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cursos de artes da uergs estão sendo desmontados
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cursos de artes da uergs estão sendo desmontados
Não é segredo para ninguém que um dos principais desejos dos governos Rigotto e Yeda é desmontar a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Não que o projeto de Olívio Dutra esteja isento de defeitos, mas o fato é que a universidade foi construída e tem uma proposta interessante: levar o ensino para o interior, para que os jovens possam se profissionalizar sem ter de deixar o pago.
É claro, o governo petista não conseguiu estabelecer a instituição em apenas quatro anos. Rigotto veio depois e instalou um não-reitor para garantir que, por exemplo, não fossem feitos concursos adequados para professores, muito menos eleições para a reitoria. O reitor do governo Yeda, Carlos Callegaro, segue na mesma toada. Ninguém quer colocar uma azeitona na empada do PT fazendo a universidade funcionar direito, mas também não podem simplesmente fechá-la, então estão deixando morrer à míngua. Tenho acompanhado bastante o caso, porque minha mulher é professora no curso de graduação em Dança da Fundarte. A Fundarte é uma instituição da prefeitura de Montenegro com a qual a UERGS mantém um convênio. O problema é que há alguns anos o governo está se empenhando em sufocar os cursos de artes oferecidos lá. O último vestibular foi realizado em 2006, embora o reitor todo ano garanta que a situação será resolvida.
É uma pena. Os cursos da Fundarte são os que apresentam maior índice de empregabilidade dos alunos formados pela UERGS. Os cursos ficam sempre entre os melhores nas áreas de Teatro, Dança, Música e Artes Visuais no Brasil. Foi a primeira faculdade da UERGS a consolidar grupos de pesquisa e uma revista científica com classificação Qualis A da Capes. Ou seja, mesmo do ponto de vista de um discurso meramente utilitário sobre a educação e seus objetivos, é preciso reconhecer que, se alguma faculdade da UERGS tem de ser mantida, é essa. Nem vou entrar na questão da importância da Fundarte para o meio cultural. Deixo isso para a carta aberta endereçada pela professora e artista plástica Maria Helena Bernardes à governadora do Estado, Yeda Crusius (PSDB). Clique no "continue lendo" ao final deste texto para ver a carta.
O desmonte da UERGS é ruim em vários níveis. É verdade que o Estado não tem dinheiro, mas justamente por isso parece um desperdício abandonar investimentos feitos ao longo de quase uma década, bem quando começariam a dar retorno. Além disso, se há investimento que dizem valer a pena, é o investimento em educação. Um ranking realizado pelo MEC inclusive considerou a UERGS melhor do que a UFRGS. E o gasto nem é tão grande: o orçamento da instituição para esse ano é de meros R$ 28,3 milhões. O custo anual dos cursos de graduação da Fundarte, que têm capacidade para atender 320 alunos, está em torno de R$ 1 milhão.
Só com incentivos fiscais para a General Motors, na época da implantação da empresa em Gravataí, foram gastos quase R$ 1 bilhão em renúncia fiscal e financiamentos. Só em Lei de Incentivo à Cultura, o Estado gastou cerca de R$ 46 milhões no ano de 2005, o último com relatórios publicados. O projeto Multipalco, sozinho, tem orçamento total de R$ 23 milhões, segundo o próprio governo do Estado, e só vai beneficiar a moradores da Região Metropolitana que possam/queiram pagar para assistir a espetáculos cujo maior atrativo em geral é contar com atores da Globo. Com o dinheiro gasto pela dona Eva Sopher daria para formar mais de 1,8 mil pessoas em Música, Artes Visuais, Teatro e Dança na Fundarte.
CARTA ABERTA DE MARIA HELENA BERNARDES À GOVERNADORA YEDA CRUSIUS
Sou artista plástica e professora de História e Teoria da Arte, atuante na cidade de Porto Alegre. Por ocasião da exposição que inaugurei na Galeria de Arte da Fundarte, em outubro último, e ao participar de conferência no Seminário Nacional em Arte Educação , promovido por aquela instituição na mesma época, tomei consciência da iminente desativação do curso de graduação em artes da Fundarte/UERGS, sediada em Montenegro. O que vi e ouvi a esse respeito da parte de professores, pesquisadores, estudantes e participantes do seminário, oriundos de todo o Brasil, senhora governadora, deixou-me constrangida de pertencer ao estado sob sua gestão.
Atuando em Porto Alegre , oriento estudantes, artistas e professores de diversas regiões do Rio Grande do Sul e pude testemunhar a iniciação profissional de jovens graduados pela Fundarte que ingressam na comunidade de artistas e professores com o entusiasmo de quem sai de uma escola qualificada e da qual se orgulha.
Pergunto-lhe: já esteve na Fundarte? Dialogou com seus alunos e professores? Tem idéia do trabalho que realizam e da contribuição que, em seus poucos anos, a graduação da Fundarte proveu, em âmbito estadual? Tem ciência do nível de qualificação dos professores, que, por falta de perspectiva naquela instituição, têm-se colocado entre os primeiros classificados em concursos para instituições federais de ensino de nível superior? Está consciente da demanda pendente entre os jovens estudantes desde que a senhora deixou de autorizar novos concursos vestibulares?
Por omissão ou protelação – ambas inaceitáveis como justificativa do fechamento de uma instituição pública de ensino –, o concurso que regulamentaria o quadro de professores da Fundarte junto à UERGS permanece sem data para efetivar-se. Da mesma forma, os concursos vestibulares para ingresso de novos alunos permanecem sem previsão de realização. Não havendo quadro de professores e tampouco alunos para dar início a mais um ano letivo, parecerá justificada a desativação do curso. Será essa a conclusão a que a senhora espera que chegue a classe educadora e cultural de nosso estado? Seremos assim tão ingênuos a seus olhos?
Pessoalmente, senhora governadora, ainda me encontro sob o impacto da notícia a respeito de escolas do ensino fundamental fechadas em municípios do interior do estado sob o pretexto de falta de alunos, argumentado pela Secretaria Estadual de Educação. Para agravar essa impressão de abandono e indiferença por parte do Governo do Estado, os jornais de grande circulação divulgam a inexplicável demora na nomeação de um novo diretor da Fapergs, o que deixou nossa principal instituição de fomento à pesquisa praticamente inativa ao longo de 2008.
Será essa a marca que seu governo deixará na educação e na pesquisa? A desconstrução? O descaso? A imobilidade? Desculpe-me a sinceridade, senhora governadora, mas ouso afirmar que, sem ações que evidenciem o contrário, tenderei a concluir que seu governo objetiva a imobilidade administrativa que flagela nossas instituições educacionais.
Esta carta é, também, uma manifestação de solidariedade para com aqueles estudantes que tristemente vêem anulada a instituição que os formou e aqueles que já não poderão candidatar-se a ela em um próximo concurso vestibular. Minha solidariedade dirige-se aos colegas artistas e professores da Fundarte que transferiram suas vidas das cidades de origem para se tornarem cidadãos de Montenegro, cidade que os abraçou nesse projeto que seu governo está em vias de extinguir por absoluta falta de ação. Minha solidariedade é para com a educação e a formação artística qualificadas que perdem terreno em nosso estado, sob sua gestão.
Senhora governadora, seja na qualidade de artista, palestrante, ensaísta ou professora, atuando junto a artistas, estudantes, professores e pesquisadores em artes, serei mais uma a assumir o compromisso de sensibilizar nossa comunidade em relação à triste realidade que presenciei em Montenegro
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