A Vida Mata a Pau

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Primeiro grau

Em recente ida a uma agência dos Correios, fiz duas remessas: uma contendo um baralho em um envelope de papel pardo pequeno e outro, contendo três baralhos em um envelope formado por dois pequenos colados.

O peso do menor apontado pela balança foi de 49g, o valor que estou acostumado. O maior pesou 142g, que dividido por 3 dá, mais ou menos 47g. Entre esses números, conversando com meu amigo Moacir, fiquei questionando quando o Papel do envelope, empapuçado de cola, pesava nessa conta. Então voltei à carteira do colégio e me veio uma sentença.

Assim, sendo X o baralho e Y o envelope, temos o seguinte sistema:

x + y = 49
3x + 2y = 142

Pegando a primeira equação, que representa o envelope com um baralho apenas, isolamos o Y, que fica:

y = 49 - x

E logo tempos ele na segunda equação, onde lembrando, eram 3 baralhos e dois envelopes:

3x + 2y = 142

3x + 2 (49 - x) = 142

3x + 98 - 2x = 142

x + 98 = 142

x = 142 - 98

x = 44

Então o baralho pesa 44g. Logo, o resto pesa 5g, como deduzimos de:

y = 94 - 44

y = 5

O que ocorre é que esse 5 é a mistura do peso do papel do envelope com a cola usada nele. Em um cálculo futuro, posso acabar apanhado por gramas fora do lugar devido a essa variável. Assim, é bom saber quanto desse peso é cola e quanto é celulose.

O caminho para isso é fácil. O envelope é feito de um papel com de 90g de gramatura. Isso significa que um metro quadrado da folha que deu origem a ele pesa 90g. Logo, calculando a área de papel usado pelo envelope, podemos calcular seu peso com uma regra de 3.

Começamos pela área do envelope, que tem 12,5cm de altura e 17,5cm de altura, com uma aba de 2,5 cm.

Área do corpo + Área da Aba = Área do Envelope todo, representado por w.

w = (12,5 x 17,5) + (12,5 + 2,5)

w = 218,75 + 31, 25 = 250 cm²

Sabendo que um metro quadrado são 10 mil centímetro quadrados, chegamos na seguinte regra:

10.000 --- 90g
250 --- w

Logo,

10.000w = 90 x 250

w = 22.500 / 10.000

w = 2,25g

Sendo o papel responsável por 2,25 gramas do peso do conjunto todo, podemos achar o valor da cola. Sendo a variável z a cola e y o conjunto.

y = w + z

5 = 2,25 + z

z = 5 - 2,25

z = 2,75.

E era isso. Ou melhor, ainda é. E será. Nada mais natural.


Voltei

Reparem como é difícil dar tchauzinho com a mão para si mesmo. Fica muito estranho. O movimento da mão passa longe de ser natural, acontece incomum e desengonçado. Talvez seja a posição do antebraço impedindo o molejo da mão, ou ainda a nossa dificuldade em dividir corpo e alma.

Abanar para o próprio corpo pode ser o passo para a morte, para largar o carnal e abraçar sem medo as questões espirituais. Não fazer isso direito é um aprendizado ou uma luta inconsciente do cérebro para que não aceitemos a idéia de desvincular uma coisa da outra. Seja como for, foi mais difícil para mim auto-despedir da minha mão do que esquecer as férias.

Voltei do meu repouso, e como uma frase adolescente que não se manda da minha mente e até do meu corpo, só digo: continuo viajando. Obrigado aos que continuaram navegando por aqui. Se esse blog continua existindo com criatividade eu não sei, mas 15 dias sem pensar em quase nada me deram uma quinta-feira revigorada, com um monte de coisas que eu anotei para nunca tirar do papel, mas que ocupam áreas da massa cinzenta que, suspeito, cuidavam da coordenação motora.



Ainda vão me agradecer

Sonhei com o Romário. O cara estava numa casa típica de subúrbio americano, no estilo Pimp my Ride, cercada por tiras, todos esquivados atrás de seus carros. Meu papel era entrar na casa e colher uma informação com o camisa 11.

Entrei tranqüilamente com o baixinho que horas parecia estar na janela da cozinha de meu antigo apartamento, o que não conta. Deu-me alguma dica sobre se fazer de leitão para mamar deitado. E dizia que sim, se convocado, ele tranqüilamente estaria em condições de jogar a copa do mundo. No momento eu soube que essa era a informação a ser descoberta, agora eu só tinha que encontrar o pai do Romário (?) e ir falar com o técnico da seleção canarinho.

