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DEPOIS DE DOIS ANOS, TEATRO DE NOVO
Não sou muito fã de teatro, me falta o costume e os milhões que o teatro de qualidade custa, mas quando vou é sempre pra ver algo muito bom.
A imagem acima se refere à montagem brasileira da peça do argentino Jordi Galcerán, que ilustra ficcionalmente um processo seletivo com uma dinâmica de grupo SATÂNICA que dizem ser real. Como se vê, não é exatamente um mote fascinante e o desenlace também não é dos melhores, mas quem já participou de uma dinâmica de grupo sabe a humilhação e o sentimento de inferioridade que acarreta a situação. É sempre o mais imbecil que vence, sobressaindo-se sobre os outros com atitudes quase nunca bonitas.
Este papel de 'candidato favorito' é desempenhado com maestria por Lázaro Ramos, o melhor ator de sua geração disparado. É um desestímulo para quem começa a atuar ver uma peça do baiano: é preciso ter consciência de que muito dificilmente tu vai chegar àquele nível de interpretação, àquela cara de menosprezo sem limites.
Outro destaque é Ângelo Paes Leme, muito bem (talvez bem demais) no papel de um homossexual. Taís Araújo estava gripada e infelizmente foi no sacrifício, sem nota para ela.
28/05/2007 14:56 | Comentários (1)CELA
André Dahmer teve o seu dia de humorista complexado e publicou uma espécie de Ópera Rock das tirinhas, botando todo mundo pra chorar. Andou lendo Huxley, aparentemente.
25/05/2007 00:37 | Comentários (1)BLOGS RELEVANTES DE VERDADE
Ao contrário do meu amigo dotô, não levo muito a sério esta coisa de blogosfera. No entanto, causa-me deleite descobrir um blog que realmente tem algo a nos dizer - ao contrário deste. Já figuraram em 'Ídolos de bigode' : Jerry Seinfeld , Cheech Marin, Valderrama, Olívio Dutra e Motumbo.
Obrigado por tanta informação relevante, rapazes. Keep going.
Via Liv.
24/05/2007 22:20 | Comentários (2)DISQUE BOA AÇÃO BOM DIA
Desde que fiz a asneira de permitir que meu nome conste na lista telefônica de São Paulo venho sendo alvo de uma prática tão odiosa quanto o puro e simples telemarketing (do qual também sou vítima): o achaque das linhas da caridade. Sempre quando ainda estou dormindo, liga alguma voz religiosa que do outro lado da linha cantarola algo como:
- BOM DIA! Tudo bem??? Graças a Deus, né??? Vamos estar hoje no seu bairro...
É neste graças a Deus que tá o gato. Quando ela menciona a palavra Deus, uma pessoa com seus traumas da educação religiosa já fica um pouco mais desconfortável para negacear, imediatamente imagina acima de si o Deus olhando tudo de cara feia tudo o que ele está fazendo e anotando para fazer a média final que levará às delícias de sua convivência ou à Geena do capeta. A coisa fica especialmente mais fácil se esta pessoa é um idoso, já se vendo aos portões do Forum do Juízo Final e dando graças a cada oportunidade que tem de angariar boas ações, numa espécie de depósito no fundo do Senhor, para resgate post-mortem.
É impressionante, dá tão certo que eu obviamente não cedi nenhum centavo, mas o lance todo me toca e me deixa com tanta raiva que cá estou postando sobre isso.
E não é que seja exatamente uma novidade a relação de religião com o achaque vil. A maior crise da Igreja foi ao vender indulgências, Lutero se revoltou, foi excomungado, protestou e hoje a Igreja Universal ameaça a galope virar a maior potência da comunicação brasileira, na primeira ameaça que a toda-poderosa sofre desde que a Manchete fecha as portas.
Não adianta.
A grande verdade é que seres humanos gostam de torrar uma graninha em bobagem, tanto melhor se é no Pic Vida Eterna. Especialmente velhinhas, ficam felicíssimas em dar sua contribuição e se sentir mais pertinho de Deus. É uma satisfação que nenhuma lucidez dá. E no final das contas, o que são uns trocadinhos? Nada na sua mão, caridade (ou enriquecimento gradual e sem escrúpulos, mas quem pode garantir?) na mão dos caridosos. Só sei que daqui deste bolso, por via das dúvidas, não sai nada.
