Comentários sarcásticos, crítica vitriólica e jornalismo a golpes de martelo por Marcelo Träsel


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elite acha que pobre é burro

Diz a Folha de São Paulo deste domingo que as urnas premiaram o assistencialismo de Lula, dando-lhe votos onde a importância do Bolsa-Família e do aumento do poder de compra do salário mínimo é maior. Distribuição de renda que, aliás, era promessa de campanha, como nota o consultor Celso Toledo: "Tirando o aspecto da corrupção, é impressionante como Lula cumpriu o que prometeu, que era governar para os mais pobres. E o dividendo eleitoral é claro". Como a Folha só entrevistou a Avenida Paulista, mas não o Vale do Jequitinhonha, fica a impressão de que é tudo medida eleitoreira.

O próprio Toledo diz que para distribuir essa renda o governo tirou recursos de quem produz para dar aos pobres, e que isso teria prejudicado o crescimento. Não faz o menor sentido. Em primeiro lugar, ninguém publicou notícia alguma sobre agentes do governo assaltando os caixas de empresas e mandando a grana ao Sertão. Tampouco criou-se algo como uma CPMF do Bolsa-Família. Se tirou dinheiro do setor produtivo, foi em investimentos que poderiam ter sido feitos em São Paulo, mas cujos recursos foram desviados para a distribuição de renda. Porém, a própria matéria da Folha reconhece que "a evolução das vendas nos últimos 12 meses, por exemplo, revela que onde o comércio cresceu mais, a votação de Lula também avançou mais na comparação com seu desempenho no 1º turno em 2002". E de onde vêm os produtos vendidos? Do setor produtivo. Dãã.

Economista Economicista é um bicho estranho mesmo. Acredita no mito do homo economicus, segundo o qual as pessoas sempre agem de forma racional no investimento e consumo de seus recursos, o que conseqüentemente torna o livre-mercado auto-regulatório. Estranhamente, nenhum dos entrevistados pela Folha conseguiu aplicar essa teoria aos beneficiados pela distribuição de renda:

O cientista político Leôncio Martins Rodrigues diz que o resultado da votação vinculado às transferências de renda revela que o eleitor brasileiro ainda não consegue ter "um comportamento político autônomo".

"Como essa grande população é paupérrima, ela continua propensa ao voto clientelístico e a manter sempre a expectativa de receber algo do Estado." Para o sociólogo Antônio Flávio Pierucci, os programas sociais são importantes, mas precisam ser relativizados. "Esse dinheiro vai direto para o bolso, mas toda a encenação do governo Lula é um longo minueto pró-pobres", afirma.

Não é chato? Os miseráveis simplesmente não entendem que ter dinheiro depositado em sua conta todo mês vai contra seus próprios interesses. Se esse dinheiro fosse usado para financiar a produção via BNDES ou diminuir o déficit, faria muito mais bem aos pobres. O bolo cresceria e seria dividido, como foi feito por todos os governos até 2002. Aí chega esse Lula, interrompe o ciclo de prosperidade que se via até então no semi-árido e passa a dar dinheiro direto aos miseráveis! Essa gente é muito burra, mesmo. Simplesmente não consegue ver que poder comprar comida é a pior coisa que poderia lhes acontecer.

15 de outubro de 2006, 13:04 | Comentários (21)



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