Comentários sarcásticos, crítica vitriólica e jornalismo a golpes de martelo por Marcelo Träsel


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mais algumas respostas para o FAQ

Acabei de responder a algumas perguntas sobre jornalismo participativo para uma estudante de São Paulo que está fazendo um trabalho de conclusão focado nesse tema. Aí lembrei da Lei de Lavoisier e que este blog não é atualizado há tempos. Resolvi repubicar aqui, até para ajudar outros estudantes que vivem me enviando perguntas.

1- O que é jornalismo colaborativo para você?

O webjornalismo participativo acontece quando um site ou uma seção de um site jornalístico permite interferênias tão profundas no conteúdo (e por vezes na forma) que a divisão entre escrita e leitura começa a ficar indistingüível.

Em outras palavras, há webjornalismo participativo se as colaborações do público forem essenciais para a manutenção de um site ou parte dele. O VC Repórter não aconteceria se as pessoas não enviassem textos, fotos e vídeos para lá, assim como o Ohmynews estaria vazio se não fossem os repórteres-cidadãos espalhados pelo mundo.

2- Qual é o papel do jornalista dentro do jornalismo colaborativo?

Orientação, edição e, claro, participação. Nos dois exemplos citados acima há jornalistas selecionando as melhores matérias e checando fatos.

Porém, existem projetos de jornalismo participativo em que os colaboradores mesmos regulam o processo de coleta, edição e publicação de notícias, como no Kuro5hin ou no Wikinotícias. Nada impede que jornalistas colaborem com esse tipo de site, porém. De fato, alguns repórteres escrevem para webjornais participativos ou criam blogs com o objetivo de abordar assuntos em que não podem tocar em sua vida profissional.

3- Você acredita que existe jornalismo colaborativo no Brasil? Qual é a maior diferença entre os sites colaborativos daqui e sites de outros países?

Existe e não vejo diferença alguma, exceto pela língua, o que nos limita em termos de audiência. Outra coisa que nos limita é o analfabetismo funcional da população, que impede um ganho de escala nas colaborações. Por causa disso, há pouca atualização nos webjornais totalmente participativos.

4- Quais são as diferenças entre o jornalismo colaborativo e o jornalismo tradicional?

Em primeiro lugar, é preciso ter sempre em mente que o jornalismo participativo é complementar ao jornalismo tradicional. Há indícios de que a maioria dos valores-notícia do jornalismo tradicional valem para o jornalismo participativo, mesmo quando não há supervisão de um profissional qualificado. Assim, eu diria que o jornalismo participativo é uma subcategoria do jornalismo, não uma atividade
completamente separada.

O que é característico do jornalismo participativo é a interferência direta do público, que não precisa mais esperar pelos repórteres profissionais para divulgar uma informação. Isso, é claro, traz implicações boas e ruins. Por um lado, há mais pluralidade de pontos de vista e maior variedade de acontecimentos divulgados. Por outro, nem sempre as informações são checadas adequadamente antes de serem
publicadas.

5- Acredita que conteúdos colaborativos podem substituir o jornalismo tradicional?

Não. O jornalismo participativo é uma forma que as empresas de mídia e a sociedade encontraram de enfrentar o problema da falta de recursos nas redações, que impede a cobertura de todos os assuntos de interesse do público. É, portanto, complementar.

Além disso, há a questão da credibilidade. O público pode ser bom para noticiar um buraco na rua onde moro ou uma foto de um acidente, mas eu não basearia o investimento da minha poupança em uma dica de algum blogueiro anônimo, por exemplo. Nesse caso, procuraria ler o Valor Econômico ou Wall Street Journal. É tudo uma questão de bom senso.

6- Você acredita que o blogueiro pode vir a ocupar o lugar do jornalista?

Não, pelos mesmos motivos acima e por um motivo mais forte: blogueiros em geral não têm recursos para a apuração de pautas. Mesmo um telefonema interurbano é um custo alto quando não se ganha nada em troca do trabalho. Imagine pagar os custos de um inevitável processo judicial no caso de você descobrir e publicar alguma denúncia de
corrupção no governo, por exemplo.

Os blogueiros podem vir a substituir os jornalistas em alguns assuntos de nicho, e nesse caso talvez com muito mais qualidade. Os jornais têm espaço limitado ou, no caso da Web, limitações de força de trabalho. O jornalismo tradicional não tem condições técnicas ou econômicas de tratar com profundidade todos os assuntos. Aí entram os blogs, para dar profundidade.

7- Hoje, qual é a importância dos blogs?

Os blogs são importantes em vários níveis, dependendo dos objetivos de quem os lê ou escreve. No caso da mídia, diria que são importantes para preencher as lacunas deixadas abertas pela escassez de recursos do jornalismo, e como fiscalizadores do "quarto poder", apontando erros e denunciando falcatruas de jornalistas, publicitários e
relações públicas.

8-O que é necessário para cativar e manter o público?

Ser honesto. :-)

9-Quais são as falhas que a mídia tradicional comete nos projetos de jornalismo colaborativo?

A principal falha é pretender abrir um espaço de participação sem abdicar do controle sobre o processo de comunicação, ao menos em parte. Empresas que não têm uma cultura de participação por vezes criam um canal participativo com o único objetivo de "não ficar para trás" da concorrência. Isso acaba quase sempre sendo um tiro no pé, porque criam sistemas engessados, que terminam por morrer melancolicamente de falta de participação.

10-Por não existir legislação na internet, como fica a questão da ética?

Bem, a ética não é nem nunca foi uma questão de legislação, mas sim de caráter. Assim como há blogueiros e repórteres amadores antiéticos, há jornalistas antiéticos. Casos não faltam para provar que nossos colegas estão no mesmo nível do resto da humanidade em termos de caráter.

Por outro lado, toda a legislação já existente para coibir casos de calúnia, difamação, má-fé e outros crimes de imprensa vale para a Web e para o jornalismo participativo. Qualquer pessoa que se sinta lesada por um veículo de jornalismo participativo pode requerer seus direitos na Justiça.

11-Como você vê o jornalismo colaborativo daqui a cinco anos?

Um avanço interessante poderia ser a abertura de espaços colaborativos em infográficos e animações, coisa que ainda não vi em nenhum webjornal.

1 de abril de 2008, 16:36 | Comentários (18)


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