23/05/2007 12:42 | Comentários (4)PROÍBAM AGORA O SPRITE TAMBÉM
Da Folha:
Decreto de Lula endurece conceito de bebida alcoólica
Presidente deve assinar amanhã texto que inclui cerveja, "cooler" e
"ices" na classificação; objetivo é reduzir "consumo indevido'
Na boa, se alguém acha que tem álcool em algum Ice é melhor evitar qualquer outro fizzy drink, porque realmente precisa se cuidar.
22/05/2007 11:33 | Comentários (6)TRÊS VÍDEOS PARA FODER A VIDA
O primeiro traz uma espécie de dança do acasalamento de algum espécime do sul do Brasil numa tentativa de conquistar a fêmea do grupo. Serviu como prova num simpósio internacional de que o australophitecus baladensis portoalegrensis está posicionado abaixo do babuíno na escala evolutiva.
O segundo vídeo se relaciona ao primeiro. Trata-se de uma fêmea do australophitecus baladensis, mas seus exemplares são mais encontrados a Nordeste do país. O que mais chama a atenção é que ela tenta imitar os sons do ruído gutural que o hominídeo do sul faz, mas não consegue e acaba por reproduzir os sons próprios dos espécimes de sua região, a Balada Paulista. Outro exemplar de sua espécie, batizado de Richthofen, chocou especialistas ao se unir a machos de sua espécie para matar os pais.
Por fim, para amenizar um pouco as chocantes cenas recém vistas, um flagrante um pouco mais ameno de uma variedade primata já evoluída para o gênero homo que habita o Japão.
21/05/2007 14:35 | Comentários (3)BRASIL É A CLASSE MÉDIA
O Brasil não é apenas medíocre por estar entre o totalmente horrível e o mais ou menos, por inexpressividade, por falta de originalidade, por incapacidade de atingir seus objetivos apesar do potencial, pela preguiça.
O Brasil também é medíocre por estar no meio do caminho entre os ricos e o pobres. Por receber os amigos ricos de braços abertos e ser esnobado por eles, almoçar com os poderosos e ter a roupa puída comentada, por tomar cerveja no bar dos pobres e também ser olhado de canto por eles, por ser aos olhos deles rico porque são pobres demais para entender que rico é muito mais rico do que isso - por ser a classe média dos países, feito de gato e sapato tanto por ricos como pelos pobres.
O Brasil é que nem o empregado de escritório que leva no rabo do patrão no trabalho e é assaltado no sinal a caminho de casa. Coitado do Brasil, ele é que nem a gente.
20/05/2007 16:42 | Comentários (4)26 > 20
Depois de pensar dias sobre o assunto, a comparação com os tempos de faculdade voltou a me fazer sorrir. Por pior e por mais dura que a vida pareça estar, a lembrança dos tempos de graduação combinada com estágio, nos quais os dias se preenchiam com trabalho igual ao de qualquer ser humano graduado (ainda que matado), mais aula (na maioria das vezes, assinar a chamada e se mandar, mas não se pode esquecer do deslocamento), e uma ceva desesperada no bar mais barato possível porque a falta de recursos é constante, e não se deseja voltar para casa antes que esteja todo mundo dormindo só pra ser chamado de vagabundo, força à conclusão: a situação evoluiu. 26 é melhor que 20.
20/05/2007 16:17 | Comentários (3)PAPA
Desde que se mencionou pela primeira vez o nome do Cardeal Ratzinger como provável novo líder máximo da igreja, sua imagem me inspirou qualquer coisa, menos a ternura de uma imagem paternal digna de Papa. Pode ser o costume de ver a vida toda um Papa tão melhor, que parecia tão eterno até as agonias finais, tão bondoso, quase feminino - uma vovó Papa. A vovó cheirosinha, aquela que tu gostava que te pegasse no colo.
O Cardeal Ratzinger, agora Bento XVI, também tem uma imagem feminina. Mas é da vovó fedorenta, com mau hálito, aquela que sacaneou alguém que tu gostava na família e ainda por cima cozinha mal. Tu odiava ir na casa dela, odiava que ela desse beijo no teu rosto arranhando com suas pontas de pêlo. Esta é a imagem do novo papa para mim, este homem que está há 48 horas sem parar no noticiário. Qualquer coisa, menos bondade. Qualquer coisa, menos carisma. Vovó feia.
