Comentários sarcásticos, crítica vitriólica e jornalismo a golpes de martelo por Marcelo Träsel


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de bonner para homer

Deixando-se de lado o fait-divers irônico de que William Bonner se refere ao espectador presumido do Jornal Nacional como Homer, este artigo de um tal Laurindo Lalo Leal Filho, da ECA/USP, é de uma covardia sem tamanho. Reclama do jornalismo feito pelo JN, mas tem um dos piores vícios do jornalismo: tirar as coisas de contexto.

Se há uma crítica bem feita, é a de ninguém contestar as decisões editoriais de Bonner nas reuniões de pauta do telejornal. É papel de cada editor defender as idéias em que confiam até a morte. No fundo, a culpa da apatia é mais deles do que do chefe. No entanto, quando o doutor enxovalha Bonner por defenestrar uma pauta sobre a venda de combustíveis da Venezuela aos pobres dos EUA com a frase "o Homer não vai entender", está errado. Sobretudo porque compara esta pauta com a do juiz que mandou soltar criminosos condenados em Minas Gerais. Prova não ter jamais pisado em uma redação. Se pisou, não aprendeu nada.

As decisões no jornalismo são tomadas de forma automática na maioria das vezes. Pelo feeling, faro jornalístico ou como se queira chamar. É claro que esse automatismo na verdade é permeado de ideologia e preconceitos. Não apenas repórteres, mas todos nós decidimos as coisas assim, sem tomar consciência de todas as pré-concepções sobre o mundo que determinam nossas ações. A vida seria um inferno se fosse diferente. Seria desejável, claro, que o JN fizesse uma autocrítica e explicitasse sua posição política, para que a audiência pudesse interpretar melhor as informações. Mas isso não pode ser feito a cada reunião de pauta, ou nunca sairia telejornal no horário.

O mais grave é que o doutor parece querer simplesmente substituir uma ideologia de centro-direita por sua própria ideologia de esquerda. Não se poderia esperar outra coisa de um ex-secretário de Esportes de Luiza Erundina, imagina-se. É o tipo da atitude que faz com que as redações cada vez mais ignorem a academia. Esta, sim, é espaço de crítica constante — coisa que nem sempre a elite intelectual do país consegue, mas se acha no direito de cobrar dos pobres jornalistas, que já não podem dar conta de seu trabalho nem sem ter de se preocupar com questões ideológicas.

O que falta na verdade é uma Teoria da Preguiça, para explicar os erros típicos da má vontade, incompetência ou simples cansaço dos repórteres. Nem sempre há uma teoria da conspiração por trás de tudo. Na maior parte das vezes, há somente um sujeito sobrecarregado e mal-pago que quer mais é terminar logo aquela droga de matéria e ir encher a cara.

8 de dezembro de 2005, 21:32 | Comentários (4)



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mãos de cavalo,
por daniel galera

 

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