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novembro 16, 2006

Eleições no Vasco

É incompreensível para qualquer torcedor de outro time, qualquer torcedor razoável, mesmo pessoas que apenas tenham alguma noção futebolística ou ainda uma mera, remota, digamos, uma tênue decência que Eurico Miranda ainda seja presidente de um clube da primeira divisão. Mas ele continuará à frente do Vasco. Nesta segunda-feira, com 1.848 votos, os sócios do clube sacramentaram novo mandato, que vai durar até 2009.

Mais incompreensível se torna entender a relação entre Eurico e Vasco quando se vê o derrotado. Roberto Dinamite, maior ídolo da história do clube, perdeu a segunda eleição consecutiva para Eurico. Não bastasse o fracasso, torcedores aliados do presidente reeleito xingaram o ex-ídolo na votação. Treze anos desde o último jogo da carreira de Dinamite bastaram para que o esquecessem. Alguns, que gritavam seu nome com mais força do que os dos outros jogadores (sabíamos todos que os times do Vasco sempre eram ruins, mas nele, em Roberto, podíamos confiar), agora preferem aplaudir Eurico. Questão de gosto.

Mas o nefasto, a despeito de tudo, das mutretagens, tem vantagens que Roberto ainda não conseguiu – e talvez nunca consiga – superar. A força que sustenta Eurico é praticamente centenária dentro do Vasco. Faz parte das particularidades de um clube com raízes na colônia portuguesa. Há muito tempo os portugueses e seus descendentes são minoria entre a torcida, mas são também boa parte dos sócios beneméritos, com direito a voto. Algumas décadas atrás uma nova força política surgiu no clube com torcedores de fora da colônia, a qual Eurico representa. Nos anos 70 e 80 as duas forças se enfrentaram em eleições, mas há vinte e um anos ocorreu uma aliança. Eurico se tornou vice do presidente Antonio Soares Calçada, que na verdade não passou de uma rainha da Inglaterra, já que o outro mandava. Em 97, Eurico se tornou presidente de fato e desde então vem se reelegendo sem problemas.

A eleição também é influenciada pelo formato de votação, em que menos de quatro mil sócios puderam participar. É um colégio eleitoral elitista e dominado pelas forças mais tradicionais do clube.

Além do mais, há de se notar que, por baixo da arrogância, Eurico tem a mostrar um bom currículo como dirigente. Os últimos vinte anos são os mais vitoriosos da história do Vasco, que ganhou três títulos brasileiros, uma Libertadores, uma Mercosul e sete cariocas. Também passou pela vexatória façanha de perder duas finais de Mundial, o de verdade, em Tóquio, para o Real Madrid, e aquele outro, que não valeu, para o Corinthians. Mas no fim das contas representa mais ou menos a quantidade que havia vencido nos cinqüenta anos anteriores. Nos últimos anos o clube havia voltado à mediocridade, mas quase do nada Renato tirou da cartola um bom esquema de jogo e o Vasco, mesmo limitado para fazer frente ao São Paulo ou Inter, é, junto com o Grêmio, a boa surpresa do campeonato.

Essa deve ser a parte em que se lembra que ele também é o mal encarnado no futebol, manipulador de regulamentos, espertalhão, etc. Ok, é tudo isso. Só que toda a manipulação, esperteza, etc, foi feita a favor do Vasco. E, tão importante, ninguém rapinou o Vasco como fizeram com o Inter no Zveitão 2005. Além do mais, 99% das artimanhas dele seriam evitadas se os dirigentes se dessem ao trabalho de ler os regulamentos que aprovaram. Ele se dá.


Alexandre Rodrigues

Publicado em novembro 16, 2006 1:19 AM

Comentários

BOM texto. Fica mais bonito ainda vindo te um vascaino.

Publicado por: Menezes em novembro 16, 2006 3:38 AM

"(...)perder duas finais de Mundial, o de verdade, em Tóquio, para o Real Madrid, e aquele outro, que não valeu, para o Corinthians."

Aposto que se o Vasco tivesse ganhado, aí o outro valeria, correto? ;-)

Publicado por: Otávio Niewinski em novembro 16, 2006 11:19 AM

muito bom.

Publicado por: träsel em novembro 16, 2006 2:12 PM

Pra mim, se o vasco tivesse ganho teria uma pontinha de validade, já que o vasco representava a AMÉRICA - como atual campeão da AMÉRICA, um dos CONTINENTES representados no mundial.

Já o Corinthians...

Bom, Você sabe né otávio. Nunca ganhou nada fora do Brasil.

Publicado por: Menezes em novembro 16, 2006 3:29 PM

O atual Campeão da América era o Palmeiras (1999), mas pelo o que eu lembro não foi convidado a participar do "Mundial".

Publicado por: Fábio em novembro 16, 2006 3:54 PM

Excelente texto, Alexandre. O ódio contra o Eurico Miranda acontece mais devido ao fato de ele ficar se pavoneando por aí com um charuto na mão.

Relamente, o Palmeiras era o campeão e ficou fora. Parece que a Fifa colocou o campeão do ano anterior e iria chamar o Palmeiras na próxima edição, que acabou não acontecendo. Entendo que esse torneio foi uma farsa e colocou mais uma mancha na já encardida história da Fifa.

Publicado por: Douglas Ceconello em novembro 16, 2006 7:14 PM

Acontece que para o Mundial, o Vasco era o atual mesmo.
A Conmebol, vai-se saber porque, indicou os cruz-maltinos para ser o representante da Sudamérica na competição. O Parmera ficaria na fila. Mofou!
Perguntem ao Nico Leoz.

Publicado por: Vitor VEC em novembro 17, 2006 12:21 AM

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