Nada disso importa.

O sonho importante já tem meio ano. Acordei com a desgraçada da sensação de meio-lembrar do esquema. Por alguns minutos, ou segundos, eu tinha exatamente todo o plano na cabeça para acabar com o efeito estufa. Naquele fenômeno recorrente, esqueci a bagaça, e só lembro do que eu tive tempo de anotar.

Ao acordar eu entrava em uma convenção na ONU. Ou não. O mais provável é que eu tenha ilustrado com o salão da ONU já desperto. Sabendo conscientemente que um plano pra salvar a terra seria ouvido em um lugar como aquele, ó minha inocência.

Só conseguia pensar em como era fácil a solução e que estudar não era preciso. Esqueci ao acordar toda a segunda metade do plano, mas para descarrego de consciência, vou esboçar aqui a parte que guardo:

Antes de tudo devemos explodir a lua. Com cuidado, é claro, para que nenhum pedaço grande caia na terra. Lembro que explodir era muito arriscado, eu ia sugerir que de alguma forma mudássemos a órbita da lua, para que ela perdesse o contato com a terra em algumas décadas. Não temos décadas, é o problema.

Acabar com a lua tem como objetivo mudar a inclinação do eixo terrestre, e desachatar um pouco o globo. Para que? Aí que eu não sei. Só sei que sou tão nerd que a relação eixo terrestre-massa lunar existe.

* Publicado originalmente em Março de 2005. E deixem eu curtir minhas férias.


PANGUINEÍSMO*

Descubra como o monobloco africano vem tirando o sono do mundo.

Há cerca de dez meses poucos levaram a sério a insurgência que teve local na cidade de Conacri, capital da Guiné - tudo parecia mais uma briga de gangues motivado por uma arbitragem confusa num jogo do campeonato local de futebol - o que poucos perceberam é que as torcidas não brigavam entre si, e sim cooperavam sem nenhum pretexto aparente. O governo resistiu sitiado em um hotel por cerca de dois dias, quando se rendeu a insuportável maré de boa vontade emanada da multidão que cercava o prédio e insistia em fazer silencio durante a noite, enviar alimentos e tratar dos feridos. O presidente Abu Sâmara acabou renunciando para acompanhar um comboio de ajuda humanitária até a vizinha Guiné-Bissau, país que enfrenta as mazelas da guerra civil subseqüente ao golpe militar de 1998.

Em Julho Passado, foi a vez da Guiné-Equatorial sofrer processo semelhante em seu território. Um garoto perneta foi promovido a chefe do estado maior depois de comprovar em um show de televisão o seu talento em fazer embaixadas com um coco seco. Segundo um levantamento da emissora local, cerca de 60% dos telespectadores estavam confusos aquela tarde. Não satisfeita com a ascensão do seu caçula, ânimo organizou junto com o veterano general Jean-Jacques Bouneé um golpe de estado que acabou frustrado, possivelmente em conseqüência da dedurada feita pelo próprio menino, que se dizia já cansado daquela vida de servidor publico. O Presidente, que até então se mantinha ao largo da confusão, mandou fuzilar os conspiradores, incluindo Jean Jacques e a mãe do garoto. A reação dos populares foi imediata: os duzentos mil habitantes da capital Bata deixaram seus lares em direção ao norte, muitos levando apenas sua roupa do corpo, rumo a republica de camarões. Segundo as ultimas informações o chefe de estado e o menino continuam despachando no solitário no palácio da presidência.

ANDARILHOS SÃO RECEBIDOS COM FESTA EM YOUNDEÉ

A chegada a Youndeé (capital da Rep. de Camarões) foi marcada com uma festa popular, calcula-se em 3 mil o números de mortos na jornada e mais 3 mil nas festividades - óbitos creditados a acidentes com minas terrestres, vermicidas, fome e balas perdidas - número insignificante perto dos cerca de meio milhão de novos adeptos à caminhada. Misturados à populaçao regular, os Guineenses sumiram do mapa.