10/05/2007 15:11 | Comentários (10)BOLÃO
Também me parece que a palavra mais grosseira, a carta mais grosseira, ainda é mais bondosa, mais honesta do que o silêncio. Àqueles que silenciam quase sempre lhes falta algo em fineza e polidez de coração; silenciar é uma objeção; engolir sapos faz, irremediavelmente, um mau caráter – e inclusive estraga o estômago... Todos aqueles que silenciam são dispépticos. – Vede bem, eu não pretendo ver a grosseria sendo desprezada, ela é, de longe, a forma mais humana da objeção e, em meio à suavização moderna, uma de nossas maiores virtudes. Se a gente é rico o suficiente, é até mesmo uma ventura não ter razão. Um deus, que viesse à terra, por certo não haveria de fazer nada a não ser injustiças – tomar não o castigo, mas a culpa sobre as costas, isso é que seria divino.
Quem acertar de quem é a citação ganha uma deferência efêmera. Tá fácil.
09/05/2007 14:52 | Comentários (8)ÚNICA TENDÊNCIA MUNDIAL
Poucas vezes fiquei tão curioso por um livro . Nenhuma chance de ser ruim.
07/05/2007 12:28 | Comentários (7)SOBRE MARGINAIS, MILIONÁRIOS E SALTITANTES
Meu pai costumava usar o adjetivo "saltitante" para troçar intimamente de um chefe do meu tempo de escoteiro, uma forma de denegrir tanto sua suposta homossexualidade (lendária) quanto uma alegria e empolgação constante e extremamente afetada (factual). Não imagino adjetivo melhor para a instituição do tricolor paulista - não falo apenas de um aspecto particular, falo de uma acepção global do que simboliza o São Paulo. Seu hino, os gritos de torcida, a própria atitude da torcida, o time, as instalações do estádio, a localização do estádio, a história, o apadrinhamento cego por parte dos meios de comunicação locais. Nunca um apelido zombeteiro foi tão apropriado. Bambi.
Antes de chegar a este resumo emblemático de tudo o que foi visto, cabe uma contextualização. Algumas semanas atrás a Carol descobriu que existe uma parte reservada da Bambineira para um banco patrocinador do clube. Como imensa parte do estádio, o espaço deste banco também costuma ser desperdiçado, ficando vazio. Mesmo que não envolvesse nenhuma de nossas equipes do coração, a primeira partida desta fase quente da Libertadores pareceu uma boa desculpa para tentear usufruir da mamata, coisa que se conseguiu sem maior dificuldade. "Que se quebren los dos." Munidos dos dois ingressos, acabamos rumando de carro ao Morumbi, o que se revelou um erro fatal.
Já na região da Vila Olímpia, o engarrafamento do jogo já se somava ao natural movimento pesado da cidade, que se dilata diariamente na hora do rush. A inércia do trânsito é atroz. Chegando nas cercanias do estádio, a adversidade é dos guardadores de carro, que não demorarão muito a abrir o trinco dos carros e nos arrancar para fora, num gesto que talvez entendam como cordial. Recusando espaços, oferecidos por quantias de R$ 20 e R$ 30, quase atropelando alguns seres com atitudes simiescas (e com muita vontade de ir às vias de fato), acabamos no meio da multidão de torcedores nos acessos do estádio. Dentro do carro fechado.
Estou para ter um ataque histérico,garante Carol, enquanto o veículo se desloca muito lentamente em meio à turba. É estranho pensar que estamos num dos metros quadrados mais caros da capital. Detalhe importante é que o carro vem falhando e precisa de uma troca de peça, numa estranha rotação irregular, o que tornava a experiência tanto mais intensa. Finalmente, um estacionamento ao lado da arena parece oferecer uma salvação. O preço é inimagináveis R$ 25, mas a lei da oferta e da procura já tinha feito sua mágica. Uma pechincha. O carro não é capaz de subir a ladeira do estacionamento. Precisa ser empurrado para cima por alguns dos "funcionários" do parking lot. Nada mais justo.
As acomodações pertencentes à instituição financeira não impressionam. Lembram muito uma arquibancada comum, mas com um serviço de open bar com sanduíches finos e refrigerantes. Álcool nem pensar. Descubro um pouco mais adiante a VERDADEIRA área VIP, mas nesta tenho acesso negado. Nenhuma surpresa.
Não creio que tenha muito mais a acrescentar à crônica de um jogo que teve televisionamento em rede nacional. O que a saltitante televisão talvez não tenha mostrado é que, enquanto Rogério Ceni batia suas faltas na barreira ou por cima do travessão, o número 5 Miranda obedientemente ocupava a meta. Uma imagem emblemática do ridículo, consagrada com o único gol da partida sendo anotado pelo próprio.
