perguntar não ofende
Por que um bando de estudantes franceses pode pôr fogo em tudo devido a um projeto de lei, mas muçulmanos que tiveram seu mais importante símbolo religioso avacalhado em um cartum sacrílego não podem pôr fogo em embaixadas? Por que se aplaude a ação de uns e se condena a de outros? Vendo bem, o motivo por trás das duas badernas é o mesmo: ameaças ao imaginário, religioso num caso, político no outro.
31 de março de 2006, 19:03 | Comentários (18)
i know what i like and i like a lot of itPor que os norte-americanos são gordos.
31 de março de 2006, 10:06 | Comentários (6)
brasileiro tem memória curtaNão custa lembrar: em abril de 2005 o Parada revelou em seu antigo blog um outro caso de entrevista montada, com Woody Allen, na mesma IstoÉ, pelo repórter Osmar Freitas Jr.
30 de março de 2006, 12:31 | Comentários (2)
como se fazem as salsichasSe alguém tinha alguma dúvida de que a IstoÉ deixou de fazer jornalismo — ou ao menos jornalismo sério —, deve ler a carta aberta do ex-editor de política da sucursal de Brasília a um tal José Carlos Marques, diretor editorial. Nela, Luiz Cláudio Cunha expõe a cozinha infestada de ratos e baratas da revista que já teve Mino Carta na chefia. São acusações graves de montagem de fotos, esquentamento de coletivas e até mesmo atribuição de frases a um ex-presidente da república.
É uma rara oportunidade de ver como são feitas as salsich... — perdão! — as reportagens. O caso da revista de Domingo Alzugaray é extremo, mas vícios como os descritos por Cunha, em especial os executivos ignorantes que posam de jornalistas, estão presentes em todos os veículos. Na melhor das hipóteses, é preciso conviver com repórteres que, como qualquer ser humano, em certos momentos estão cansados, doentes ou sem saco de trabalhar, o que leva a erros involuntários. Como diz meu amigo Daniel Gallas, existe um tripé de problemas sempre encontrável nas redações: chefes malucos, falta de dinheiro e má administração dos recursos.
Obrigado, Brust.
29 de março de 2006, 18:15 | Comentários (7)
somos todos gérsonPesquisa mostra que 75% dos brasileiros cometeriam atos ilegais. Foi feita pelo Ibope. Conforme os dados, os brasileiros mais honestos são os menos instruídos e mais pobres. A classe média já aceita muito melhor dar uma gorjeta para o guarda esquecer a multa, sonegar impostos ou empregar um parente em cargo público.
Ainda mais interessante, as pessoas mostraram uma tendência a condenar os atos, mas praticá-los mesmo assim. Assim, 78% acham inaceitável fazer trem da alegria com parentes em viagens oficiais. Mas só 57% disseram que não fariam isso. Outra boa:
40% dos entrevistados nunca compraram produtos que copiam os originais de marcas famosas, mesmo sabendo que são falsificações. Mas eles dizem que apenas 11% dos seus conhecidos tiveram o mesmo comportamento. E acreditam que míseros 2% dos brasileiros nunca fizeram algo parecido.
Os dois conjuntos de dados acimam só podem ter um significado: o brasileiro tem tendência a mentir em pesquisas. É óbvio que todo mundo já comprou produtos piratas, ou fez gato na TV a cabo. Só que mentem ao responder aos questionários, talvez por medo de represálias. Ou para não encarar a própria falta de ética.
Por outro lado, indicam também o quanto esse é um país de merda. O sujeito tenta garantir o seu porque nunca sabe como será o futuro. Tem consciência de que determinadas atitudes são erradas, mas no contexto em que vive, sabe que é preciso ser desonesto às vezes. A isso se chama sobrevivência. Por que pagar impostos se vão ser roubados e poderiam financiar uma boa parte da escola das crianças? Ou multas? É chato botar meu irmão como meu assessor, mas por outro lado o mercado de trabalho está difícil... Estou orgulhoso do brasileiro. Essa pesquisa mostra que é completamente realista.
