Não adianta querer dar uma chance aos negócios familiares pequeninos. As grandes redes compram volumes monstruosos de produtos de boa qualidade e os colocam em ofertas irresistíveis. Tentado a ir contra a regra, este fluxo gerador de uma concentração monstruosa de recursos, tu acaba comprando porcarias a preços ruins. Como aconteceu certa vez que parei numa estrada em Virgínia pra comer e optei por um posto onde não havia nenhuma grande rede por perto, mas uma conveniência sem bandeira. Acabei comendo hambúrguer de pão de fatia.

Resignados a dar cada vez mais grana pro tubarão, fizemos nosso cartão de crédito parcelado em até 40 dias e oficialmente estamos penhorando nosso salário do resto da vida em troca de víveres e artigos de primeira necessidade. Escravidão até a morte.

Diogo diz:
haha grande frase do OLAVO DE CARVALHO:
Diogo diz:
A inteligência, ao contrário do dinheiro ou da saúde, tem esta peculiaridade: quanto mais você a perde, menos dá pela falta dela. O homem inteligente, afeito a estudos pesados, logo acha que emburreceu quando, cansado, nervoso ou mal dormido, sente dificuldade em compreender algo. Aquele que nunca entendeu grande coisa se acha perfeitamente normal quando entende menos ainda, pois esqueceu o pouco que entendia e já não tem como comparar.

A propriedade é fundamental. Mas o lucro monstruoso é certamente um roubo. Principalmente sem nenhuma reversão em benefícios para a sociedade. Com esta revisão do axioma, acho que boa parte do problema está resolvida. Não pode estar certo Itaú lucrar 5,5 bilhões, Bradesco outros cinco e Banco do Brasil quatro. Não é justo. Não pode estar legitimado e ser socialmente aceito.

Outra coisa a ser combatida é a odiosa campanha do Santander.

Tanto o show dos Stones quanto o do U2 foram verdadeiros festivais de vergonha alheia. O dos Stones vi a maior parte, com uma ceva na mão, esperando que eles fossem tocar alguma música que não fosse das facinhas. O único momento em que isso não aconteceu foi a "música do momento Keith Richards em carreira solo", da qual pouco ou nada se pôde inteligir. Fiquei admirado de não acontecer a tão sonhada hecatombe em Copacabana, mas de certa forma feliz porque muitos amigos meus estavam lá, alguns trabalhando. Mas a tranqüilidade foi só aparente. Mais de 600 ocorrências foram registradas e os bombeiros classificaram o evento como "inferno com I maiúsculo".

Já com o show do U2 tive menos paciência. Quando o moscão disse o primeiro "Brazeu é um paish mui lindo" desliguei a televisão. Me arrependi. Hoje de manhã informações deram conta de que eu estava certo e que TODAS as fãs do U2 são GORDAS, apesar de não serem necessariamente advogadas. Katilce Miranda, de Volta Redonda, aparenta ser estudante. Foi puxada para o palco por Boa Voz e deu um selinho nele. Graças a isso, em pouco mais de 12 horas do show, seu scrapbook está com 53 mil scraps (AUMENTANDO O TEMPO TODO). Seu namorado mudou o relationship status e há diversas comunidades tratando sobre o tema.

Tem como dizer alguma coisa mais? Tem. No extended entry um protesto dos fotógrafos que cobriram o show, denunciando CONFINAMENTO. Brasil: o país da piada pronta, onde a gringalhada faz a festa e deixa o lixo.

UPDATE: Katilce na mídia no extended

As fãs do U2 que acamparam pra poder chegar mais perto de Bono Vox são todas gordas, tem cabelo pintado ou piercing e são ADVOGADAS.

