Comentários sarcásticos, crítica vitriólica e jornalismo a golpes de martelo por Marcelo Träsel


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viagem ao fim do estrato social

É grande a diferença entre o Zaffari - uma rede de supermercados escancaradamente classe A e B de Porto Alegre - e o Carrefour. A começar pela localização: enquanto Zaffaris se encontram apenas em bairros centrais e de alto IPTU, os dois Carrefours de Porto Alegre ficam ou perto de um morro, ou na entrada da Zona Norte - espécie terra de ninguém entre Porto Alegre e as periféricas Alvorada e Cachoeirinha.

Uma viagem ao Carrefour serve para o sujeito perder qualquer esperança na capacidade de mobilidade social da canaille trabalhadora. Para começo de conversa, é imundo. As paredes são imundas. O chão é coalhado de sacos de bolachas e latas de refrigerante abertas pelos clientes antes de chegar ao caixa. Diversos setores fedem a víveres lá derrubados há tempos. Até os clientes fedem, freqüentemente.

É barulhento. Alguns dos habitués deveriam ser enviados a cursos de reciclagem do Detran, pelo jeito que dirigem seus carrinhos. Os carrinhos, aliás, estão sempre precisando de geometria nas rodinhas.

As caixas do Carrefour são ignorantes e lerdas. Uma delas insistia em perguntar de que tipo eram as maçãs, as bananas e as uvas. Se bem que neste caso a culpa é mais da ignorância da gerência. Decidiram que os hortifrutigranjeiros devem ser pesados nos caixas. Esqueceram-se de que a maioria das caixas nunca teve aqueles produtos em suas mesas, muito menos em variedade de espécies. Dá pena das moças. Exceto que elas são mesmo burras, como evidencia o fato de não passarem mercadorias iguais em conjunto. Não seria um problema tão sério, se o leitor do código de barras não insistisse em falhar, obrigando a operadora a digitar os números.

É triste ver como as pessoas sem dinheiro são tratadas neste país. É mais triste ainda perceber que elas em geral se esforçam em piorar as coisas para si mesmas, sendo mal-educadas, dando encontrões, furando filas. Um imbecil chegou a esperar 15 minutos no caixa para conferir o preço de um produto, sendo que tudo já estava pago. Quando os outros clientes na fila ameaçaram enfiar o tal produto em seu aparelho digestivo, o sujeito decidiu ir embora sem ele.

O único obstáculo até a liberdade daquele local deprimente era um sujeito com um galão de 20 litros de água. Fácil. Aí ele começou a pagar carnês. Até a impressora dos caixas é lerda.

Se houvesse saído de lá no mesmo momento em que o sujeito segurava a fila esperando descobrir o preço de um produto e fosse ao Zaffari, teria perdido menos tempo. Ou seja, pobre neste país não perde apenas a dignidade. Perde muito mais tempo do que os outros.

E o Carrefour nem é tão barato assim.

15 de janeiro de 2005, 21:09 | Comentários (32)



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