Claro que, enquanto continuar assim, o país também não melhora. Se toleramos a corrupção no cotidiano, é natural que o Congresso ainda esteja em pé depois de tudo o que rolou por lá nos últimos meses. Fosse em um país onde a transgressão não vale a pena no dia a dia, já estaria em chamas. Só toleramos o que se parece conosco. O problema é que uma mudança de atitude viria só a longo prazo e a maioria das pessoas, aliás muito sabiamente, não pretende ser trouxa sozinha até que a massa crítica se forme.
Isso é um trabalho que fica para gente idealista.
29 de março de 2006, 10:07 | Comentários (10)
conheço 26 paísesValeu, Sabrina.
28 de março de 2006, 10:34 | Comentários (6)
você entubaEsse YouTube é diversão garantida para toda a família, por horas e horas a fio. Você pode aprender a dançar disco em russo, ver um alemão viciado em videogame se transtornar totalmente, ou manter-se a par da cultura popular indiana.
28 de março de 2006, 9:38 | Comentários (2)
hypeO Eduf também entrou nessa de podcast.
27 de março de 2006, 14:11 | Comentários (1)
o bom de ser velho é poder fazer o que quiserLima Duarte comanda a vala em entrevista à Folha de São Paulo — reproduzida na íntegra abaixo, caso o jornal resolva fechar o conteúdo ou tirar do ar. Aos 76 anos, deve ter decidido que era hora de dizer tudo o que sempre quis, antes de morrer. Não tem muito que a Globo possa fazer contra ele, nem ninguém mais. Tem dinheiro suficiente para o resto da vida e consegue emprego onde quiser.
Os melhores trechos:
O Fantástico transforma qualquer opinião em merda, a edição é calamitosa. A da Globo de modo geral.[...]
Odeio Lula porque faz uma glamourização da ignorância, contra o que tenho lutado a vida toda. Também sou "analfa", fui criado como ele na roça, mas, puxa vida, descobri o encanto por trás da palavra escrita, a magia. Num país carente de conhecimento, ele não pode ter esse procedimento. É um imbecil, um idiota, um ignorante. Quando ia ao cinema, ia com o cachorrinho no colo. Para quê?
[...]
Faço esse do Whiskas [ração para gato]. Mas pagam muito mal ao ator, é mixaria. Faço um também com a Irene Ravache, aquele de pele. Ah é, Natura. É uma porcaria proporcionalmente ao que ganho. Não gosto, é meio aviltante, não? Contraria seu personagem, tem de pegar direito, virar o rótulo para a câmera. E fica lá a garota do merchandising dizendo como fazer a cena. Pergunto: "Não é o diretor que manda?". E os diretores ficam quietos.
[...]
Cheguei a SP num caminhão de manga. Tinha 15 anos, meu pai disse: "Atimbora", como Guimarães Rosa. Percebeu que eu estava pronto. Nas primeiras noites, dormi embaixo do caminhão. Até que um amigo me convidou para ir à zona. Eu: "Mulher, a coisa propriamente dita?!". Era acostumado com bananeira, bezerro, esses negócios da roça.
[...]
Na reinauguração do Cristo Redentor, fui apresentar a cerimônia. Com uns 90 anos, o doutor Roberto tinha quebrado a perna. A Globo armou uma liteira com quatro negros para carregá-lo.
A entrevista confirma muita coisa que se diz por aí sobre a maneira como são feitas as salsichas na maior emissora do país. Interessante sobretudo este último trecho, muito eloqüente sobre a visão de mundo dos chefes. Em favor do doutor Roberto, diga-se que se recusou a subir na liteira.
Continue Lendo...27 de março de 2006, 10:59 | Comentários (15)
ê, provincianismoEle foi o primeiro empresário de comunicação do país a fazer a regionalização. Além disso, se preocupava com a comunidade. Sabia que a educação era a única forma de ajudar as crianças carentes — Cristina Ranzolin.
Faz falta aquela presença amiga, boa-praça, que trazia alegria para onde quer que fosse — Paulo Sant'anna.
Está de fato comovente a rasgação de seda pelos 20 anos da morte do "jornalista" Maurício Sirotsky Sobrinho, fundador da RBS. Nada menos que metade do Jornal do Almoço foi gasto nisso. Dá vergonha pelos jornalistas que trabalham lá.
