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Também em um dia 29 de junho, mas há 48 anos, o Brasil conquistava seu primeiro título mundial. Na Suécia, acabou o estigma de tragédias em Copas que perseguia os brasileiros desde 1950.
A avaliação psicotécnica dizia que Garrincha era débil mental e que Pelé fugia das responsabilidades por ser muito jovem. Mas depois dos primeiros jogos e das dificuldades enfrentadas, a dupla entrou para jogar contra a União Soviética, a pedido dos líderes do time. Quem viu, diz que os minutos iniciais daquele jogo foram os maiores da história do futebol:
"Monsieur Guigue, gendarme nas horas vagas, ordena o começo da partida. Didi centra rápido para a direita: 15 segundos de jogo. Garrincha escora a bola com o peito do pé: 20 segundos. Kuznetzov parte sobre ele. Garrincha faz que vai para a esquerda, não vai, sai pela direita. Kuznetzov cai e fica sendo o primeiro João da Copa do Mundo: 25 segundos. Garrincha dá outro drible em Kuznetzov: 27 segundos. Mais outro: 30 segundos. Outro. Todo o estádio levanta-se. Kuznetzov está sentado, espantado: 32 segundos.
'Garrincha parte para a linha de fundo. Kuznetzov arremete outra vez, agora ajudado por Voinov e Krijveski: 34 segundos. Garrincha faz assim com a perna. Puxa a bola para cá, para lá e sai de novo pela direita. Os três russos estão esparramados pelo chão, Voinov com o assento empinado para o céu. O estádio estoura de riso: 38 segundos. Garrincha chuta violentamente, cruzado, sem ângulo. A bola explode no poste esquerdo da baliza de Yashin e sai pela linha de fundo: 40 segundos. A platéia delira. Garrincha volta para o meio do campo, sempre desengonçado. Agora é aplaudido.'
'A torcida fica de pé outra vez. Garrincha avança com a bola. João Kuznetzov cai novamente. Didi pede a bola: 45 segundos. Chuta de curva, com a parte de dentro do pé. A bola faz a volta ao lado de Igor Netto e cai nos pés de Pelé. Pelé dá a Vavá: 48 segundos. Vavá a Didi, a Garrincha, outra vez a Pelé, Pelé chuta, a bola bate no travessão e sobe: 55 segundos. O ritmo do time é aluciante. É a cadência de Garrincha. Yashin tem a camisa empapada de suor, como se já jogasse há várias horas. A avalanche continua. Segundo após segundo, Garrincha dizima os russos. A histeria domina o estádio. E a explosão vem com o gol de Vavá, exatamente aos três minutos.'
Foi assim que o repórter Ney Bianchi reproduziu em Manchete Esportiva aquele começo de jogo, como se tivesse um olho na bola e outro no cronômetro. Mas não estava longe da verdade. Outro jornalista, Gabriel Hannot, diria que aquele foram os maiores três minutos da história do futebol - e, com mais de setenta anos, ele fora testemunha ocular dessa história. A avalancha fora tão impressionante que, assim que se viu vazado, Yashin cumprimentou o primeiro brasileiro que lhe passou por perto - por acaso, Pelé."
Trecho do livro Estrela solitária - um brasileiro chamado Garrincha, de Ruy Castro. Companhia das Letras, 1995.
Esse texto já foi reproduzido aqui há uns meses, mas é tão genial que postarei sempre, de tempos em tempos.
Cabe ressaltar que os soviéticos formavam uma das equipes mais temidas do mundo. Com seu futebol eficiente, conquistariam a Europa em 1960. Na final, o Brasil goleou a Suécia com os mesmos 5 a 2 que havia imposto na semifinal contra a França de Fontaine e Kopa.
Campanha
Primeira Fase
Brasil 3 x 0 Áustria
Brasil 0 x 0 Inglaterra
Brasil 2 x 0 URSS
Quartas
Brasil 1 x 0 País de Gales
Semifinal
Brasil 5 x 2 França
Final
Brasil 5 x 2 Suécia
Brasil: Gilmar ; D.Santos, N.Santos, Zito; Bellini, Orlando; Garrincha,
Didi, Vavá, Pelé e Zagalo.
Suécia: Svensson; Bergmark, Axbom, Börjesson; Gustavsson, Parling; Hamrin,
Gren, Simonsson, Liedholm e Skoglund.
Saudações,
Douglas Ceconello.
E foi dai que surgiu a velha tradução da camisa soviética CCCP = "Camaradas Cuidado Com Pelé"
Publicado por: Fabricio Grzelak em junho 29, 2006 5:59 PM