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outubro 19, 2005

Quando o Brasil perdia e apelava

"Brasil e Hungria entraram em campo no estádio de Berna naquele dia 27 de junho de 1954 e, segundo todos os relatos, o Brasil tremeu. Não adiantaram o beijo na bandeira, os mortos de Pistóia e o apelo a um milagre. Os dirigentes haviam conseguido reduzir a zero o moral dos jogadores.Como de hábito, os húngaros fizeram 2 x 0 em sete minutos - e olhe que estavam sem Puskas, machucado. Alguns jogadores brasileiros mal conseguiam ficar em pé - suas pernas tremiam como se eles estivessem dançando charleston.

A única maneira de parar os húngaros era aos pontapés. Estes aceitaram as provocações. E o jogo, que poderia ter ficado para a eternidade do futebol, transformou-se numa batalha de botinadas e pescoções, com a bola relegada a terceiro plano. O juiz inglês Arthur Ellis marcou um pênalti contra cada um e expulsou Nílton Santos e Humberto, pelo Brasil, e Boszick, pela Hungria. A Hungria venceu merecidamento por 4 x 2 e, assim que a partida terminou, o arranca-rabo recomeçou nos vestiários.

Quando os jogadores dos dois países iam entrando juntos, Czibor estendeu a mão para Maurinho, que atuara na ponta esquerda. Maurinho aceitou o cumprimentoe Czibor retirou a mão. Maurinho deu-lhe um sopapo na barriga e os húngaros partiram sobre ele. Zezé Moreira afastou seu jogador do bolo, mas os húngaros pronunciaram seu nome - "Moreira!" - e cuspiram no ladrilho. Zezé estava com uma chuteira de Didi na mão. Atirou-a contra os inimigos e acertou no rosto do vice-ministro de Esportes da Hungria, Gustav Sebes. A trava de madeira fez um talho no rosto de Sebes e o sangue do vice-ministro esguichou. Em represália, Puskas deu uma garrafada na testa do zagueiro Pinheiro. Todo mundo entrou na briga. A polícia suíça interveio e o jornalista Paulo Planet Buarque deu uma rasteira num policial, que se estabacou. O árbitro Mário Vianna, que apitara um dos jogos da Copa foi ao mivrofone de uma rádio brasileira e acusou o juiz Ellis de fazer parte de um complô comunista para classificar a Hungria. Gritava tanto que podia ser uvido fora do estádio. Para oficializar o vexame João Lyra Filho protextou por escrito à FIFA, acusando a arbitragem de estar a soldo do Kremlin."

Trecho do livro Estrela solitária - um brasileiro chamado Garrincha, de Ruy Castro. Companhia das Letras, 1995.

Em 1954, a seleção brasileira era acusada de amarelar em Copa do Mundo e até em competições da América do Sul. Podemos dizer que era como a Holanda e a Espanha são hoje. Muito desse descrédito, obviamente, está ligado ao Maracanazo de 1950, diante da Celeste.

Nessa partida contra a Hungria, os jogadores já estavam derrotados no vestiário, depois que o Chefe da Delegação, João Lyra Filho, comparou-os aos pracinhas brasileiros mortos na guerra, numa mui amiga tentativa de motivá-los. Os brasileiros não bateram nos húngaros por serem bravos, bateram porque estavam apavorados. Enquanto isso, Garrincha estava pescando em Pau Grande, tomando cachaça com groselha.

Saudações,
Douglas Ceconello

Publicado em outubro 19, 2005 4:08 PM

Comentários

Um e outro entre os milagres de Berna!!!

Publicado por: Menezes em outubro 19, 2005 4:40 PM

aliás, Czibor é nome de uma das personagens de Manfred. A tira feita no Brasil, sucesso na Eslovênia com nomes de Hungaros.

Publicado por: Menezes em outubro 19, 2005 4:44 PM

A lenda folclórica que tenho a contar deste feito:

Meu pai tinha 10 anos em 54 e preferiu assistir a uma matinê com Oscarito e Grande Otelo num dos muitos 'cinemas de bairro' da época em vez de ficar preso às ondas curtas da Rádio Nacional do Rio.

Apesar de divertir-se bastantes com a ação na tela, não deixou de reparar nos 4 foguetaços que ouviu enquanto era no cinema.

Na saída do filme, acreditava que 4 gols 'poderiam ter sido marcados' pelo Brasil e que 'poderiam estar sendo' suficientes para derrotar a Hungria.

No caminho de volta pra casa, a verdade; ele descobriu que não era lorota que havia um húngaro morando entre a Glória e a Medianeira.

Saúdos,

Publicado por: Vitor VEC em outubro 20, 2005 7:51 AM

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