24 de março de 2006, 12:40 | Comentários (14)
ok, agora chega. vamos fechar o congressoVocês estão frustrados com a crise política? Estão arrependidos de ter votado em Lula? Já se pegaram nas últimas semanas com vontade de que os milicos retornassem ao poder e levassem todos os congressistas para praticar pára-quedismo sem pára-quedas? Pois então observem bem a pessoa acima. Guardem esse rosto, sobretudo os eleitores de São Paulo. Esta senhora, Angela Guadagnin, deputada federal pelo PT, acaba de dançar sobre nossa frustração. Não é jogo de palavras. Ela não se conteve de alegria com a absolvição do coleguinha João Magno, que recebeu R$ 500 mil do Valerioduto, e dançou durante a votação na Câmara.
Temos sofrido muitas humilhações nos últimos meses, mas essa passa de qualquer limite. A degradação moral do Congresso atingiu o fundo do poço. Estão esfregando em nossa cara a certeza da impunidade e da pouca memória do eleitor. Esta senhora em especial é completamente desprovida de respeito pelo povo. É preciso linchar sua imagem pública sem pena nem compaixão. É preciso transformar sua vida num inferno. O mínimo a fazer é enviar emails para o endereço angela@angelaguadagnin.net mandando-a dançar assim em Cuba, país de que tanto gosta.
Não existem palavras adequadas para descrever algo assim.
Mais informações e achincalhamento no Nova Corja, onde passarei a escrever a maioria de meus textos sobre política.
23 de março de 2006, 16:32 | Comentários (28)
coisas em que você nunca pensouEm qualquer supermercado existem lâminas de barbear para vender, daquelas antigas, retangulares, que as pessoas usam para se matar — ou para bater cocaína antes de cheirar. Será que ainda existem tantos idosos que usam este tipo de aparelho, ou essas lâminas são mais o menos como o Colomy?
22 de março de 2006, 19:45 | Comentários (9)
anyone can play guitarÚnico show no mundo que me faria ir até São Paulo.
22 de março de 2006, 15:09 | Comentários (8)
napalm neles!Outro crítico que realmente critica é o Paulo Roberto Pires.
21 de março de 2006, 10:45 | Comentários (5)
mais uma boa revista terminaO Semana 3, infelizmente, chegou ao fim, informa o Parada. Lá tive uma ótima experiência como jornalista: a obrigatoriedade de preencher um espaço fixo com prazo determinado. Incentivou meu interesse pela gastronomia, que levou inclusive à criação do Garfada.
Os motivos que nos levaram a interromper a publicação são vários, mas o fator principal que nos impede de continuar tocando é, claro, o financeiro. Não há publicação de qualidade que resista sem um monte de dinheiro por trás, isto é, bons e fiéis anunciantes. Ponto.
É dose. Tivemos o mesmo problema com a falecida Type. Como no caso da revista campinense, não faltavam repórteres e colunistas com bom texto e pautas interessantes. Faltaram foi leitores, problema de qualquer revista no Brasil, e anunciantes capazes de apostar em uma publicação nova.
20 de março de 2006, 12:22 | Comentários (4)
pé de chineloO desempenho de Felipe Massa na Ferrari prova que Rubinho Barrichello é uma droga de piloto. Na primeira corrida pela Honda, Rubinho já fez lambança e começou aquele chororô sobre problemas no câmbio e sabe lá o quê mais. Enquanto isso, seu companheiro de equipe, como nos tempos de Ferrari, corre muito bem com um carro igual. Rubinho devia admitir que não sabe correr e se aposentar.
20 de março de 2006, 9:59 | Comentários (4)
existe gente interessante em qualquer lugarEm uma viagem sempre se encontra pelo menos uma pessoa muito interessante, que dá vontade de conhecer mais a fundo. Em Emden, extremo noroeste da Alemanha, conheci a Frau Karin Janssen. Ela é proprietária da pensão im NavTec-Haus e é um doce.
No telefone, ao fazer a reserva, já deu para notar que era ao menos uma senhora muito simpática. Não tinha celular nem prova alguma de que realmente apareceria para tomar posse do quarto, mas ela respondeu "ach!, eu acredito que você vem". Depois engatou em uma longa explicação sobre como chegar à pensão, da qual eu realmente não precisava, mas tentei não pensar nos créditos voando embora do cartão telefônico. Ficou particularmente interessada no fato de eu ser jornalista.
