Como eu disse, não pára:

''Coca-Cola compra a centenária fabricante da Matte Leão''

Compra da Leão Júnior vai 'engordar' linha da Coca-Cola em 60 itens.
Empresas não revelaram valor do negócio, que depende de aprovação do Cade.

Confesso que me perturbou a venda da Ipiranga para a Petrobras e parceiras. É inevitável uma reflexão do tipo "onde isso irá parar?". Não pára, evidentemente. A concentração de recursos atropela qualquer barreira que se impuser a ela. Um tal Galló falou à Zero Hora sobre a desgauchização das empresas, que levará à internacionalização das mesmas. Seria até um fenômeno interessante e positivo se não implicasse em otimizações de custos de produção. Em uma palavra, demissões. Água morro abaixo, fogo morro acima, mulher querendo dar e empresas gigantes ficando cada vez mais gigantes: simples forças da natureza com as quais é melhor interagir com cuidado.

No caso específico da Petrobras o medo é ainda maior por se tratar de uma estatal. Se não é possível nem conter o apetite de uma estatal, o que resta de moral ao governo, ou melhor ainda será mesmo que esta empresa ainda pode ser considerada estatal?

Entenderia perfeitamente se se tratasse de uma empresa em dificuldades. Normal, a melhor forma de sanar uma empresa endividada é vendendo e liquidando, mas não, era uma empresa em perfeitas condições, lucrativa, tradicional. Uma das dez marcas mais valiosas do Brasil. Tal foi o caso da Garoto comprada pela Nestlé, da Antarctica comprada pela Brahma, de tantas outras. Empresas indo bem que se venderam pela oferta irrecusável, rendendo-se à assustadora força humana da concentração de recursos.

Quando não acontece a venda propriamente dita, vende-se o controle acionário. Diz-se que a Cia. Brasileira de Distribuição, ou Pão de Açúcar e cia, que se diz orgulhosa de ser brasilaira, está desde já nas mãos da francesa Casino, que mantém por enquanto Abílio Diniz por pura conveniência. Quando quiser chutar o bilionário, chuta. E não imagino algum momento depois de 1990 em que a rede tenha estado em qualquer dificuldade.

Tudo isso me alarma e deprime. Dá um sentimento ruim de que está tudo nas mãos de poucos. E isso não é nem vestígio de um pensamento esquerdista. É mais uma nostalgia patriótica. Ingênua, como qualquer nostalgia.

Primeiro que cessem os barulhos das construções. Que então silenciem e sufoquem na inércia todos os carros. Depois as televisões e rádios das residências vizinhas. Os cachorrinhos domésticos parem de latir e arranhar o piso com suas unhas. Os seres humanos deixem de gritar, de machucar o chão com violência desnecessária. Que os sistemas de ar interrompam suas funções. Que pare tudo. Ainda assim escutarei o ensurdecedor ruído do sangue circulando.

Dos maiores pontos turísticos de Pindamonhangaba, ao lado da fazendo onde o Alckmin nasceu e do BOSQUE DA PRINCESA (sim, aquela que transferiu os negros das senzalas para as periferias), eis o templo Hare Krishna, maior comunidade alternativa deste ramo do hinduismo no Brasil. Logo na entrada o aviso: "pedimos respeito aos seguintes princíopios: não fumar ou consumir bebidas alcoólicas, não consumir alimentos de origem animal''. É de se pensar como o George Harrison se arranjou quando fez sua visita, ele que encerrou sua passagem na terra com um câncer de tabagista.

Vale muito a visita. Aliás, eles vivem disso e são muito hospitaleiros. A refeição comunitária sai por razoáveis R$ 7 e come-se à vontade, sendo necessário apenas ignorar os olhares feios dos monges quando se vai repetir o prato. Comida estilo Ocidente de primeira.

