Comentários sarcásticos, crítica vitriólica e jornalismo a golpes de martelo por Marcelo Träsel


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porto dos casais, a novela

Em uma entrevista no Debates TVE, o secretário estadual dos Transportes, Alexandre Postal, anunciou a retomada das obras de revitalização do cais do porto da capital gaúcha. Com um detalhe apavorante: Isaac Ainhorn, que em nome de interesses imobiliários acabou com o bairro Bom Fim e fez força para permitir a construção de prédios cada vez mais altos em cada vez mais regiões de Porto Alegre, faz parte da comissão responsável pelas obras.

A indicação ainda não foi anunciada pelo governador Germano Rigotto, mas o apresentador do programa, em um ato falho, revelou. Com a presença de Ainhorn, pode-se esperar alguns prédios horrendos em nome da funcionalidade comercial. Ainda mais que no projeto utilizado como base está previsto um hotel com cerca de dez andares. Deve ser para tapar a vista do rio.

Pode-se dizer o que quiser dos 16 anos de governo do PT na prefeitura, mas ao menos o partido se esforçava para impedir a avacalhação do patrimônio histórico. A seguir, os melhores momentos de uma entrevista sobre o assunto com o ex-secretário municipal de Planejamento, Carlos Vieira, que acabou não sendo publicada:

"Nos apresentaram para um relatório que causou espanto, porque reapresentava o projeto Porto dos Casais. Primeiro, porque foi alvo de disputa política. Segundo, porque tem várias características que conflituam com nossas diretrizes urbanísticas e culturais. Imagine o que isso geraria de conflitos, quando a comunidade percebesse que um prédio daquela altura seria construído na beira do rio. Um prédio deste tamanho também descaracterizaria completamente o patrimônio histórico da área, engoliria a Usina do Gasômetro, os armazéns e todo o porto, os imóveis culturais passam a ser secundários. Além disso, um hotel seria instalado ali, quando se sabe que a rede hoteleira de Porto Alegre está ociosa. Era um projeto turístico, com um grande hotel, um shopping e uma marina. Era um grande projeto de desenvolvimento na área do turismo. "

[...]

"O Dado Bier [que chegou a ter uma concessão da área de lazer no projeto de revitalização do porto, mas acabou perdendo] faz uma crítica muito grande ao tempo de demora, porque levou mais de dois para aprovar e ele tinha dez anos de concessão. Dissemos a ele que isso não era problema, prorrogar o contrato é passível pelas leis de licitação. Pode-se criticar a burocracia da prefeitura, mas neste caso acabou demorando porque tivemos algo inédito, um incêndio no objeto da licitação, que era o armazém das tesouras. Quando incendiou, houve todo um questionamento, não apenas nosso, mas dos outros concorrentes. Depois de muito debate, a Procuradoria Geral do Município chegou à conclusão de que não era preciso fazer outra licitação, mas a volumetria e a localização tinham de ser as mesmas do armazém das tesouras. Foi o que dissemos a ele. Não tendo mais o armazém das tesouras, tivemos todos os problemas de diretrizes ambientais e de patrimônio histórico, porque estava sendo proposta uma nova edificação. Uma licitação que era simples, de uma reforma em um galpão, passou a ser complexa, com todas as questões ambientais e urbanísticas. Mesmo com acompanhamento dos secretários, diretamente, levou algum tempo. Mas acabou aprovado. Foi aprovado e ele não quis construir, por uma avaliação do investimento dele mesmo. Em minha opinião, ele deve ter tido alguma razão econômica, não de tempo de contrato ou algo assim, até porque havíamos nos proposto a prorrogar."

Do outro lado do ringue, Eduardo Neves, um dos arquitetos responsáveis pelo projeto Porto dos Casais, ora retomado pelo governo do Estado e pela Prefeitura, em entrevista feita no ano passado, para a mesma matéria:

"O projeto a ser executado ali teria de ser atrativo à iniciativa privada. Neste ponto que o PT empaca. Eles acham que o projeto seria apenas para as classes A e B, que aquilo é uma área pública... coisas sem fundamento algum. Qualquer área portuária é pública, se tiver uma loja um pouquinho melhor, isso faz parte da cidade. A empresa que administrar o cais vai se preocupar com o público que quer atingir. Estando no centro, não há como separar o público. Vai ter de haver opções para todos os tipos de pessoas. Querendo ou não, é preciso trazer um público de poder aquisitivo para revitalizar uma área. Não adianta mudar mão de rua, colocar um canteirinho em uma rua que antes era movimentada. Isso não revitaliza. É preciso um projeto maior, uma atitude mais imperativa. Uma oportunidade que Porto Alegre está perdendo é este projeto. Havia cinco empresas interessadas no Porto dos Casais, que continuam interessadas. Mas a prefeitura continua empacando o negócio."

[...]

" A prefeitura acha que vai conseguir fazer algo ali através do Orçamento Participativo. Pelo amor de Deus, uma área nobre da cidade! Chega a soar como piada. Se não houver um projeto - que não precisa ser o nosso − mas um projeto de amarração, que trate a área como algo único. Não pegar cada armazém e colocar num uma escola de teatro, no outro, um museu de arte contemporânea, aqui, não sei o quê... porque aí cada um faz uma coisa e nada tem uma amarração, acaba ficando uma porcaria. Porto Alegre não merece isso."

[...]

"Os armazéns não tinham nenhum valor histórico, mas a Bienal [do Mercosul] soltou informações na mídia dizendo que havia, para não ter de pagar a destruição, que estava no acordo de cedência da prefeitura para o uso."

[...]

"O plano diretor na época do concurso não era o plano diretor de hoje. A área do concurso é funcional, e as áreas funcionais não são passíveis de todas as normatizações do plano diretor. As áreas especiais podem e devem ser discutidas com os órgãos envolvidos. Também, o projeto era um embrião, na verdade. Quando se faz um projeto, ele precisa sofrer alterações para ser implementado. É extremamente complexo, teríamos de detalhar muito melhor. Qualquer questão de altura seria totalmente revista. E foi. Quando o governo Britto tentou implementar, a prefeitura pediu que baixássemos a altura do hotel cinco estrelas e nós baixamos. Trocamos alguns prédios de lugar, como a OSPA, que virou um edifício de escritórios - para ficar mais afastada da Usina, porque achavam que as duas coisas iam competir, quando, na verdade, elas se somariam."

31 de março de 2005, 1:14 | Comentários (21)



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