Ao chegar, ela me levou a um quarto parecido com os da casa de uma avó. Não pediu documentos, nem falou nada sobre pagamento. Expliquei que teria de fazer uma reportagem no porto. Na hora ela lembrou: "Ora, mas eu tenho um recorte de jornal sobre o descarregamento de um carro brasileiro aqui. Interessa? Vou pegar." Coincidentemente, era sobre a primeira carga do Fox, justamente o assunto da matéria. Pura sorte. Ela também trouxe uma caixa cheia de livros de história a respeito de Emden.
No dia seguinte, teria de sair às 5h30 para ver o descarregamento no porto. Ao chegar na cozinha, encontrei uma garrafa térmica cheia de café e um bilhete da senhora Janssen me oferecendo boa sorte. Não acreditei.
Esse tratamento VIP e alguns contratempos me motivaram a ficar mais um dia na pensão. Aí, pude conversar melhor com ela e conhecer sua história. Seu marido é engenheiro naval. A família Janssen trabalha com navegação há gerações. Depois de construir de navios na China e nos Estados Unidos, hoje ele se dedica a arranjar financiadores para seu projeto mais querido: um tipo de catamarã cujos flutuadores funcionam como submarinos e o fazem submergir e emergir muito rápido. Sobre a plataforma, ficam chatas com contêineres, que podem ser retiradas por rebocadores. Assim, o navio não precisa entrar no porto para carregar e descarregar, deixando tudo muito mais rápido e barato. Aliás, nem precisa de porto. "Enquanto ele pensa no projeto, eu ponho a comida na mesa", diz a dona da pensão.
Karin Janssen nasceu na China e viveu boa parte da juventude lá. Seu pai, Edmund Fürholzer, era agrônomo e conselheiro de Chiang Kai-Shek. Último de dez filhos, ele foi adotado por um tio que era fazendeiro na África, mais ou menos na região onde hoje fica a Namíbia. Veio a primeira guerra e ele foi convocado para o batalhão de comunicações — aqueles sujeitos que andavam com um telefone nas costas. Perdeu um olho e perdeu a fazenda, porque a Alemanha perdeu a guerra e teve de ceder as colônias aos ingleses. Por isso mudou-se para a China.
Na China, acabou sendo convidado pela Reuters para ser correspondente. Recebia notícias da Alemanha só pelo jornal e ficou entusiasmado com o nazismo. Em uma viagem para lá, juntou-se ao partido. "Ainda não sabíamos sobre a morte dos judeus na época", diz sua filha. Ela também não sabe direito se ele não foi obrigado a se juntar ao partido Nacional-Socialista, como muitos intelectuais na época. Em todo caso, não era um bom nazista e por isso um agente foi enviado à China para verificar sua adesão à ideologia. Chiang Kai-Shek, avisado disso, mandou-o fazer uma expedição ao Tibet.
Edmund Fürholzer conheceu lá os lamas vermelho e amarelo, que dividiam o poder político na época. Tirou centenas de fotos do cotidiano local e na volta escreveu o livro Arro! Arro!. A expressão significa "Amigo! Amigo!"; ao mesmo tempo, os tibetanos estendiam um lenço de seda branca e botavam a língua para fora. O objetivo era mostrar que não tinham nada nas mãos nem na língua contra a pessoa.
Quando a situação na China ficou ruim, com Mao Tse-Tung, Fürholzer fugiu com a família para os Estados Unidos, onde se tornou lingüista na Universidade da Califórnia. Depois voltaria ao Tibet para comparar os habitantes locais com os nativos norte-americanos, colaborando na pesquisa das migrações da Ásia para a América pelo estreito de Behring.
