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outubro 19, 2006

Trava de metal

Uma recente discussão nos comentários me proporcionou lágrimas de euforia ao perceber que o carrinho é o último bastião do futebol verdadeiro, resistindo bravamente à pasteurização do esporte.

O debate foi levantado graças à entrada de Antônio Carlos sobre Aloísio, que resultou em cartão vermelho para o juventudista. Alguns consideraram a expulsão merecida, outros - entre os quais eu - suspeitam que nem falta houve.

Depois da instituição do famigerado fair-play, da punição a supostas simulações de falta e da repetição de cobranças de pênaltis, eu acreditava que o carrinho estava conmdenado ao fogo dos infernos pela arbitragem.

E assim foi durante um tempo, quando, atendendo a recomendação das comissões de arbitragem, os juízes imaginaram que poderiam controlar a fúria dos defensores. Admito que agora já vemos aplicações diretas de cartão vermelho para alguns carrinhos violentos, mas o último recurso dos zagueiros parece estar longe da extinção. E realmente não sei até onde isso é uma constatação ou um desejo do cronista.

Fato é que a maioria dos carrinhos não faz mal nenhum ao atacante. Numa clara demonstração da eficácia da seleção natural, há no mínimo quatro décadas os jogadores já aprenderam a pular. Atacante que não sabe pular, não merece nem se fardar. Quantos "craques" perdemos por carrinhos sofridos? Muito poucos, meus caros. Uma quantia irrisória, bem menor que os fatores "trago", "mulher" e "azar". Zico deveria agradecer a Marcio Nunes. Se não tivesse sua carreira abreviada, acabaria como um qualquer.

Tenho sincero respeito e admiração por defensores que sabem dar um carrinho perfeito. O meu preferido é aquele em que o atacante escapa pela ponta e o zagueiro vem em disparda, numa trajetória perpendicular ao adversário, e entra com as duas pernas na bola, desviando-a para a lateral.

Ou então aquela tesoura por trás, apenas na bola, sucedida pela saída limpa do zagueiro para o jogo, cabeça alta e bola no pé. Minha curta carreira foi uma árdua tentativa de aperfeiçoar esse tipo de artifício e acho que fiu relativamente bem. É um dever moral de qualquer um que receba a camisa 3. Vibro quando vejo uma perfeita execução do carrinho, bem mais do que com dribles, confesso.

Hoje o carrinho é execrado pelos armandos noggueiras da vida, que não cansam de dizer como os defensores acabaram com a carreira de Garrincha. Mas, sinceramente, alguém gostaria de que o Garrincha tivesse feito mais do que fez? Para mim foi genial e era isso, não precisava continuar, parou de jogar até tarde demais.

(Por que esse tipo de gente não cita os dirigentes do Botafogo, alguns hoje tratados como grandes nomes da história do futebol carioca, que se mostraram muito mais danosos à vida de Garrincha do que os defensores?)

Quem nunca deu um carrinho perfeito, não sabe do que é feito o futebol. Quem quer a sua extinção, assina o óbito do esporte e não entende porque o balompié é tão diferente das outras práticas esportivas. Na minha pouco modesta opinião e concepção de futebol, acabar com esse artifício equivale a impedir o contato físico no futebol americano.

Ouso dizer que Impedimento apenas existirá enquanto os zagueiros deslizarem pelas canchas, levantando adversários no campo e torcidas nas arquibancadas. É um dos nossos objetivos, eternizar a imagem das travas à mostra.

E viva Aládio, zagueiro que passou por uns 50 clubes gaúchos e destacou-se no Santa Cruz.

Saindo de maca,
Douglas Ceconello.


Publicado em outubro 19, 2006 11:21 AM

Comentários

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Um adendo: junto a Aládio, mencione-se também SOLIS e NEURILENE, ambos com grande destaque nas canelas da dupla gre-nal e nos clubes do vale do Sinos. Suas carteiras de trabalho devem ser mais ou menos como o Guia Quatro Rodas.