Não vi a cara que fiz quando soube que Zélia Duncan tinha se juntado aos Mutantes em mais um revival caça-níquel. Cheguei até a cogitar a hipótese de ir no show gratuito que fizeram no aniversário da cidade, mas aleguei mentalmente que não valeria o esforço. Não pude, entretanto, deixar de assistir com interesse a participação deles no Jornal da MTV de ontem. Não por acaso, uma das pautas era: o rock dos anos 60 é melhor ou pior que o atual?

É um júbilo entender velhas e sábias expressões. Como nunca tinha pago um dentista do meu próprio bolso, nunca tinha percebido como a tão usada frase sobre "consertar os dentes'' é oportuna. Entender é muito simples. Fala-se em consertar os dentes porque é exatamente igual a levar o carro numa oficina, com todas as nuances e armadilhas que um conserto de carro pode ter.

Primeiro, acha-se o consultório ou oficina mecânica mais próximo de casa. Será bem refrigerada, terá revistas e café de térmica para a espera e todos primarão pelo que se convencionou chamar de bom atendimento: um sorriso no rosto. Um sorriso no rosto aqui no bananão é um valor naconal; você pode estar apresentando o pior lixo do mundo em matéria de produtos e serviços mas com um sorriso no rosto tudo estará ficando bem, como diz no manual.

Pois o dentista ou o mecânico oferecerá um orçamento. Usará alguns termos técnicos, para impressionar, e falará nos custos com material. Como estamos na Paulicéia, é grande a chance de o mecânico ou dentista ser japonês. Ou nipo-descendente, para não ser preconceituoso. E é aí que mora o perigo: você acreditará na lenda da eficiência oriental e correrá o sério risco de apenas pagar alguns patacões a mais pelo serviço. Conserto de carro que resolve e obturação bem feita sempre será uma questão de sorte. Pague o que for, será puramente aleatório deixar o consultório ou a oficina mecânica com o problema resolvido.

Sempre haverá consultórios e oficinas mais baratos. Quase ao lado dos que cobram pela boa aparência. É melhor dispensar as perfumarias, tanto nas oficinas quanto nos consultórios. Já paguei consertos de carro mais caros acreditando num serviço mais bem feito: puro marketing. Não caio mais nessa. Não faço alinhamento de roda e digo para dispensarem a anestesia. Quem sabe fica um pouco mais barato.

-- Olha, eu não sei como eram as coisas aqui nesta casa antes que eu chegasse, mas agora eu estou aqui e ela é MINHA, então eu quero TODO MUNDO que apareceu, e veio TODO MUNDO MESMO, FORA DAQUI.

-- Hahahahaha.

-- Qual é a graça, VADIA?

Este diálogo não ocorreu em lugar algum. Trata-se de uma rara lembrança de um sonho que tive nesta manhã, criação cerebral de uma também rara verossimilhança.

Este diálogo marca o momento em que eu passo de uma situação de enquadramento forçado no grupo de jovens que toma a casa para a completa exclusão. Ninguém entende o que eu vejo de tão errado na bagunça barulhenta, risonha e perdulária que estão fazendo. A partir disso começam os atos de repúdio, pequenas desfeitas que acabam me fazendo entender que na verdade a casa não é minha, que a bagunça estava lá muito antes e que o melhor que posso fazer é de fato me excluir e me retirar daquele ambiente.

Foi uma experiência que me permitiu entender ao mesmo tempo:

1) o drama dos que oferecem suas casas para uma reunião pacífica de amigos e são obrigados a testemunhar o desrespeito alheio pela sua propriedade tão generosamente oferecida para o lazer coletivo;

2) a covardia do dito "você pode mudar o mundo inteiro mudando a si mesmo". Não, é impossível mudar o mundo e ele está errado demais para que simplesmente aceitemos e nos moldemos de acordo com seu absurdo.

Em um outdoor da Avenida Vergueiro, região da Vila Mariana:

ACREDITO EM DEUS E
NA JUSTIÇA BRASILEIRA

Impossível saber se se trata da mais fina ironia ou de mais uma manifestação de ingenuidade, bem como determinar qual das duas entidades será a mais imaterial.