Já a Frau Janssen casaria com Herr Janssen e voltaria à China e aos Estados Unidos para construir navios. Sua casa é lotada de livros sobre culturas diversas e de mapas nas paredes. É uma das raras pessoas que conheço a ter mostrado um interesse quase vital em saber como é a vida em outros lugares do mundo. Por exemplo, no Brasil. Talvez por isso tenha me dado tão bem com ela. Na hora de ir embora, ainda me brindou com um enorme elogio: "Você parece uma pessoa que viaja porque PRECISA conhecer o mundo, não porque precisa de desafios." Devolvi dizendo que ela é uma pessoa extraordinariamente boa. "Eu tenho filhos morando longe daqui e alguém sempre ajuda a eles. Por isso eu procuro ajudar aos filhos dos outros", ela me respondeu.
Espero um dia poder voltar a vê-la.
19 de março de 2006, 11:59 | Comentários (21)
é nóis na fitaO debate sobre o voto nulo está rendendo mesmo: agora se espalhou para o blog do Pedro Doria.
Um certo leitor chamado Guilherme inclusive lembra de algo que queria comentar aqui: por que não existe campanha pelo voto nulo na televisão? Se mesmo os partidos mais inexpressivos têm direito a um tempinho para expor suas idéias, o voto nulo deveria ter também, assim como o branco. Do ponto de vista legal, são opções tão válidas quanto qualquer outro candidato.
Será possível levantar fundos para patrocinar comerciais em favor do voto nulo? Algo como os anúncios do Adbusters contra a publicidade e o consumismo.
17 de março de 2006, 14:53 | Comentários (10)
saindo faíscaEstá gostoso o debate gerado pelo post anterior. Uma parte dos comentaristas me acusa de conformismo covarde e hipócrita, enquanto prega o voto no "menos ruim", junto com o Cisco, o Solon e o Parada. Francamente, parece-me que covardia e hipocrisia mesmo é legitimar essa patética mise en scéne com um voto no mal menor. Que se gastem milhões com outra eleição. Com duas, com três, quantas forem necessárias. Gasta-se com bobagens muito maiores neste país.
Já o Alexandre concorda que tanto faz e sugere simplesmente não votar.
Sigo esperando provas contundentes de que vale a pena votar em algum desses candidatos. Tachar a abstinência eleitoral de covardia hipócrita é um argumento que nem no jardim de infância funcionaria.
16 de março de 2006, 14:36 | Comentários (31)
vote nulo!Então é isso, Aidimim será o adversário do déspota cachaceiro. O primeiro reflexo é imaginar que vai perder feio, mas após a experiência com Germano Rigotto em 2002 no Rio Grande do Sul, não dá mais para afirmar categoricamente que um político sem a menor graça não tem chances de crescer. Rigotto, aliás, ficou tão animado com o resultado anterior que o olho cresceu.
Sempre votei no PT. Em 1989, quase fui preso por fazer boca de urna junto com um dos meus tios, em Lajeado. Carreguei bandeira em todas as eleições subseqüentes. Em 2002, já estava um pouco deprimido com os rumos do partido e da democracia brasileira em geral, mas ainda assim não resisti a votar no Lula para presidente. Depois de quase 20 anos, o mínimo a fazer era concretizar o sonho de ter alguém realmente do povo no Planalto e verificar o que o Partido dos Trabalhadores podia fazer.
É. Pois é. Arrependi-me logo de não ter anulado a porcaria do voto.
Não vou me arrepender de novo. Nesta eleição, seja lá quem for que esteja com Lula no segundo turno, anularei. O governo petista já comprovou que é tudo sempre a mesma merda. Enquanto isso, no Congresso, a palhaçada progride, já descendo ao nível do deboche. A democracia representativa pode ser a melhor forma de governo encontrada até hoje, em comparação com as anteriores, mas nem por isso se deixou de fazer política como sempre se fez: com conchavos na calada da noite. Nada importante é realmente decidido conforme regras limpas e claras. Pelo menos desde Bismarck, as leis são feitas do mesmo jeito que as salsichas.
O ideal, claro, seria simplesmente não votar, para não legitimar a palhaçada. Por mais que a população não vote, porém, sempre é possível haver um vencedor com mais de metade dos votos válidos. Por isso o melhor é anular, se a idéia é fazer um protesto. Caso 51% dos votos válidos sejam anulados, novas eleições têm de ser marcadas, como mostra o Código Eleitoral:
Art. 224. Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 a 40 dias.