Coincidência ou não, todos os paises que ficam entre Guiné e Camarões tiveram seus governos derrubados desde a eclosão desses estranhos acontecimentos. Analistas internacionais apontam para possível infiltração de tropas das duas guinés agindo em conjunto nas outras nações. Segundo uma corrente de pensadores a invasão silenciosa de Camarões e a invasão disfarçada de ato humanitário sobre Guiné-Bissau já são um dos maiores exercícios de inteligência militar da historia. Aproveitando do natural descaso que o mundo tem quando o assunto é África, chefes militares teriam começado uma empreitada sem volta (batizada por eles de Operação Gnu) visando dominar o mundo.

Segundo a mais otimista projeção destes analistas o mundo todo cairá em cerca de 20 anos como caíram Serra Leoa, Costa do Marfim, Gana, Togo, Benin e Nigéria numa reedição desenfreada do Dominó Asiático dos anos 60.

GOVERNO DE PAPUA-NOVA GUINÉ MANTÊM SILÊNCIO

No distante pais asiático de Papua-Nova Guiné nada se comenta sobre o incidente, segundo fontes do governo qualquer especulação não passa de mera especulação, e Nova Guiné pretende continuar com sua postura de neutralidade adotada nos últimos anos. Mesmo sem demonstrar qualquer intenção de invadir seus vizinhos a Ilha está sendo alvo das atenções dos governos do continente. A embaixada japonesa foi fechada e a marinha da Indonésia tem patrulhado águas internacionais a procura de atividade suspeita. O clima de nervosismo é tão grande que um acabou afundando um navio mercante Filipino por engano, registrando até então as únicas baixas oficiais da “guerra”.

NÚMERO DE CONFUSOS CRESCE

Analistas discordam, chefes de estado não ligam, telespectadores trocam o canal em ritmo frenético, inspetores das Nações Unidas coçam suas feridas enquanto populações perambulam pela savana. A conseqüência imediata do Pan-guineismo é a confusão geral.

Número de Confusos

Alarmado com a possível eclosão de uma nova ordem mundial, o Papa Karol Vojtila o João Paulo II -, agendou uma visita à Papua-Nova-Guiné. Logo na chegada, sua tentativa de beijar o chão foi impedida por populares, sob a alegação de que seu já precário estado de saúde poderia ser agravado com contaminação por bactérias que se desenvolvem no solo árido da região a licitação para o asfaltamento do aeroporto costuma ser a única pauta política discutida no país desde sua independência; somente as pessoas que ignoram o fato do país já ser independente não falam sobre o aeroporto, e reúnem concatenando um movimento de libertação nacional.

Mas após impedirem o beijo no solo, populares contestaram a gravidade do estado de saúde do pontífice - o que se sabia é que Vojtila sequer conseguia se mover. A animada tentativa de alcançar o solo sem a ajuda de seus assistentes provocou uma certa revolta contida na população. Assustado, João Paulo II foi levado à um púlpito e informou que escolhera Papua-Nova Guiné para fazer o anúncio de sua morte.

Neste momento (19:25 da noite, 15:25 GMT) o Papa continua anunciando que sua hora chegou, em todas as 152 línguas que domina. Populares aguardam com impaciência o momento que a morte do beato será anunciada na língua local. Analistas cogitam o fato de Vojtila não saber qual é a língua local, e consideram a atitude papal como a última tentativa de manutenção do território do Vaticano longe do domínio das Guinés.

Publicado em Janeiro de 2005, em parceria com Antenor. Especial de Férias aqui é feito o Jô Soares, só reprise.


Enriquecendo um vocabulário de merda*

Em recente encontro amigável foi sugerido o seguinte joguete: as pessoas se reúnem em um circulo com os punhos cerrados, um dos membros da turma é o chefe. Todos, como se jogassem escoteirinho pronunciam cadenciadamente a frase “mundo dos...” e o chefe completa com alguma área do conhecimento humano. Digamos: mundo dos carros, mundo das aves de rapina ou mundo dos times de futebol europeus – vale qualquer coisa. No momento em que o chefe faz a escolha todos devem apontar algum numero com os dedos, obviamente de 1 a 10, salvo manetas. O chefe então deve contar os dedos seguindo o alfabeto, cantando o abecedário. Quando todos os dedos forem computados, os participantes devem rapidamente procurar uma palavra, objeto ou pessoa com a letra final que se encaixe no universo previamente delimitado pelo Chefe.

Quem falar primeiro algo que se encaixe ganha um ponto, que geralmente não é computado.

