos estomacais. Mesmo assim, levei-a ao trabalho. No trabalho, a situação piorou. A chefe queria um atestado para liberá-la. Fomos ao Santa Paula, hospital chique da Vila Olimpia. A demência moral sempre ululante fez com que se esperasse muito mais do que seria decente para quem paga por um plano de saúde. Li uma Veja inteira esperando (uma reportagem tratando de pesquisas uspianas sobre seqüelas de uso de drogas me foi particularmente interessante). Com um buscopan na veia e satisfação inexplicável expressa no sorriso, explicou que era a décima quinta pessoa a ser atendida naquela emergência com os mesmos sintomas.

2) Armas químicas - há mais ou menos duas horas um odor de derivados de plástico em chamas paira no ar.

3) Demência moral - mesmo com o tráfego incalculável de veículos e os constantes acidentes não se convencem da necessidade do recapeamento total e duradouro das marginais. Deve durar mais que um ano eleitoral as obras, claro. Que dúvida.

4) Povo culto - acompanharam uma mulher no Fla-Flu pra passar depois no Jornal Nacional. Ela levantou, abaixou. Vibrou com o gol do Fluzão e chupou os dentes no do Mengão. Passou batom no intervalo.

5) Geração promissora - Ao contrário da opinião do salvador, as imagens do resgate da piveta que foi jogada na lagoa da Pampulha só provam que Deus não existe, só foi criado pra justificar o salvamento de Moisés, que também pescaram do Rio Nilo. A história dele era bem melhor, isso pra não falar que naquela época era bem mais fácil de acreditar em alguma coisa.

"Ser burro é pré-réquisito de ser eficiente."

Paulo Bullar

Dá gosto receber amigos espirituosos para um churrasco.

Bah, mas eaí Porto Alegre? Como é que tu tá? Me sinto meio como que te traindo fazendo um churrasco de dia inteiro na zona oeste de São Paulo. E tu sabe que as carnes até que tão preza? Se o churrasco der certo afinal, vou me sentir mais traidor ainda.

Hermano diz:
descobri uma cachaçaria aqui perto de casa. Fodeu
Walter diz:
hshs
Walter diz:
falência física, financeira e moral

"Oportunidade em jornal no Rio

Jornal de bairro oferece vagas para jornalista fixo, repórter frila e fotojornalista.
É necessário ter alguma experiência em redação (impresso ou web). Salário de até R$ 1.000,00. Início imediato.

Contato: jorn@bol.com.br"

Quer ser jornalista? Chupa por cinco pilas. Esta é a filosofia do mercado carioca de jornalismo neste começo de 2006. Já é a terceira ou quarta oferta de vaga que fica nessas de dar a real: estamos pagando pouco mesmo porque a oferta de mão de obra é muita e se tu não quiser tem quem queira. Ligaram lá pra casa dos meus pais respondendo a um e-mail com o meu currículo. Era a Federação Brasileira de Tênis de Mesa (popular pin-pong). Retornei daqui de São Paulo. Pagavam R$ 1200 mais vales, e exigiam abertura de firma (o que deixa o líquido em pouco mais de mil pilinha). Apesar de estar pagando um interurbano em horário comercial, tive prazer em dizer que não era do meu interesse, meio como quem cospe. Se eu ainda estivesse rateando no Rio, tudo bem. Agora a história é outra.

Espero que ninguém jamais se toque que o [adul swim] não é para adultos. É para drogados.

Desde que Geisel saiu estamos agüentando merdas de outros estados inutilmente. Vamos promover nossa própria merda!

RIGOTTO 2006 - SEM PUDORES E NA DEMOCRACIA

Fazendo beicinho, Beto Bruno garante:" como muito mais muler que todo mundo, o que me credencia para o cargo". Veladamente, desfraldou uma bandeira do Rio Grande do Sul, só para correligionários. Reuniram-se dentro do banheiro do Bambu's e saíram fungando.

Um estudo de uma tarde em cima de livros que ensinam os mecanismos das leis de incentivo ao audiovisual (visando um concurso) mudou minha visão sobre o cinema nacional. Apesar de feito quase que exclusivamente com dinheiro público (proveniente de renúncia fiscal), é uma renúncia inteligente, porque volta mais tarde em outras operações tributáveis. Da mesma forma, apesar de permitir que uma corja de filhos da puta enriqueçam, dá emprego a outros tantos profissionais que jamais encontrariam mercado de ouitra forma. É, Lei Rouanet é massa.