Já que o povo brasileiro não gosta de levantar a bunda da cadeira para nada, como diz o nosso presidente, muito menos para ficar gritando e levantando cartazes ou botando fogo nas coisas em frente ao Congresso, pode ao menos apertar uma tecla em vez de outra no dia da votação e anular. De qualquer modo o sujeito teria de perder tempo em um domingo para ir até seção eleitoral. Ao menos que use esse tempo para mandar um recado.
Uma eleição anulada melhoraria alguma coisa? Dificilmente. Mas daria um enorme prazer ver os políticos constrangidos por uma ou duas semanas. Como no caso do referendo sobre a proibição do comércio de armas, mantenho-me aberto e esperançoso para ser convencido do contrário por um projeto de governo realmente bom.
16 de março de 2006, 9:14 | Comentários (50)
nunca terei um blogUma crítica pertinente.
15 de março de 2006, 17:03 | Comentários (2)
chega de artista boêmio!Quaaaaaaaaaaaaantas conversas perdidas em projetos mirabolantes e nunca colocados em prática? Um dia ainda vão descobrir que o maior inimigo das grandes obras são as mesas de bar. Lá tudo é discutido, tudo é pensado e articulado, mas absolutamente nada é feito porque em vez do cara ir fazer, no outro dia ele tá de volta na mesa do bar.Tá bom, estou desconsiderando toda uma tradição de artistas boêmios que se reuniram em mesas de bar para revolucionar seu tempo. Mas talvez a diferenças entre os grandes aristas e nós é que eles voltam bêbado pro atelier e trabalham enquanto a gente cai bêbado na cama preguiçosamente.
Uma vez o professor Paulo Seben, ex-alcoólatra, comentou em uma entrevista sobre a influência do álcool no processo criativo: "Se tal artista não bebesse, provavelmente seria ainda mais genial". Na verdade, Mini, não é que eles cheguem em casa e trabalhem: é que, como qualquer publicitário, jornalista ou metalúrgico, um artista também tem seus momentos de preguiça e muitas vezes os dedica ao álcool. E isso só não o impede de se tornar um artista importante quando ele é realmente genial.
Durante as entrevistas para esta matéria publicada na revista Aplauso, alguém comentou que a maconha também não funciona muito bem, acrescentando: "já tentou tomar uma decisão sob efeito de maconha?". Não entrou na redação final.
Indicado pelo Firpo.
14 de março de 2006, 15:44 | Comentários (5)
nada como a falta do que fazerIsso é engraçado. Isso é ainda mais engraçado.
14 de março de 2006, 10:41 | Comentários (0)
ficamos mais limpinhosA classe C gastou mais neste ano. Uma pequena melhora na renda nos últimos anos foi suficiente para acreditarem poder pagar crediários e encherem as geladeiras de alimentos um pouco mais variados e os armários dos banheiros de produtos de higiene pessoal. Conforme o Jornal Nacional, o produto que deu maior salto nas vendas entre as classes D e E foi desodorante.
Então é isso, qualquer pequeno aumento na renda melhora o consumo, o que se reverte em mais dinheiro rodando na economia e mais emprego para as mesmas classes C, D e E. De quebra, o Brasil ainda fica mais cheirosinho, sem aquele bodum de país pobre.
14 de março de 2006, 0:11 | Comentários (7)
às vezes cabe elogiarA Zero Hora até que está fazendo um bom trabalho na cobertura do março vermelho. Só seria legal se fizessem o mesmo esforço de reportagem para explicar ao cidadão se, afinal, as terras invadidas em Coqueiros do Sul são produtivas, ou não, caso em que a invasão teria ao menos um bom motivo.
Ao contrário, por sinal, da destruição das instalações da Aracruz por mulheres da Via Campesina. Essa foi definitivamente um tiro no pé. Talvez a partir deste evento a maneira como as pessoas enxergam os movimentos de sem-terra no Brasil sofra uma inflexão no sentido negativo. Até agora, ainda havia quem simpatizasse com o movimento, ou ao menos reconhecesse algum fundo moral nas ações, devido ao centenário problema de exclusão social no Brasil. Após ver a pesquisadora responsável pelo laboratório depredado chorar em frente as câmeras após perder o trabalho de 20 anos, porém, é impossível manter qualquer traço de simpatia pelo MST, Via Campesina, ou qualquer coisa do gênero.