Foram bons momentos com esta diversão barata e infantil, principalmente depois que descobrimos o mundo das gírias para coco. Meu deus, toda letra é letra, toda palavra é palavra. Desde L de Lamartine Barros até M de Mandela. Fiquei pensando muito sobre a possível ligação racista entre coco e Nelson Mandela. Quando alguém anunciava que ia libertar o Mandela, durante a minha infância, só consegui pensar no pobre homem encadeado, louco para ver a luz do dia. Nunca tinha parado pra pensar na cor do ativista sul-africano – essa maldade só veio anos depois e esse fim-de-semana foi embora. Constatei com o jogo que qualquer nome ou palavra pode designar um troçulho, num fenômeno semelhante ao que acontece com as palavras que representam o dinheiro.

Bom, s o N é de Noel Rosa, também é de Nigel Mansell. Pense na situação: seu primo saindo do banheiro e sua mãe com passos curtos e ágeis vindo pelo corredor, então, o afilhado solta “tia, vai no outro que eu acabei de mandar o Nigel Mansell pro DEMAE cuidar”. É tudo contexto, é a mesma amarelada e fedorenta bosta, e sua mãe perceberá, mesmo não conhecendo o leão britânico e sem imaginar a cor da pele do piloto. O fenômeno continuará presente enquanto tivermos a bendita mania de anunciar que fomos aos pés, o que em muitas vezes representa o melhor que produzimos no dia. Só não esqueça, seja como for, puxe a descarga – deixar o capitão à deriva é cagada!

* Texto publicado originalmente em Novembro de 2004 - Especial de republicação que vai ao ar durante minhas férias.


As cacetadas que a vida me dá

Sentado no bolicho, olhando para frente ouço alguém “o Elvis é viado?”. Olho para a esquerda com o canto do olho e respondo ao sujeito de japona azul e com cara de louco que sim, esta era a senha para entrar na festa. Não tive tempo de estranhar que um completo desconhecido quisesse saber a senha para o aniversário de meu amigo, que se realizava alguns metro rua abaixo, já que o débil mental desferiu um soco com a mão direita, uma verdadeira patada, um coice em direção ao meu já castigado crânio. Por sorte, a paulada acertou um pouco acima da minha orelha e se desviou pela nuca, de raspão – não gerando nenhum maior trauma ou dor. Estávamos ali há pouco mais de 5 minutos, eu e Nico, que tentava enganar sua fome de início de madrugada enquanto seu misto-quente não chegava. Levantei indignado e me deparei com um sujeito totalmente fora do ar, que no momento mantinha suas duas mãos para dentro do abrigo – um louco que dá um soco de graça pode muito bem dar uma facada de graça ou um mesmo um balaço. Consegui manter a calma e não ir para a briga, possivelmente pelo estado de surpresa completo que era ilustrado pela frase “o que é isso?” de Nico que me atingiu junto com o punho do sujeito – quando o Nico não sabe o que se passa não me sinto envergonhado de ficar sem reação. Foi Nico também que deu a idéia que fossemos embora, a fim de evitar mais patifaria. Agradeço ao amigo que acabou por não matar a fome, apenas embolsando quatro paçocas. O mais grave de tudo.

Nessas duas semanas já ouvi versões diferentes do ocorrido, desde “o Menezes brigou com um assaltante” a “o Menezes tem uma gangue de admiradores do Elvis”, também lamento a falta de uma cortina ideológica que permitiria um quebra-pau generalizado no recinto, mas fica aí o boletim oficial.

Ainda sem dormir, vou a outro aniversário – sem citar nomes – onde tudo que encontro é boa vontade. (neste momento o texto vira uma crítica musical – eita pretensão típica de portoalegrino) Com meus dois ouvidos intactos, tenho a chance de ouvir e dançar ao som da Semoventes e da Superguidis. A primeira tem nos vocais o mesmo Nico acompanhado por cinco bárbaros, com destaque para a insana presença de Rodrigo, que grita e tem convulsões convincentes durante todo o show – finalmente entendi o falar baixinho e o jeito despreocupado do sujeito – com a quantidade de energia que ele gasta em um show é compreensível que ele opere em stand-by pelo próximo mês. Mesmo a convivência com a pura nata da capetagem, um punhado de amigos e de virar a noite para ir a uma aula boa (o que é raro quando se estuda comunicação) ainda não tinha recobrado meu sono.