Sobre a torcida, é preciso dizer que possui o velho vício brasileiro de se manifestar apenas quando o time está no começo da armação de alguma jogada de ataque, ou acabou de concluir com perigo. É o oportunismo repugnante de um torcedor que desconhece o sentido verdadeiro do apoio incondicional que deve dar. É um oposto em que temos do outro lado a hinchada argentina, com seu exemplo de postura - ainda que um tanto afrescalhadamente espartano (faz parte).
A torcida sãopaulina atingiu seu ápice de empolgação na noite desta quarta ao mandar o Grêmio tomar no cu. E chegar ao pico da animação com o nome do adversário na boca denuncia muito sobre a mentalidade de uma multidão. Quando consegue se focar no próprio time, declama o VAMU SÃO PAULO, VAMU SÊ CAMPEÃO, sem dúvida a pior manifestação de massa que o mundo já produziu. É um grito de torcida que saltita, alegre, bobalhão, completamente equivocado.
Falo isso sem rancor, sem nenhuma sombra de mágoa, já que no ano passado meu time se sagrou campeão da América naquele mesmo lugar e com muitos daqueles mesmos seres lamentáveis presentes. Mas com a imensa maioria vendo de suas poltronas, pela Globo. Desejo uma grave e interminável crise financeira no clube para o próprio bem do São Paulo. Só com muitos anos na fila e pelo menos uma passagem pela Série B é que talvez aprendam o que é torcer.
No mais, a vaga para mim está tão aberta quanto antes. Seja quem for que passar, conta igualmente com minha antipatia.
A saída teve o indefectível problema do amontoamento de carros estacionados bloqueando o teu. Se você, portoalegrense, acha que é no Olímpico ou no Beira Rio que esta desgraça encontra seu ápice, think again.
03/05/2007 01:25 | Comentários (17)AOS QUE MEXEM NA CLOACA
É comum ouvir e eu mesmo já pronunciei aquela famigerada frase mais ou menos nos termos: "se tu não gosta de política e não participa há quem se ocupe por ti", com variações para o lado de "não venha reclamar depois". É uma perfeita verdade. Mas também é verdade que "fazer" política, como se diz, é tão repugnante quanto mexer na fossa de um enorme condomínio, se tu for um cara com algum escrúpulo e o que se convencionou chamar de "alma". Mesmo quem está anos no negócio custa a se acostumar e saber a medida entre os extremos, domina a arte malandra de saracutear entre a sacanagem dos conchavos e a exposição imaculada na mídia, para ficar com os exemplos mais óbvios.
Para um cara que tenha seus escrúpulos, suas timidezes e que pode muito bem vencer em qualquer outra área é bem melhor consentir com o roubo praticado por quem mexe na cloaca. Exatamente como num condomínio: é mais ou menos óbvio que não haveria nenhuma necessidade de tu contribuir com 250 mangos todos os meses se há 8 apartamentos por andar, 16 andares cada prédio, dois prédios no condomínio. As contas estão obviamente puxadas para o alto, ou os serviços são simplesmente esbanjados, ou quem paga em dia arca com o peso dos inadimplentes. Alguma justificativa há que existir para que uma cobrança de 250 mangos seja mensalmente sacada de 8 apartamentos em 16 andares de dois prédios (pelas contas, receita mensal de 65 mil e uns quebrados).
Mas aí que está: se tu tem um mínimo de amor próprio, tu vai pagar no máximo resmungando contra o caixa automático. No dia seguinte, abanará ao porteiro, ao jardineiro, ao eletricista, à administradora, abanará até para as crianças que te arrumaram um bem-humorado apelido. Porque esta é a única espécie de atuação pública que tu deseja ter no condomínio. Os 250 mensais são para não precisar comparecer às reuniões, não apurar quanto realmente se gasta em água, em luz ou manutenção dos elevadores. Não fazer nenhum protesto desgastante que, aliás, provavelmente seria recebido com descaso e ironia. A síndica e os contadores, os administradores em geral, que sejam muito felizes com seus superfaturamentos.
O Brasil e todos os outros países civilizados são precisamente assim: imensos condomínios com síndicos e contadores que cobram sua parte por mexer na fossa do prédio. Existem condomínios melhores, condomínios mais funcionais, melhores localizados, com mais áreas de lazer, mais bem servidos de serviçais. Estes são alguns países mais civilizados, dizem que cobram uma enorme taxa em impostos mas não sabemos muito bem: só sabemos do nosso condomínio vagabundo, com as áreas de lazer todas ocupadas por gente meio suja. Em todos, entretanto, uma única invariável: melhor pagar e calar do que enfiar as mãos na cloaca.
02/05/2007 03:40 | Comentários (3)