Foi um tiro no pé a ação, porque finalmente há um mártir para o lado dos produtores rurais e empresários. Os movimentos de camponeses sempre tiveram heróis mortos em batalha para exibir à mídia e ao menos quebrar um pouco da má-vontade da população, notoriamente sensível ao mais fraco no Brasil. Agora, há uma cientista, pessoa produtiva da sociedade, com a vida destruída. E como Billy Wilder ensinou em A montanha dos sete abutres, mil chineses mortos valem menos que um rosto reconhecível preso em uma caverna.
13 de março de 2006, 22:42 | Comentários (38)
cagando leiMarcos Sá Corrêa pede ajuda para redigir um projeto de reforma política para o Brasil. É domingo, o sujeito não tem nada para fazer, acaba enviando uma idéia:
A TV Câmara e a TV Senado transmitirão o Big Brother Brasília em horário integral. No programa, o contribuinte poderá acompanhar o cotidiano de seus representantes, desde o café da manhã até o copo de leite antes de deitar-se, passando por reuniões, telefonemas e encontros com outros políticos, grupos de interesse e lobistas. Exceção para as visitas ao banheiro, desde que o parlamentar esteja desacompanhado.
12 de março de 2006, 19:06 | Comentários (3)
proud to swim homePara quem anda se perguntando como andam as coisas em Nova Orleans, Idelber Avelar faz um excelente relato com olhos de morador.
11 de março de 2006, 16:31 | Comentários (1)
os transgressoresIsso posto, o espetáculo resultante dá a nítida impressão de que, na hora de levar para o palco as supostas comédias, o diretor se deu conta da incoerência e da fragilidade daquilo tudo, e chegou à conclusão de que só o total desrespeito salvaria Qorpo Santo. O resultado é um desastre.
E o pessoal ainda reclama do Jerônimo Teixeira.
10 de março de 2006, 19:25 | Comentários (5)
coisas do cotidianoNada mais triste do que depositar a primeira louça suja na pia, depois que a faxineira fez a limpeza semanal em sua casa.
10 de março de 2006, 11:42 | Comentários (20)
coisas em que você nunca pensouÉ relevante que Spencer tenha escolhido survival of the fittest como resumo da teoria evolucionária de Darwin. Fittest é bem diferente de strongest, ao contrário da interpretação que a maioria das pessoas faz. Fit em inglês significa "encaixar", ou seja, adaptar-se a um espaço ou ambiente. A frase de Spencer tem então o sentido de "sobrevivênvia do mais apto", ou aquele que melhor se adapta ao ambiente, não de "sobrevivência do mais forte".
9 de março de 2006, 19:39 | Comentários (4)
rio 40 grausO que deu nos traficantes cariocas? Em geral esses fuzis roubados do exército apareciam rapidinho, assim que os militares ameaçavam chegar perto das favelas. Desta vez, estão deixando o Rio virar zona de guerra. Não é preciso ser o Delfim Netto para saber que isolar os morros e cortar o fluxo de drogas é ruim para os negócios. Os clientes, afinal, estão na praia. E não é preciso ter servido para saber que os milicos vão encontrar essas armas, nem que tenham de jogar napalm nas favelas.
Chega-se a duas possíveis conclusões: ou os chefões do tráfico não sabem quem roubou as armas e assim não podem entregá-las ao exército junto com um cadáver, ou então eles têm muito mais poder de fogo do que imaginamos aqui fora. De qualquer jeito, fica o risco de as pessoas gostarem da idéia de ter os militares patrulhando a cidade permanentemente. Daqui a pouco, vão começar a achar que a ocupação deve se estender ao Planalto.
8 de março de 2006, 14:48 | Comentários (12)
o que é bom para a itália é bom para o brasil— Senhor Berlusconi, como o governo pode ajudar um trabalhador a ganhar pelo menos 1500 euros ao mês?
— A resposta de Berlusconi, o empresário, é... tentem ganhar mais.
