A Vida Mata a Pau

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Orientação

Chegou a hora dessa gente graduada mostrar seu valor. E ma minha prova foi participando de uma daquelas feiras de profissões, que alguns colégios organizam para seus alunos às vésperas do vestibular. O formato não era propriamente novidade, mas ser sabatinado sobre minha profissão sim, ao menos daquela forma. É normal prestar alguns esclarecimentos para familiares ou amigos sobre exatamente o que você faz da vida, mas a carga de responsabilidade de falar dos próximos 35 anos de contribuição previdenciária para um jovem de 16 ou 17 anos é muito maior do que se pode imaginar.

Com a expectativa de ser um bom palestrante, acordei cedo no sábado agendado e sentei no saguão do colégio, em uma carteira que quase tirou uma lágrima pela nostalgia juvenil e um pedaço do meu joelho pelo aperto embaixo daqueles ferros. Entre eu e os alunos, lado a lado com mais ou menos outros 30 profissionais, apenas filipeta de papel com a minha profissão e um monte de barreiras invisíveis. A primeira era a preguiça. Demorou uns 40 minutos para que algum aluno desses as caras no evento, acho que para falar com o Odontologista, no momento em que uma perigosa roda de chimarrão começava a se formar no setor das engenharias.

Salvo pelo nerd, uma fila de adolescentes foi entrando na sala e acabando com o meu ócio. Se não me engano, o primeiro foi um que veio de mão com a mãe, e de quem não ouvi uma sequer palavra. Todas as dúvidas foram tiradas pela mama do rapaz, ou quase isso. Quase porque o meu entusiasmo era tanto que atropelei com informação a senhora ali algemada ao rebento vestibulando. Eu queria falar das nuances do mercado, de uma profissão em mudança, de paradigmas quebrados. Queria falar da filosofia de cada faculdade e do enfoque que o rapaz deve tomar, queria injetar ânimo no guri por ele ser o primeiro – agora me dou conta que ele chegou mais cedo porque veio de carona com a mãe – queria não estragar tudo. Depois disso, mais um tempo sem ninguém, que serviu para que eu refletisse sobre o que deveria dizer. O clima colegial me encheu de ânimo verbalizador mas me tirou o conteúdo, portanto, jovem outra vez.

Mais contido, recebi o segundo, depois duas garotas e mais um rapaz, assim até perder a conta. Como o pandeiro já estava esquentado, iluminei o terreiro e passei a competir com o médico, com o engenheiro civil e com a psicóloga pelo primeiro lugar. Uma contagem mental que ficava mais interessante a cada vez que eu tinha que responder perguntas repetidas, mas que não incomodavam em nada. Falavam de remuneração, que os pais se preocupavam, eu dizia que não tava fácil pra ninguém, e que o pai de deles não conhece a realidade se indica profissões hiper-saturadas como solução tradicional de escolha. E tudo que eles querem ouvir é que os pais não sabem de nada. Até mesmo aquele cara que veio com a mãe, que depois voltou sem a velha para mais esclarecimentos.

Mesmo tendo só alguns anos trabalhando na minha área, posso apostar em quais ali darão bons trabalhadores. Claro que a margem de erro é grande, mas tem coisas que você reconhece na hora que a pessoa fala contigo, com o tipo de colocação que eles fazem. Essa observação me faz ter certeza de algo que eu já desconfiava: quem é patrão e tem muita experiência não olha para nenhum currículo, não lê nenhum portifólio, não pergunta a formação e a qualificação, contrata só olhando o cara caminhar. “hum, esse deve ser disperso”, “olha aquela mancadinha ali, deve ser criativa mas retraída”, e por ai afora. Tem gente que deve o emprego ao molejo, e não só o que envolve despir-se. Nessa hora mais vale um pé chato do que umas costas quentes.

No final, voltei para casa pensando na realização de cada um e na minha, em transmitir ao vivo do front como as coisas andam. Talvez uma felicidade de quem acredita que a jovem retaguarda vai mandar reforços quanto estivermos agonizando feridos pela falta de originalidade. Talvez por pensar que dei o recado certo, de que a escolha deve continuar sendo pelo que se gosta. Não cheguei a explicitar, mas se o cara quer realmente pensa só na grana, não entra na faculdade. E sim deve fazer um fundo de investimentos com o dinheiro que estaria indo para os padres e mestres da educação e acreditar no dólar flutuante e na capacidade desse Brasil pandeiro manter dinheiro aqui dentro. Claro, e assim gerando mais empregos para esses garotos, seja qual for a escolha deles.

por Menezes - 5 minute não-design de Gabriel - um blog insanus