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julho 19, 2005

Círculo do vício

Falar mal do futebol carioca virou uma mania nacional. Que isso aconteça nas transmissões de jogos ou programas esportivos, tudo bem, é normal. Mas hoje, quando uma criança aprende a gostar de futebol, a primeira coisa que ela argumenta não é que seu time é o melhor, que aquele jogador é bom. A primeira coisa que ela diz é: só podia ser no Rio.

E não há como recriminar o pobre infante. Não faz parte da sua vida e do seu imaginário futebolístico que um dia existiu o Zico – aquele que nunca fez nada pela seleção brasileira – ou Roberto Dinamite. Garrincha é somente um vulto transmitido em preto e branco no Esporte Espetacular. Pó-de-arroz é apenas aquilo que a mãe passa na cara quando vai sair. O futebol carioca, definitivamente, não é mais digno de seu passado.

A desorganização de décadas está apresentando agora seus frutos. O último campeão brasileiro da Guanabara foi o Botafogo, em 1995. O Vasco representou o suspiro de morte dos clubes cariocas ao ganhar a Libertadores de 1998 e os nacionais de 1997 e 2000. Para isso, afundou-se em dívidas, desprezou qualquer organização e planejamento para os anos posteriores. Olhe a escalação cruz-maltina de hoje. Olhe e chore: Elinton, Wagner Diniz, Ciro, Éder, Diego, Ygor, Felipe Alves, Róbson Luiz, Morais, Alex Dias e Romário.

A listagem completa dos fatos que demonstram a ruína total necessitaria de um compêndio e dedicação integral de alguém com estômago forte. Mas faço questão de citar algumas dessas ocorrências. No último jogo do Vasco em São Januário, enquanto o Inter enfiava quatro e a torcida mandava Eurico Miranda às favas, Romário, o craque do time, estava em um festival de hip hop. O mesmo jogador que, dias depois, comandou um coletivo sob o olhar pasmo do pobre coitado do técnico. E que é responsável pelo vínculo de vários jogadores do elenco.

Esses tempos, o Flamengo estava disputando uma vaga nos pênaltis com o Santos, pela Sul-Americana. Até eu, que não tenho nada a ver com nenhum dos dois clubes, estava tenso. Esse não era o caso de Júnior Baiano, flagrado pelas câmeras de TV abraçado com um jogador palmeirense às gargalhadas. Fluminense e Botafogo andaram freqüentando convictamente a segunda divisão. Os tricolores até na terceira estiveram.

Agora pense num pequeno torcedor do Flamengo que vai ao estádio (se achar um no estado) ver um clássico contra os tricolores. Comandando a equipe das Laranjeiras está Abel Braga. Então a inocente criança vira para o pai e pegunta: aquele ali não era o nosso técnico até ontem. Sim, era, responde o pai, cabisbaixo. Esse é um dos motivos mais emblemáticos do extermínio do futebol carioca: o vício dos profissionais. Jogadores e técnicos que desembarcam no Rio, passan a vida inteira lá, pulando de clube em clube até encerrarem a carreira no América. Não consigo ver seriedade nisso.

Só mesmo uma conjunção absurda de fatos como essa pode permitir que monstrengos como Eurico Miranda continuem atuando (se eu for assassinado a partir de hoje, deixo aqui a prova cabal do mandante). Sem patrimônio, sem dinheiro, sem crédito. Motivo de piada em todo o país. Triste, muito triste para todos que, como eu, cresceram vendo os clássicos entre os quatro grandes serem disputados com estádio lotado. Lamento, mas acho que compor um réquiem se faz necessário. No pandeiro, claro. (DC)

Publicado em julho 19, 2005 1:50 PM

Comentários

o flamengo é aquele que troca adriano e reinaldo e mais dois milhões pelo vampeta. E que contrata o romário duas vezes num mesmo ano.

Publicado por: michel em julho 19, 2005 2:40 PM

Dixcorjdo.
Pra ruína total, o requiem deve ter ritmo de funk pancadão.

Publicado por: Vitor VEC em julho 21, 2005 2:49 AM

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