Comentários sarcásticos, crítica vitriólica e jornalismo a golpes de martelo por Marcelo Träsel


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como se transformar em um escândalo na web

Na semana passada a atriz Preta Gil ameaçou processar o Google. A celebridade -- não sei como classificar a filha do ministro da Cultura, Gilberto Gil; atriz, cantora ou o quê? -- se irritou quando soube que as buscas pelas palavras-chave "atriz gorda" no Google Imagens retornam junto com os resultados a sugestão "Experimente também: preta gil". Preta, que de fato é gorda, cometeu um grave erro, como mostra a imagem abaixo:

atriz_gorda.jpg

Agora a busca normal do Google por "atriz gorda" resulta apenas em artigos relacionados à ameaça de processo. Se o objetivo de Preta Gil era evitar danos à sua auto-estima e à sua imagem, e não desencadear uma nova série de factóides para se manter na mídia, ela errou feio na estratégia, ou foi mal assessorada. O aceno com um processo judicial baseia-se numa completa ignorância do funcionamento da ferramenta de busca.

Em primeiro lugar, o Google Imagens não tem absolutamente nenhuma culpa pela sugestão relacionada aos resultados da busca por "atriz gorda". Essas sugestões são fornecidas automaticamente por um algoritmo que contabiliza links remetentes, isto é, links apontando para uma ou outra página. Quando muitas páginas da Web criam links com as palavras "atriz" e "gorda" apontando para outras páginas cujo conteúdo seja relacionado com Preta Gil, algoritmo entende que Preta Gil é considerada uma atriz gorda pelos criadores das páginas e passa a relacionar a busca à celebridade. (Para mais informações sobre o funcionamento do Google, leia esse artigo.)

Ou seja, o Google Imagens não tomou nenhuma atitude discriminatória ou difamatória ao sugerir que o usuário busque por fotos de Preta Gil quando procura por uma atriz gorda. Se é para arranjar culpados de discriminação ou algo do gênero, melhor buscar por todas as pessoas que criaram páginas que tenham contribuído para o estabelecimento dessa relação pelo algoritmo de busca. No entanto, o Google Imagens pode bloquear essa sugestão específica, para que não apareça mais, caso seja obrigado por uma decisão judicial ou queira fazer uma gentileza à moça.

Em segundo lugar, a ameaça de processo contra o Google foi uma estratégia ignorante porque não levou em conta os efeitos da reação na mídia e em blogs nos resultados da própria busca do Google. Como se vê acima, a criação de centenas de páginas da Web comentando o caso reforçou ainda mais a relação das palavras "atriz gorda" com Preta Gil. Casos anteriores, como a da modelo-e-apresentadora Daniela Cicarelli vs. YouTube, já mostraram que em termos de redução de danos o confronto judicial é a pior opção — embora seja um grande sucesso em termos de aumento da exposição na mídia. O Google é praticamente um serviço público e qualquer atitude que interfira com a qualidade da operação tende a irritar profundamente os usuários. E na Web o público irritado tem uma notável tendência a criar posts em blogs, tópicos em fóruns, banners avacalhadores, circulares via correio eletrônico etc. etc. etc. Tudo isso significa mais páginas relacionando Preta Gil a "atriz gorda" e, portanto, reforço da associação entre a celebridade e a gordura nos resultados das buscas.

Quase toda semana aparecem casos de celebridades tentando abafar escândalos na Web por meio do confronto. É um tiro no pé, sempre. Nada melhor do que o silêncio para fazer um assunto sumir da rede mundial de computadores. O advogado de Preta Gil poderia muito bem ter enviado um pedido informal ao Google Imagens para bloquear a sugestão, antes de criar uma tempestade midiática baseada na ignorância. Isso, é claro, se o objetivo desde o início não era fazer marola.

Porém, se você é um assessor ou advogado de celebridade e realmente quer evitar ter o nome de seu cliente arrastado em lama digital, sugere-se estudar um pouco o funcionamento do site ou serviço que está incomodando. Até para não ficar parecendo um idiota perante este e outros clientes, quando a ação não der em nada mais que xingamentos Internet afora.

18 de fevereiro de 2008, 12:53 | Comentários (42)



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