Comentários sarcásticos, crítica vitriólica e jornalismo a golpes de martelo por Marcelo Träsel


« batatinha | a integração do público na propaganda | a longevidade é superestimada »

a integração do público na propaganda

Depois de dominar o jornalismo, a interação mediada por computador começa a causar mudanças mais profundas na propaganda. Hoje em dia, todo webjornal que se preze tem uma seção de notícias enviadas pelos leitores. As diretorias das redações se deram conta de que as pessoas gostam de aparecer na mídia e estão dispostas a trabalhar de graça para isso — e faço esse comentário sem qualquer intenção de condenar esse tipo de jornalismo participativo como "exploração" do público. Colaborar com um jornal sem receber dinheiro não é pior do que usar uma camiseta com o logotipo de uma marca famosa na rua: você está beneficiando uma empresa privada em troca de algum tipo de satisfação pessoal. Seja feliz.

As agências de publicidade mais antenadas já andavam produzindo ações que integram o consumidor, em geral fazendo com que ele participe de alguma atividade online ou offline. No entanto, esse tipo de propaganda — e uso o termo aqui de propósito, porque essas ações de publicidade seguem a lógica da propagação, não mais a da difusão — cada vez mais se torna um item importante nos orçamentos de marketing de grandes empresas. A vantagem é que em geral custam muito menos do que um anúncio na televisão e atingem apenas os consumidores interessados. E na televisão sempre existe a chance de a pessoa trocar de canal ou botar o aparelho no mute durante os comerciais.

Durante os últimos meses, tive a satisfação de participar do que talvez seja a primeira campanha no Brasil a usar peças em vídeo desenvolvidas somente para a Web. A LiveAD criou para a marca Ilhabela, da Grendene, uma série em três capítulos, protagonizada por um ator da Malhação. Até aí, seria apenas um anúncio normal em vídeo usando um suporte diferente.

O novo mesmo está na forma de escolha das atrizes: foi feita uma seleção entre as potenciais consumidoras da sandália, através de recrutamento em colégios, uma parceria com a revista Capricho e o YouTube. Dez meninas foram selecionadas para participar da websérie como atrizes. Mas o importante mesmo é que muito mais meninas receberam a mensagem da Grendene nos colégios, na revista e no YouTube, onde foram postados mais de 90 vídeos, somando 30 mil visualizações. O primeiro episódio está no ar.

Esses vídeos vão continuar lá, nos perfis das meninas que participaram, espalhando o nome da marca indefinidamente, mesmo quando a campanha acabar e for esquecida. Trata-se de um grande acerto o uso do YouTube. Primeiro, poupa-se espaço de servidor e incomodação, porque caso a websérie gere muito tráfego pode derrubar o servidor onde o site da marca está hospedado. Segundo, conta-se com todo o élan comunitário do YouTube, que pode fazer esse conteúdo emergir através das listas de vídeos relacionados e pela facilidade de se trocar links.

Além disso, o site da campanha oferece conteúdo interessante para quem é fã de Malhação e permite que o público faça comentários em um "videofotolog". Não há maneira melhor de encantar o público do que fazê-lo se sentir parte da construção de um "bem público". Essa é a lição que o Linux e a Wikipedia ensinaram, a imprensa seguiu e agora a publicidade começa a levar bastante a sério. Pode-se até considerar a websérie boba e a idolatria de um ator da Malhação uma enorme bobagem, mas a verdade é que as meninas que comprariam as sandálias da Grendene acham esse conteúdo muito interessante. Sejam felizes.

9 de outubro de 2007, 11:32 | Comentários (9)



Sugestão da
Livraria Cultura

persepolis.jpg

 

somerights20.gif

 

Get Firefox!

 

Sindicalize:



OmManiPadmeHum.gif

 

Site Meter


Design por Soviete Supremo Produções. Otimizado para Firefox.