« ainda outra impostura científica |
sejamos sérios como as crianças ao brincar
| procura-se cantora desconhecida »
sejamos sérios como as crianças ao brincar
Daniel Galera, sempre dizendo antes o que outros gostariam de ter dito. Imagina-se que esta seja a principal qualidade de um escritor. Por isso as pessoas acham escritores interessantes, ou não: por sua capacidade em aglutinar sentimentos e idéias comuns a muita gente, mas que ainda se encontravam soltas pelo éter.
Quando criança, também era fascinado por enciclopédias. Mais especificamente, pela Conhecer, cheia de ilustrações também, mas em português. Passei tardes e mais tardes matando o tédio na biblioteca de meu avô em Lajeado. Embora compreendesse a língua, compartilho com o Galera o fascínio pelo conhecimento: ler o que está escrito não significa compreender os fatos. Afinal, por que Napoleão quis conquistar a Europa inteira? O que significava o fato de o núcleo de um átomo ter o tamanho de uma chave comum, se o átomo inteiro fosse do tamanho de um arranha-céu? Por que aqueles dinossauros tinham formas tão esquisitas? Como viviam as pessoas naquela curva específica do rio Nilo? Deixava a mente vaguear por cenas de batalhas, entre amostras de cerâmica indígena e diagramas de Itaipu.
A graça toda estava em preencher as lacunas e construir seu próprio mundo. Melhor brincandeira de todos os tempos.
Ao contrário do Galera, por outro lado, mantive boa parte deste fascínio pelo conhecimento. Mesmo o que parece mais banal aos olhos dos outros me permite lançar a mente em passeios por associações de idéias infinitas. Quem me conhece certamente já viu o fenômeno: volta e meia fico catatônico e retorno com uma declaração completamente fora do assunto. Sou distraído porque uma parte da minha cabeça está sempre em outro plano. Interessante: assim como o Galera, fui uma criança ingênua. E ingênuo sou até hoje, para certas coisas. Quem me conhece pode atestar isso também.
b a l a
kuro5hin
slashdot
wikinews