Família. Tua mãe te vira covardemente as costas. Do nada, surge um primo que tu nunca viu e te espalma a mão para que tu agarre.

Ex-artista é mesmo uma coisa triste. Imaginem uma dupla de milongueiros de, digamos, SÃO BAGRIEL, que fizeram sucesso nos anos 70, vir pra Porto Alegre fazer uma apresentação de graça numa Multisom do Centro. Pois é mais ou menos o que vai acontecer.

Um viva às empresas que divulgam nacionalmente processos seletivos de fachada, com o objetivo único de arrogar uma transparência que não têm ao mercado. 50 questões em 30 minutos foi a coisa mais ridícula que já me aconteceu este ano. Obrigado.

Até meu pai, meio indiferente em relação ao mundo desde sempre e muito mais depois de velho, se impressionou. A fila para comprar entradas para o show do U2 dava voltas no quarteirão. Pfff, cuspi eu. Os caras vão pagar R$ 180 pra ver esta bandinha de merda no Claro Hall. Engano: os ingressos estavam R$ 200, o mais barato. Com os 50% para estudante, R$ 100. Uma pechincha. Pra torrar R$ 100 em uma bosta de show no Claro Hall esta macacada têm. Outro engano meu: os shows serão ambos no Morumbi, ambos a mais de 600km daqui. Havia viaturas, duas delas, fazendo a segurança do local de vendas e pelo menos umas quatro equipes de TV registrando a movimentação. PMs de fuzil displicentemente guardavam a fila, debaixo do sol. Estou até agora tentando encontrar as palavras corretas pra expressar toda a minha indignação. Cada uma daquelas pessoas vai gastar praticamente o novo valor do salário mínimo pra ver Bono ativismo-hipócrita Vox, que sequer se digna a se deslocar para fazer show onde o público está. Não é à toa que este povinho brasileiro vive levando atrás e pedindo mais. Duvido que na Argentina este show esteja saindo por mais de 50 pesos.

Será que depois de ver o pobre rapaz no Jornal Nacional com sua camiseta do Figueira (detalhe importantíssimo) e a incapacidade até de rir por causa das dores os surfistóides vão parar de se referir à Austrááááááália brou como o próprio paraíso?

Comemoraria a mudança de atitude no Outback. Talvez até comece a respeitar um pouquinho a Inglaterra austral, que não tem para mim qualquer atrativo. Tá, ornitorrincos e AC/DC.

Sempre achei Cahoeira do Sul PREEEZA!

Antes achava estupefaciantemente gay. Agora, com esta ida à Itália, até aprendi a respeitar um pouquinho. Até acredito que a filha não seja de proveta.

Ainda e sempre me impressiona o descaso com que se encara toda a sujeira em volta de casa. Muita gente - conhecidos meus, parentes - trata a limpeza de sua casa com todo o escrúpulo que consegue, inclusive paga R$ 50 (ou mais, muito mais) para alguém que se disponha a cuidar disso. Mas o que está fora, o que está em volta, é encarado como um caso perdido. E eu acredito mesmo que seja. Como um jardim que está entregue ao matagal, os problemas sociais são ignorados por grandes demais para serem sequer considerados. Entregamos os pontos. Não é apenas mais fácil, mas é a única solução para viver em paz - o isolamento. Claro que nem todo o isolamento é hermético: a merda muitas vezes entra, por mais que estejamos bem vedados. Um assalto aqui, um seqüestro, um parente, amigo ou conhecido sofre alguma violência. E tu te torna vítima do estresse involuntário, passivo.

Seria também fácil e confortável dizer que tudo é culpa da desigualdade social. Da babaquice da classe dominante. Da falta de oportunidade para a classe trabalhadora, que come merda. É um fracasso coletivo. Uma falta de educação na raiz. E é um monte de obviedades o que estou dizendo, eu sei. Estou bem aqui acomodado vendo crianças matriculadas por R$ 1800 a semana na escolinha do Milan, donas de casa da Vila Nova Conceição ensinando suas "empregadas high tech" a apertar botões e chamá-las "secretárias do lar", vejo os manos largarem seus pacotes de cigarro nos canteiros, invadir a tua tranqüilidade jogando água suja no para-brisa, pago taxa de recolhimento de lixo e não tenho nem a tranqüilidade de saber que há coleta seletiva. Estou numa cadeira de praia tomando meu sol e vendo o matagal em que se transformou o jardim em volta da minha casa. Sem a certeza de que o que ouço da favela ao lado são mesmo fogos de artifício.