* * *

"Guy in Bar: See, there's three kinds of people: dicks, pussies, and assholes. Pussies think everyone can get along, and dicks just want to fuck all the time without thinking it through. But then you got your assholes, Chuck. And all the assholes want us to shit all over everything! So, pussies may get mad at dicks once in a while, because pussies get fucked by dicks. But dicks also fuck assholes, Chuck. And if they didn't fuck the assholes, you know what you'd get? You'd get your dick and your pussy all covered in shit! "

Peguem na locadora o Team America. Agora.

Quando estou dentro de casa é quase imperceptível que moro em São Paulo. O barulho é menor que o de Copacabana e eu só ouço "então" como preâmbulo de resposta quando falo com a Carol. E sempre a corrijo. Mas às vezes dá vontade de interagir um pouco com os seres humanos locais. Ontem, por exemplo, fomos convidados a ir num bar do Tatuapé, rever uma amiga que há muito não se via. Pareceu interessante por envolver uma travessia pela cidade toda. E lá fomos nós, passando pelas partes já conhecidas, atravessando a ponte para o lado civilizado, passando pela Paulista, Rebouças, até chegar na tal radial Leste. Que nada mais é que uma Suburbana que não leva ao Andaraí, mas ao tal do Tatuapé. Jurou a Carol que era um bairro bom da zona Leste. Chegamos ao bar e era aquela coisa de mesas de madeira e ambiente despojadamente requintado. Castiçais metálicos, aquela coisa. Tudo certo, até dar uma olhada em volta: fêmeas ultrapassando a barreira dos 20 anos com chapinha, cabelo pintado de amarelo-branco e barriga queimada de algo que não é sol à mostra. Machos usando BUNÉ. Abrindo o cardápio, descobre-se o preço de puteiro da cerveja.

Eu não me incomodo de pagar mais caro que o normal pelo ambiente quando o ambiente realmente é agradável e "diferenciado". Mas percebo que o conceito deste dito "ambiente diferenciado" está cada vez mais relacionado a poder aquisitivo que a bom gosto. E só posso discordar quando vejo questionamentos ao estilo portoalegrense. Em Porto Alegre tu pode ter certeza de que vai estar cercado de belas mulheres em um lugar em que a cerveja custa 5 pilas. Em São Paulo, a única garantia é de que elas não vão ter cabelo grande no sovaco. E mesmo esta pode não estar assegurada após um exame mais minucioso.

O bom é que dá cada vez menos vontade de sair de casa.

Preciso do script de uma cabeça de telejornal para usar de modelo. Alguém?

O Uno 97 que a Carol ainda está pagando as 36 prestações ganhou um apelido tão carinhoso quanto realista: Preju.

A melhor coisa de ser repórter evidentemente não é dinheiro, nem uma suposta fama conseguida na aba da ação de outros. O jornalista é o procrastinador por excelência, gostaria de ser músico mas escreve sobre música, gostaria de ser rico e escreve sobre riqueza, gostaria de ser famoso e escreve sobre fama (sendo o próprio porta voz desta). É um prostituidor de um talento mal aproveitado. Mas às vezes, no exercício da conversa fiada profissional, tu depara com gente muito boa e interessante. A lista dos meus "amigos" (os que consigo lembrar) conta com Ferreira Gullar, Luis Fernando Verissimo, Gil Gomes e agora o grande Guinga.

Não conhecia sua obra, mas este cara já arrancou elogios de Paco de Lucia e Chico Buarque. Foi parceiro de João Bosco, Leila Pinheiro, Elis Regina. Mas vou me lembrar para sempre dele porque improvisou um samba cantando no telefone, às gargalhadas:

"LÁ VINHA O IMBECIL DAMASCENO, DESCENDO DAAAA VIATUUUUUURAAAAAAA"

Não precisava ser simpático, não precisava bancar o amigo. Mas ele faz parte daquela estirpe maravilhosa de pessoas, especialmente encontráveis no Rio, que são simpáticas porque sim, amáveis porque não sabem outra forma de se relacionar, felizes porque não conhecem outra forma de viver. Sentem-se privilegiadas, senão por outra razão, porque simplesmente vivem na cidade mais bela do mundo. Ganham mais sol no rosto que os outros. E bastam-se com isso sem muita ambição.

