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não, não vou pôr "mi buenos aires querido" no título desse post
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não, não vou pôr "mi buenos aires querido" no título desse post
Só agora consegui mais ou menos sentar para escrever sobre a viagem a Buenos Aires. Devo dizer que a boa impressão que o guia da prefeitura passou se manteve durante toda a estadia. Buenos Aires é, mesmo, uma cidade espetacular, e os argentinos são um povo a se admirar. Agradeço às dicas que os leitores deixaram nos comentários e aos amigos que enviaram mensagens por correio eletrônico. Seria impossível fazer uma viagem tão boa sem essa ajuda.
Limusine à venda em frente a uma cafeteria recém reformada em Palermo
Em primeiro lugar, esperava uma cidade mais decadente e suja, por causa da crise financeira do início do século. Graças a essa crise, os preços na Argentina baixaram a um patamar em que fica barato para os brasileiros fazer turismo por lá. Antes, contava-se que um simples espresso podia sair US$ 3. Agora, custa 4 pesos, e o peso valia aproximadamente R$ 0,70 quando estivemos na capital porteña. Apesar de certamente estar decaindo, Buenos Aires decai com elegância. As coisas são velhas e detonadas, mas são limpas. As pessoas olham feio se você joga lixo na calçada. E um passeio no bairro Palermo mostra sinais de retomada econômica, com muitas casas sendo reformadas para dar lugar a lojas de roupas finas e restaurantes.
Uma das melhores impressões que tive foi dos taxistas. Nenhum tentou nos enrolar. Aliás, o primeiro nos deu dicas de como indicar melhor o caminho, porque dissemos uma forma errada de chegar ao endereço e ele teve de dar uma volta maior. As viagens também são baratas. À noite, custa apenas uns 12 pesos para ir de Palermo ao centro. Parece apenas que não é recomendável pegar táxi do aeroporto para o hotel, porque há muitos casos de assaltos em que os taxistas são coniventes. Prefira pegar o ônibus da Manuel Tienda Léon, que fica à esquerda quando se sai do setor de desembarque em Ezeiza. Uma passagem até a porta do hotel no centro custa 32 pesos, sendo que você vai de ônibus até a central deles e depois pega uma minivan. Já para voltar ao aeroporto é tranqüilo pegar táxi e custa algo entre 70 e 80 pesos a viagem, o que faz valer a pena para duas pessoas.
Quanto ao hotel, ficamos no albergue El Firulete Downtown, pagando cerca de US$ 40 a noite por um quarto privado com banheiro, o que é metade da diária dos hotéis da região que pesquisamos ou nos indicaram. Fora o fato de o quarto ter duas camas de solteiro, em vez de uma de casal, como tínhamos reservado, o albergue ainda está sofrendo as últimas reformas e fomos acordados alguns dias pela manhã por operários operando serras e soldas. Em compensação, todos os quartos têm ar-condicionado e a água é quente. Também oferecem um bom café da manhã e acesso grátis à Internet, além da boa localização. Eles também têm uma casa em Palermo Viejo, que parece melhor negócio. Em todo caso, Buenos Aires está cheia de albergues que parecem bons e provavelmente são melhores que o Firulete.
Interior da confeitaria La Ideal, na Suipacha, quase esquina com Corrientes
Não chegamos a visitar muitos pontos turísticos. Não fomos à Boca, nem ao Puerto Madero, nem ao Malba. Ficamos mais nos entornos do centro da cidade e demos alguns passeios em San Telmo e Palermo. Dedicamo-nos mais à boa mesa e às caminhadas. No domingo, com um tempo ensolarado e quente, tivemos a sorte de passar pelo parque no entorno do Rosedal e aproveitamos um passeio por lá, junto aos porteños. A dica é descer na estação Plaza Itália, da linha D (verde) do metrô, com as famílias carregando cestos de pique-nique. Impressionante o cuidado com que os parques são mantidos. Mais impressionante ainda é as pessoas respeitarem os avisos de não pisar na grama e não jogar lixo. Apenas os donos de cachorros argentinos poderiam aprender a juntar o cocô que seus bichos fazem por todos os cantos da cidade.
Outra grande atração de Buenos Aires são os idosos. Todos muito dignos. Todos extremamente bem arrumados e bem educados. É fascinante ver senhores de 70 anos com um terno impecável tomando o metrô para ir comer uma media luna com espresso em alguma confeitaria da cidade. Ou senhoras andando pelas calçadas da Recoleta envergando seus melhores chapéus e tailleurs.
Aliás, vale a pena comprar roupas por lá. Os preços até podem não ser menores do que no Brasil, mas a qualidade é infinitamente superior. Se estiver procurando um bom casaco impermeável, sugiro a Perramus, na Sarmiento 701. Se quiser casacos de couro de segunda mão ou jaquetas da Adidas baratinhas, vá à galeria Sta Avenida, na avenida Santa Fe 1270. Comprei uma pasta de couro muito boa na Lamarca (Santa Fe 902), embora não tenha sido barata. Outros produtos recomendáveis são livros, na avenida Corrientes, subindo a partir do obelisco. Na verdade, comprei apenas um álbum dos quadrinista Liniers, na Club del Comic (Montevideo 335). Durante a busca por essa loja, encontramos a Ferretería Artística, onde se pode comprar todo tipo de maçaneta, pendurador de casacos e chapéus e trancas decorativas, atendido pelo bando de velhos mais mal humorados de todos os tempos. Para mais objetos de decoração, tente a Lago, em San Telmo.
No final das contas, o que mais chamou a atenção em Buenos Aires foi o esmero com que mesmo as coisas mais simples são feitas. Qualquer boteco de esquina tem ao menos um pouco de fileteado nas janelas e se esforça em servir boa comida. O metrô é velho, mas funciona e é barato. O país pode estar saindo de uma crise, mas há policiais nas ruas e os serviços funcionam. Nos mercados, as frutas e verduras são arrumadas quase artisticamente. Os senhores andam com os sapatos perfeitamente engraxados, ainda que sejam pobres. Dignidade. É isso que os porteños têm e falta ao brasileiro.
ATUALIZAÇÃO: Para ver a crítica dos restaurantes, vá ao Garfada.
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