Tudo certo, fora o desconforto. Que não ajuda em nada.

Idéia de dois anos atrás. Atestando a falta de criatividade total. Menezes fez a imagem mostrando que tarda, mas não falha. Bruno me ajudou com a parte burocrática.

Pizza na sexta. Casamento em um pico chiquê da Vila Olimpia no sábado. 1200 ml de Erdinger draft hidratada, com comida brasileira havaianas da adidas. Filme cool num lugar cool depois. Espumante nacional demi-sec (era o que tinha) e sobra de pizza em casa. No domingo, 9h30min de pé, mingau de aveia com chocolate e passeio ecológico insano o dia inteiro. Após um acarajé quente e o esgotamento que impedia a posição ereta, tive uma sensação nova: FEBRE por causa de pimenta. O inferno desceu ânus abaixo e fiquei bem imediatamente.

Quem diria, tive que sair da casa dos pais para conseguir a proeza de ter uma vida familiar.

Até fico meio chateado de quase não ter visto o sol desde que me mudei pra cá, mas ao ver as pessoas chorando com o costumeiro forno que se instala em Porto Alegre por esta época fico muito, muito feliz de estar em São Paulo com sua amplitude térmica entre 17° e 23°. E quando vier o calor, haverá piscina. Qualidade de vida é onde estás bem instalado.

Verificamos que os animais melhor adaptados ao ambiente da selva urbana são, nesta ordem, as formigas, os japoneses e os nordestinos. Todas as três espécies referidas demonstram esta impressionante capacidade de adaptação devido ao seu organismo compactado e a baixa demanda por oxigênio. As formigas compensam esta limitação evitando o sono e mantendo o estado de vigília à noite. Japoneses e nordestinos consomem ácool e tabaco sem parar.

Hoje caminhei umas quatro horas. Meio sem rumo, mas com rumo. Primeiro o restaura chino da Cerro Corá, que eu já imaginava e pressentia bom. Confirmei. Desci o alto da Lapa em direção ao que eu chutei ser Pinheiros. A rua FLORÁLIA e o interminável bairro residencial que se seguiu em uma inenarravelmente longa caminhada causou confusão de referenciais. Flores, árvores, passarinhos e casas dividiam lugar com os onipresentes prédios de mais de dez andares. Acabei em Itaim Bibi. Subindo mais, encontro, por acaso, uma das mais deslumbrantes vistas de São Paulo, de acordo com a patroa: a praça Pôr do Sol, de onde já podia reconhecer diversos referenciais, entre eles o prédio da Abril. Voltei ao que imaginava ser a direção da Marginal Pinheiros e parei num boteco de bairro pra tomar um suco de laranja que custava R$ 1,20. O melhor da história, feito do inconfundível sumo de uma LARANJA DO CÉU, que não conhecia desde que a família se desfez de um sítio que tínhamos na serra. Por fim, já de volta aos rumos da Lapa, a tempestade tropical que as nuvens estacionadas finalmente deixaram cair mais uma vez. Entre lombas e declives, calculo fácil uns 25 km esta tarde.

Quando finalmente vão fazer alguma coisa sobre Minas na TV, cometem a pior série já feita. Todas as cenas previsíveis e MILTON NASCIMENTO cantando alguma coisa pretensamente popular (mas também pretensamente sofisticada) fora do andamento na abertura.

E cada capítulo custa dez vezes mais do que qualquer um de nós vai fazer trabalhando em 2006.

Para culminar, notícia de cobrança de pedágio particular para que se fuja de buracos na estrada. O Estado não podia ser outro. Campanha Minas Gerais deportada para o Sudão já.

Muricy Ramalho, 11/05: "O Internacional é a minha casa."

Muricy Ramalho, 01/06: "É ótimo voltar ao São Paulo, é como voltar para a própria casa."

Não posso falar bem de porra nenhuma mesmo.

Todo mundo é roubado, de cima e de baixo, mas a paisagem é tão incrível que tu ainda tem espaço pra sair com cara de esperto na foto. Feliz 2006.