Voltei a dormir na manhã desta quinta-feira, ao escutar no rádio que Fidel Castro havia caído. El presidente escorregou durante uma cerimônia de formatura, possivelmente fraturando o braço e alguma costela, calmo, Castro sentou-se e discursou. Avisou que o pequeno acidente não o impediria de trabalhar e que queria desde já abafar os boatos. Eu deveria ter feito isso há 15 dias atrás – um homem com aquela idade, fazendo um discurso bem humorado desses ser responsável por aquele regime porcaria e sanguinário de cuba, não dá pra entender. Resta a certeza que o mundo é um lugar ruim demais para a quantidade de gente boa que tem nele.

* Texto publicado originalmente em Outubro de 2004 - Especial de republicação que vai ao ar durante minhas férias.


YouTUBE, o grande momento do futebol.

Inaugurando a série de jogos ue a TV brasileira não passou e que podemos ver décadas depois, a final da Eurocopa de 1992, jogo no qual a Dinamarca venceu a Alemanha por 2x0.

Os dinamarqueses, que são alemães com nomes de suecos, só participaram da competição depois da desistência da Iugoslávia - que ganhou o grupo das eliminatórias e levou de brinde um fraticidio. Depois de se classificar para a segunda fase junto com os anfitriões suécos, os dinamarcos (como diria Casagrande), venceram a Holanda na semi e deram uma aula de objetividade nessa final.

Schmeichel, Sivebaek (Christiansen), K. Nielsen, L. Olsen, Piechnik, Christofte, J. Jensen, Vilfort, H. Larsen, Povlsen e Brian Laudrup venceram os então campeões da Euro (Holanda 88) e do mundo (Alemanha 90) e levaram o caneco.

O mais triste é saber que a Globo deve ria estar passando na mesma tarde-manhã daquele domingo um Corinthians x Cruzeiro que acabou zero a zero e decidiu quem seria o 16 colocado do brasileirão daquele ano.


Cala boca, Zé Kundum

Depois de mergulhar em colapso por cinco anos atrás de discos do Sérgio Sampaio, um usuário do Soulseek iluminou meu caminho e permitiu que eu baixasse a tão cobiçada canção "Que Loucura" do disco "Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua". Finalmente consegui ouvir novamente aqueles versos sobre uma passagem do cantor pelo hospício do Engenho de Dentro. Foram tantas repetições que o Last FM me escreveu pedindo para parar com aquilo imediatamente.

Decidi futricar nas outras músicas do rapaz, e encontrei uma pérola chamada "Pobre Meu Pai". Aparentemente com pouco a dizer, a música fala de forma muito velada sobre um filho que tá metido com os tóxicos, mas não se desculpando, mas sim dizendo que o pai jamais vai entender o que se passa. Comecei a desintegrar com o seguinte verso:

"A marca no meu rosto é do seu beijo fatal
O que eu levo no bolso você não sabe mais
E eu posso dormir tranqüilo amanhã"

Terminei por desaparecer com o prosseguimento sutil na forma de:

"Hoje, meu pai
Não é uma questão de ordem ou morar
E eu sei que posso até brincar meu carnaval"

E isso me lembrou algo muito distante, que alguém mais deve lembrar. Vejam só: dos anos 70, com o samba-canção e demais castigos corporais voei como três passarinhos para o hit supremo do Akundum nos anos 90, a canção Emaconhada. Não consegui parar de pensar naquele Reggae (ou seria um baião) com seu baixo que mais parece um brinquedo de piscina sendo pisado e sua letra absolutamente genial. Um pai, preocupado com as más companhias da filha, procura um médico e relata as laricas, os olhos vermelhos e os amigos suspeitos que passaram a fazer parte da rotina da adolescente.

A frase que está na ponte, antecipando o refrão "O que que eu faço, seu doutor" é a síntese de tudo que o Marcelo D2 queria ter escrito em vida e nunca conseguiu. Sente qualé, neguinho:

"A droga da vizinha, tá me dizendo que tudo isso é obra da erva danada
Tem pai que é cego, que não se conforma com a parada
Mas o diacho da menina tá virando emaconhada".

Vejam que a vizinha é tratada como "Droga", o que mostra que mesmo criticando, o pai tem um grande apego à honra da filha. E mesmo que essa senhora fofoqueira venha alertá-lo, e ele leve a coisa a sério, continua sendo uma afronta familiar. Na seqüência, o terma emaconhada, totalmente em desuso é ressuscitado com maestria, para mostrar a inadequação e dificuldade do velho em tratar do tema.

Comovente.