E as palavras dele vão me ocorrer sempre que tiver a tentação da maledicência: "não falio mal, tenho a percepção de quem não presta, mas falar mal atrai uma negatividade nociva pra você. Não fale mal de ninguém. E vá de seis em seis meses ao dentista pra tirar o pigmento da fumaça*." Pode deixar, amigo Guinga.

* Guinga é dentista por profissão.

Almocei, cheguei em casa, postei, senti sono, fui dormir. Acordei, chequei os e-mails, resolvi voltar à ação e procurei o bloco. Não estava na mesa, não estava no criado-mudo, não estava em cima da geladeira, nem no colchão, nem em cima da TV, nem do armário. Aquele espasmo cardíaco da perdição e do infarto se deu com o arregalar de olhos e o calor habitual Minhas anotações com telefones, frases, o melhor bloco que já tive na vida, apesar da cor laranja. O maior terror depois de perder a carteira e o celular. Me vesti, fui até o lugar onde tinha almoçado, o restaurante do Extra. "Bloco? Cor abóbora?" Lá estava, numa gaveta, a minha vida guardada.

Agradável a sensação de começar algo inteiramente novo. E não falo de trabalho, mas de projeto mesmo. Ser o jornalista responsável pelo número 0 de uma revista é um belo consolo pra quem já tava se segurando nas bordas pra não afogar. De novo.

"Hermano,

Preciso que me envie uma foto para que eu posso fazer seu cadastro.

Esta semana estarei fazendo o teste para aprovação dos apresentadores que procuro para 3 programas internos da (empresa estatal famosa por pagar excelentes salários). Certamente farei contato contigo.

Aguardo o envio da foto."

Seria uma boa notícia, um ano atrás, quando eu ainda não sabia que mais 9 meses de desemprego total e alcoolismo me aguardavam no Rio. Hoje é só pra aumentar o desespero em relação à injustiça dos deuses.

Depois de 20 anos que vi na tela achei numa locadora aqui perto o devedê de O Tempo e o Vento. Como se sabe, a direção é de Paulo José. E, como em todas as reconstituições regionais, custou muito para os gênios da atuação dobrarem um pouco a língua pra acertar. Como também é obrigação de todo mundo saber, é o ápice da teledramaturgia brasileira Tarcísão como Capitão Rodrigo, maior personagem da literatura universal, como é igualmente obrigação de todos saber. Não é obrigação de todos saber esta parte, mas é a de Paulo José saber que lenço vermelho = maragatos, ou Farroupilhas e colorados e lenço branco = imperialistas, gremistas portoalegrenses traidores filhas da puta. Se entenderia se fosse qualquer outro cara dirigindo, mas era o Paulo José, ele é gaúcho e tinha a mais religiosa obrigação de saber disto. E ignorou. Colocou chimangos e maragatos na mesma cena, aleatoriamente, como se não significasse nada a cor do lenço. Porra, Paulo José. Olha a merda. 20 anos depois não consigo deixar de esbravejar em altos brados. Que puta cagada, caralho.

Confesso, estava vendo Planeta Atlântida no Multishow. Constrangi-me com um "ah, eu sou ga-ú-chô" durante a noite. Mais ainda com o set do CPM22. Mas aí eles tocaram justamente a música de dor de corno do Ramones. E ela veio creditada com a autopria de "D. Calvin" e uns outros caras que ninguém sabe quem são.

Uma das coisas mais legais de morar em São Paulo é ir para a varanda à noite e perceber que a coloração do céu nunca fica completamente escura. O misto de vermelhidão, fumaça e breu contaminado com luz é uma beleza.

Fazia tempo que não gostava tanto de uma série.