Taí. Esse conselho tem tudo para resolver as mazelas sociais do Brasil também. Ainda bem que existem homens como Berlusconi no mundo.
7 de março de 2006, 10:57 | Comentários (10)
el supremoSão enormes os poderes do general Francisco Albuquerque, comandante do Exército.Na Quarta-Feira de Cinzas, ele chegou ao Aeroporto de Viracopos, em Campinas, 15 minutos antes da hora do embarque do seu vôo para Brasília. O funcionário da TAM lhe explicou que o vôo estava fechado e lotado. Ocorrera um overbooking de feriadão.
O avião já ia em direção à cabeceira da pista quando recebeu ordem da torre para retornar ao pátio. Uma escada foi levada para a porta e um casal de passageiros desceu. Subiu o general, com roupas civis, acompanhado pela mulher.
Informação cortesia de Elio Gaspari, reproduzida aqui porque pichar o nome deste tipo de gente não apenas é divertido, como necessário.
5 de março de 2006, 19:12 | Comentários (15)
apressadinho come cru"No Brasil, não estamos com a pressa de fazer a economia decolar".
Ah, é, Sr. Presidente? Bom saber. Realmente, ninguém está com pressa de ver seu poder de compra retornar e as perspectivas de emprego melhorarem. Especialmente quem não tem trabalho há tempos e já passa fome. Esses definitivamente não têm a menor pressa. Duvido ainda que os empresários vejam problema em perder o bonde de crescimento mundial que está passando agora. Para que crescer, se já somos um país tão bom quanto El Salvador ou Colômbia para se investir? Quem pede crescimento é fracassomaníaco e gosta de nhenhenhém.
A Economist publicou a transcrição completa.
3 de março de 2006, 15:23 | Comentários (15)
guia de viagem diyO Wikitravel ganhou uma versão em português. Para quem não sabe, wikis são sites em que qualquer um pode colaborar com textos e edição, sem precisar de cadastro nem nada. O mais conhecido é a Wikipedia. A grande vantagem é ter toda a Internet colaborando em uma enciclopédia ou guia de viagens, como é o caso do Wikitravel. Perdi a manhã inteira na seção sobre Porto Alegre. Era tudo de que precisava, mais uma coisa para desviar a atenção do mestrado.
3 de março de 2006, 12:33 | Comentários (7)
não existe lugar como o nosso lar1 de março de 2006, 19:46 | Comentários (10)
a flor e a abelinha germânicaE como funcionam os relacionamentos amorosos na Alemanha, ou mesmo a simples putaria? Melhor traduzir uma letra da banda Wir sind Helden da melhor maneira que se conseguir. A música Aurélie diz tudo:
O sotaque de Aurélie é sem dúvida muito encantador
Também quando ela silencia é considerada maravilhosa
Ela não precisa economizar em pretendentes
Pois seus cabelos são mar e trigo
Até mesmo careca teria todos comendo em sua mãoMas Aurélie não entende nunca
Toda noite ela pergunta a si mesma:
"Quando é que alguém
vai se apaixonar por mim?"Aurélie, assim nunca vai dar
Tu esperas demais
Os alemães são muito sutis no flerteAurélie, os homens gostam muito de ti aqui
Olha, na rua todos te seguem com o olhar
Mas tu não notas nada, e porque eles não assobiam
Tu mesma assobias e vais embora
Tu precisas saber, aqui menos é freqüentemente maisAh! Aurélie, na Alemanha o amor precisa de tempo
Aqui só após dias se está pronto para o primeiro passo
Nas semanas seguintes é só falação
Conhecer-se o básico
E só então encontrar-se a dois em algum lugarAurélie, assim nunca vai dar
Tu esperas demais
Os alemães são muito sutis no flerteAurélie, a vida não é assim tão fácil
Aqui palavras diferentes têm pesos diferentes
Todos os rapazes a teus pés
Gostariam de beijá-los, também os legais
Mas tu, tu não percebes
Porque enquanto isso ele fala de futebolAh! Aurélie, tu diz que eu deveria te explicar
Como podem os alemães se reproduzir
Quando as flores e as abelhas só tiram com a nossa cara em Berlin
e mandam ao diabo quem faz perguntas idiotas
b a l a
exile
kuro5hin
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