Ah, uma pesquisa por Oswaldo Zubeldia urge!

Publicado por: Jeferson em outubro 19, 2006 11:53 AM

E a Loteca? Não é hoje o último dia?

Publicado por: Roger em outubro 19, 2006 12:52 PM

Bah, CHOREI agora.

Só quem usou uma camisa três na vida sabe do que se faz um jogo de futebol. Drible o cara pode fazer no circo, um defensor só aparece na cancha.

Não é por outra que eu homenageio os carrinhos no meu blog.

Publicado por: Francisco em outubro 19, 2006 1:09 PM

qualquer dia o zagueiro vai ter que pedir POR FAVOR pra roubar a bola.
quer moleza, senta no pudim.

Publicado por: zeh em outubro 19, 2006 1:26 PM

ESCALONA!

Publicado por: fino em outubro 19, 2006 2:23 PM

relembrando uma sugestão que encontrei aqui mesmo tempos atrás: jogafeio.blogspot.com

Publicado por: fino em outubro 19, 2006 2:26 PM

Sim, "joga feio" deve ser acompanhado com ardor por quem já se emocionou ao calçar a famosa chuteira com as seis travas de metal (meu maior sonho de consumo até os 15 anos, antes de começar a olhar com mais atenção para as garrafas de tequila).

Francisco, excelente o teu blog. Muito bons textos. Acompanharei.

Ademais, a principal influência para a formação do meu (mau-) caráter foi um tal de AGUIRREGARAY, lá pela finaleira dos anos 1980. Sem dúvidas, houve outros muito superiores no Beira-Rio, mas as impressões são melhores e mais bonitas quando se é um INFANTE.

:~~

Publicado por: Douglas Ceconello em outubro 19, 2006 2:39 PM

Mauro Galvão, Adilson, Célio Silva! Que coisa!

Publicado por: Marco em outubro 19, 2006 3:21 PM

Cada vez mais entendo porque o pessoal de São Paulo (a cidade) chamam os torcedores do São Paulo (o clube) de bambis.
Não lembro de ter visto tamanha bichisse nem quando o Corinthians roubou a taça no ano passado.

Publicado por: Lucas C. em outubro 19, 2006 4:04 PM

Rivarola e suas chuteiras PATRICK.

Publicado por: Bruno Galera em outubro 19, 2006 4:04 PM

Do jeito que os juizes estão apitando, devia valer carrinho neles, também.

O cara errou feio, zagueirão vai lá e pum, rapa o fulano de preto!

Se o Figueroa jogasse hoje, teria feito isso naquele Marcio Resende ano passado.

Publicado por: Maneco em outubro 20, 2006 11:57 AM

"Do jeito que os juizes estão apitando, devia valer carrinho neles, também."

asdhuuhasdhusa

ADORO os leitores de Impedimento.

Publicado por: Douglas Ceconello em outubro 20, 2006 12:03 PM

"Do jeito que os juizes estão apitando, devia valer carrinho neles, também.
O cara errou feio, zagueirão vai lá e pum, rapa o fulano de preto!"

Viu Náutico x Grêmio ano passado?

Publicado por: Cachopa em outubro 21, 2006 1:54 AM

Sempre com a boa e clássica camisa 3 nas costas "ensinando os atacantes a voar"...
Assim é o futebol...
Parabéns

Publicado por: Rudi em novembro 1, 2006 6:50 PM

Jeferson! Passeando pela internet li teu comentario a meu respeito. Vale comentar que muitas coisas aprendi com o Solis no Novo Hamburgo,inclusive o carrinho bem dado sem machucar ninguem, e por sua vez ensinei o Aladio no Aimore. Na nossa época jogavamos um futebol mais competitivo, com mais amor a camiseta. Falando sobre o carrinho, gostava de dar lateralmente buscando a bola sem encostar no adversário. Ha eu jogava com chuteiras de seis travas de aluminio. Abraço.

Publicado por: Neurilene krai em março 29, 2008 2:54 PM

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