Fiz um quite feijoada da Sadia em casa. Deveria ter acreditado nas instruções que diziam que os ingredientes devem ficar de molho de véspera. Embora provavelmente impossível de perceber pelo paladar de uma pessoa comum (meu olfato e paladar estão, modéstia à parte e apesar dos excessos, acima da média) havia um gosto de plástico desnecessário e que provavelmente desapareceria com mais tempo de molho. Fora isso, quinze minutos de cozimento o caralho: as partes de porco deveriam ter ficado cozinhando umas duas horas. O feijão acabou queimando e as partes de porco ficaram duras. Pretendo corrigir a parte que ficou congelada.

* * *

Toda vez que os muçulmanos ganham as ruas morre uns 15. Obviamente não querem viver, por que não matam todos de uma vez?

A Record achou Suzane Richthofen em Ubatuba. Mostraram as imagens e repetiram, segundo a apresentadora Lorena Calábria, por causa de ligações de telespectadores. A edição de Paulo Henrique Amorim tentou sugerir que ela estivesse tendo alguma espécie de envolvimento com o homem que a está acolhendo. Podre. Mas o pior de tudo é a ênfase dada ao engordamento da guria. Paulo Henrique Amorim diz "chamei ela de gordinha, mas foi com todo o respeito". O promotor responsável pelo caso disse a frase que dá título a este post.

Tá, a mina ajudou a matar os pais. Tá, ela tá aguardando julgamento. Pode ficar 30 anos presa. Não pode ir pra praia, não pode tomar sorvete, não pode dar risada, não pode ter uma vida? Em troca de roubar audiência do Fantástico, Paulo Verme Amorim contribui com a complicação ainda maior da situação da mina. Jornalisticamente correto, mas desumano. Vergonha.

- De onde você é?
- Revista Música e Mercado.
- Não, você, pessoa fíisica
- Ah. Porto Alegre.
- É, né. Logo vi.
- Isso é algum problema?
- Não, é que é goshtoso de ouvirrr.

(Vou pra Pindamonhangaba. Internet lá não há. Té segunda)

Acho muito engraçada uma espécie de prepotência de quem acorda cedo. Eles acham que estão mais certos do que quem acorda quando tem vontade. Ou melhor ainda: não conseguem conceber que existam pessoas ainda em estado de sono r.e.m às 9h. Quem dorme tarde e trabalha de madrugada está conformado com os grilhões sociais que o impedem de ligar para alguém (que ainda não conheça muito bem) às 2h. O notívago é um cara fino.

Já o madrugador se sente respaldado pelos milênios que a humanidade viveu em função do sol, unicamente por falta de eletricidade. É um retrógrado.

Desde um almoço de casamento que eu noto a tendência da elite paulistana: ser brazuca, mas não ser pobre. Eles consomem rigorosamente as mesmas coisas, só que perfumadas por frescurinhas e preços altos. Naturalmente que sem nenhuma consciência do ridículo que isto representa. Ainda assim considero mais apropriado que tentar absorver valores europeus, tentar ser requintado quando a temperatura é de 30°. Nada mais ridículo que querer e tentar ser sofisticado no Brasil. A vocação de nosso país, de toda a nossa dita cultura, é de ser chinelona. Não há berço esplêndido, há uma manjedoura. O pé de todos nós está coalhado de barro. Por isso que eu dou risada com a tendência de pagar fortuna por produtos popularescos. As boates vendem funk ao vivo por R$ 45, os bares oferecem jabá por preços semelhantes. E tu olha fotos e não percebe nenhuma diferença fundamental entre estas jovens com R$ 500 paus no bolso pra torrar numa noite e as que têm isso pra passar dois meses na favela. A cara delas é igual, a vulgaridade nos trejeitos é igual e a vontade de levar atrás também é a mesma. Talvez as faveladas realmente creiam em Jesus Cristo. Talvez.

Quem não tem nada a ver com isso, lucra pra caralho e dá risada é o gênio criador. Mesmo envolvendo grana, o Império do Brasil tem a vulgaridade sempre estampada na bandeira. E acho bem mais honesto que as importadas raves assépticas.