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abrindo o voto — segundo turno
É duro admitir, mas o melhor para o Brasil seria mesmo que Lula perdesse essa eleição.
Não que fôssemos experimentar um novo ciclo de crescimento, ter reformas importantes na estrutura do Estado ou mesmo ver a corrupção ser defenestrada com Alckmin no Planalto. Nada no governo dele em São Paulo indica que tenha idéias originais sobre como gerir o Brasil, nem os seus companheiros de chapa ou os dois mandatos de FHC são isentos de máculas éticas. Alckmin provavelmente será até pior do que Lula em alguns aspectos, como nos programas sociais. Também promete tragédias na segurança pública e na educação, se levar a Brasília seus coleguinhas Saulo de Castro e Gabriel Chalita.
Alckmin e Lula se equilibram como mandatários de cargos executivos. Cada um tem seus pontos fortes e fracos, mas seguem a mesma linha ideológica. Basta ver os programas de governo e a campanha na televisão. O único candidato que propunha algo diferente nessa campanha era Cristovam Buarque, mas ninguém levou fé nele e... Enfim, deixa pra lá. O importante é que fora algumas diferenças pontuais, os dois candidatos não devem fazer governos que mudem muito a vida das pessoas em geral. Tanto é que não há histeria no mercado, como em 2002. Se o mercado está tranqüilo, é mau sinal para quem ainda acredita na mudança de rumo pelo voto.
A única vantagem de Alckmin sobre Lula é que Alckmin não é Lula.
No fim das contas, Lula traiu a história do Partido dos Trabalhadores ao assumir a presidência após 20 anos e não tentar fazer mudanças profundas no Estado. Votei no PT em todas eleições até agora para ver o circo pegar fogo. Aí, Lula assume, faz as mesmas alianças espúrias de sempre com os mesmos partidos fisiológicos de sempre e ainda por cima aprofunda a política econômica de FHC. Depois, cria um programa assistencialista que, embora tenha sido um grande avanço, fica bem distante dos projetos originais e entusiasmantes que se esperava.
Não apenas isso, como, depois de defender por quase 20 anos que Lula compensava sua falta de formação com inteligência, fui obrigado a engolir minhas palavras. Lula comprovou que é preciso no mínimo conseguir ler um documento sem dificuldade para ser presidente. Portou-se como um parvenu, assumindo um ar arrogante e autoritário e confundindo a presidência com a República, o público com o privado. Foi uma sucessão deprimente de cenas patéticas, como as fotos de seus filhos e coleguinhas na piscina do Alvorada, a estrela plantada por dona Marisa no jardim, o museu com troféus da época de sindicalista no Planalto, o Aerolula e, a melhor de todas, a cidadania italiana requisitada pela primeira-dama. Não dá, simplesmente não dá para ter jecas desse quilate na presidência.
Finalmente, aconteceram os escândalos. Apesar de todo escarcéu da mídia e dos tucanos xiitas, o governo Lula não foi o mais corrupto de todos os tempos, nem de longe. Roubaram na mesma proporção ou até menos, mas ao menos deixaram o procurador-geral e a Polícia Federal trabalharem em paz. Ainda foram burros o suficiente para ser pegos. No entanto, o Walter, o Brust, o Firpo e o Láudano têm razão: votar em Lula, mesmo achando que ele faria um governo melhor, é ruim a longo prazo para o Brasil. É reforçar a idéia de país do "não dá nada", da Lei de Gérson, da impunidade. E esse é o traço mais prejudicial da cultura brasileira, que precisa ser eliminado antes de sonharmos com qualquer desenvolvimento.
A única coisa que atinge um político é perder o poder. É preciso mostrar que esse tipo de bandalheira será punido com a perda do poder, daqui para frente. Ou seja, não votar em Lula.
Ainda assim, votar nos tucanos é impensável. Só existe uma solução para os esquerdistas: abster-se ou anular. Justificar o voto e ir para a praia, ou ficar em casa vendo o Faustão. Qualquer coisa. A vantagem de abster-se é não legitimar essa palhaçada, que impõe aos eleitores uma não-escolha entre o ruim e o pior, entre dois lados da mesma moeda.
Porém, não tenha vergonha de ser pragmático. Afinal, democracia em tese é uma forma de governo pela qual cada um persegue seu interesse, votando neste ou naquele candidato. Por isso, se você ganha Bolsa-Família, é melhor mesmo votar em Lula — embora Alckmin só vá acabar com o programa se quiser cometer suicídio político. Se você é funcionário público, melhor votar em Lula. Se é classe média e lembra com saudades da farra de compras em Miami com dólar paritário, vote Alckmin. Não é feio votar conforme seus interesses mais imediatos.
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