Comentários sarcásticos, crítica vitriólica e jornalismo a golpes de martelo por Marcelo Träsel


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especial de páscoa ou análise do discurso aplicada à oração

Ó Fonte da Manifestação!
Pai-Mãe do Cosmo
Focaliza Tua Luz dentro de nós, tornando-a útil.
Estabelece Teu Reino de unidade agora.
Que Teu desejo uno atue com os nossos,
assim como em toda a luz e em todas as formas.
Dá-nos o que precisamos cada dia, em pão e percepção;
desfaz os laços dos erros que nos prendem,
assim como nós soltamos as amarras que mantemos da culpa dos outros.
Não deixe que coisas superficiais nos iludam.
Mas liberta-nos de tudo que nos aprisiona.
De ti nasce a vontade que tudo governa,
o poder e a força viva da ação,
a melodia que tudo embeleza
e de idade a idade tudo renova.

Este aí em cima é conhecido como Pai Nosso de Cristo. A versão seria da bíblia original em aramaico, utilizada ainda hoje por cristãos ortodoxos da Síria. Agora comparem esta versão com essa aqui:

Pai Nosso que estais no céu,
santificado seja o vosso nome,
vem a nós o vosso reino,
seja feita a vossa vontade
assim na terra como no céu.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje,
perdoai-nos as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido,
não nos deixei cair em tentação
mas livrai-nos do mal.

As diferenças sintetizam a distância entre as boas idéias contidas na essência do cristianismo e a religião em que a igreja católica apostólica romana transformou estes ensinamentos. É impossível não perceber, por exemplo, a burocratização do Pai Nosso em expressões como "reino", "santificado" ou, significativamente, "seja feita a vossa vontade". Denotam a estrutura de poder da igreja por trás das muitas traduções da bíblia.

Notem também a moralização do pensamento cristão, bem como o paternalismo contido em "o pão nosso de cada dia nos dai hoje" e "não nos deixei cair em tentaçãomas livrai-nos do mal", quando comparadas a "mas liberta-nos de tudo que nos aprisiona" ou "que Teu desejo uno atue com os nossos". O suposto Pai Nosso original põe a responsabilidade da ação sobre o fiel, bem como incita à liberdade − tudo, evidentemente, inspirado por Deus. O Pai Nosso oficial, por outro lado, põe a salvação nas mãos de um poder central.

Esta metáfora explica, possivelmente, muitos aspectos do avanço das religiões orientais como o budismo − em que pensar por si mesmo é mandamento − ou das evangélicas, que apelam muito mais à emoção, em oposição à burocracia litúrgica de Roma.

27 de março de 2005, 22:00 | Comentários (6)



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mãos de cavalo,
por daniel galera

 

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