A Vida Mata a Pau

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M'lhei a meia

Entre o pouco que se conhece por aqui do folclore açoriano não está a canção “À Ribeirinha”. Uma lástima, visto que Porto Alegre foi fundada por casais do arquipélago e a música é divertida demais.

Por algum motivo, a canção que fala do dia-dia com tanta peculiaridade não atravessou a metade do atlântico para desembarcar da caravela Nossa Senhora D’Alminha aqui no continente de São Pedro. E isso que “ao passar à ribeirinha pus o pé e molhei a meia” abre a canção. Referência à travessia, e se viajar um pouco, sobre os acidentes que ocorrem durante. Tanto para mudar de município, cortado por um rio, ou mudar de continente, se viajar um pouco mais.

A narrativa de canelas encharcadas trata rapidamente de uma menina que casou em outra cidade, mesmo tento namorado em sua terra, sem que sua mãe a repreendesse. A filha explica que mamãe lembra de quando namorava papai, tendo fresco na memória o drama carnal que se passa toda mulher.

O Apelo aparece em uma estrofe já no meio da narrativa. A filha implora pela liberação das partes matrimoniais, no que a mãe rebate com um conselho atípico:

Minha mãe casai-me cedo / Que me dói a passarinha!
Ó filha coç'à c'o dedo / Que eu também cocei a minha!

Maravilhoso. Na seqüência, a questão católica aparece novamente. Primeiro com um padre do vilarejo jurando pela vida de seus filhos que nunca pecou, seguido de uma série de ironias usando figuras de santos.

São Gonçalo de Amarante / que estais virado pr'á vila
Virai-vos pró outro lado / que vos dá o sol na pila!

Pila é pinto de criança (alguém corrija se estiver errado). Deve ser desconfortável mesmo ficar com a pila exposta ao sol o tempo todo, fazendo sombra em um vilarejo português. Ainda mais nessas dependências no meio do oceano. A partir desse desapego católico, que faz até o santo ser liberado de sua pose clerical, a voz do povo entoa um ótimo e diálogo entre o homem e a mulher. Sempre ressaltando a virilidade:

Santo António de Lisboa / Que pr'a mim foste um cabrão
Das três pernas que me deste / Só duas chegam ao chão

Seguido do apelo final:

Santo Cristo dos Milagres / casai-me que bem podeis
Que eu já tenh' as unhas gastas / de coçar onde sabeis!

Nós sabemos onde. Namoraram por lá e vieram casar aqui, em terra alheira, para esquecer de tudo. Inclusive essas canções onde os conselhos das mãe são seguidos. Em um porto que ficou um pouco mais divertido depois da descoberta à ribeirinha.

por Menezes - 5 minute não-design de Gabriel - um blog insanus