Bairrismo amigável

Acabei de dar uma entrevista numa rádio de Criciúma, a Eldorado AM, no programa Estúdio 570. Depois de responder as ótimas questões do radialista sobre o Super Trunfo Católico (uma das melhores entrevistas que já dei) ele me pergunta se tenho um recado final para os ouvintes.

E eu, pregando o bairrismo e a rivalidade RS – SC disparo:

“sim, um abraço a toda equipe da rádio, um bom dia para os ouvintes de Criciúma e lembrando que Ucho Ucho Ucho, o Papa é gaúcho”.

Ah, desculpe o umbiguismo, mas gostei tanto dessa declaração que tive que dividir. Pra quem não lembra, “o Papa é gaúcho” era o grito da população de Porto Alegre na ocasião da visita de João Paulo II ao Rio Grande do Sul. Anos depois, ao discursar no Maracanã, ele lembrou desse momento, dizendo que “no Sul dizem que a Papa é Gaúcho”, consagrando de ver o refrão.


Saiam do meu blog!

E leiam o que Foguinho faria se ganhasse na loteria. Não sou de ficar indicando coisas fora daqui sem agregar conteúdo, mas depois da gargalhada que dei no ítem da limosine, acho que seria egoísmo não dividir.

Em tempo: estamos em baixa atividade aqui para cumprir o cronograma das férias que vem ai. Só posts programados. Agueardem.

- Silvio Santos.


Cinema em casa

Liguei a TV e a primeira coisa que ouvi daquela tela quente foi "são nove homens armados com Ak47". Desmembrei uma hora de filme naquele momento - não que seja um feito pra quem assiste um canal que passa filmes do Cacá Diegues - mas a dica do fuzil russo Kalajnikov (AK 47) dizia muito: eram terroristas de algum canto do mundo fazendo pobres americanos de reféns em um prédio público. Me parecia mais lamentável ainda, já que fazer refém é tão anos 70 - o que prova que o Brasil tá sempre um passo atrás, até no crime - hoje em dia terrorismo é explodir e entrar atirando.

Fui desmentido na cena seguinte. O grupo terrorista era formado por brancos, todos fluentes no português dublado, o que indica que são norte-americanos. Stallins me mordam, mas o que faziam com um fuzis russos? Afinal, qual a dificuldade de um americano em comprar armas mais modernas e baratas no mercado interno deles, se um coreano com passagem pela polícia se encapetou de trabucos para dar o banho de sangue numa universidade.

A arma não caracterizava nada, e mostrava um filme estranho. Diferente do que acontece no Rio de Janeiro, um fuzil de assalto não é usado nas ruas, para assaltos mesmo, e sim para missões em campo aberto. Estranho demais, mais confuso até mesmo que eu, ao ver a SWAT entrando no recinto na tomada seguinte. Numa ação cirúrgica e limpa, mataram todos os bandidos e salvaram o dia. Nada de apontar armas para um menino cubano nos braços do pai, ou atirar a esmo em tudo que se movesse, ou ainda deixar o local incendiar matando o trilho de pessoas que os terroristas conseguiriam fazer. Só assim entendi que era realismo fantástico, e dos bons. Inusitado pra TV Globo, quase cult. E filme Cult é uma merda. Desliguei.


Curiosidade não é pecado

Se você escutou o programa Você é Curioso da Rádio Bandeirante, deve estar Curioso para saber sobre o Super Trunfo Católico. Pois então é só ver para crer:


Super Trunfo Católico - 32 cartas ( 29 Santos + 01 Jesus + 01 apresentação + 01 regras)
Tempo de entrega - uma semana.
Contato - arabe.luther@gmail.com


Pirâmide no Delta Triangular

A enrolação é inimiga da pertinência. Ao menos essa que exerço aqui, válida para o consumo e entretenimento. Passei horas pensando como começar esse tratado, e o resultado não é melhor do que se tivesse escrito logo de uma vez o que me veio a cabeça quando ouvi o termo "Pirodatilografia".

E não adianta, a gente não aprende. Então, eis desce da morada dos deuses Ra para me orientar e exigir que eu toque fogo nos papiros. Ó Deus do sol, que núbio mal agradecido por mais seria se não seguisse o que mandas. Não mereceria sequer o espaço que me é destinado entre esses pedregulhos erguidos de tédio e aceitos como maravilhas.

Que seja contra isso o meu datilografar em chamas. Sem as restrições que cabem a nós, minoria que busca produzia, deixando a sorte guiar e construir um sentido final nas coisas – ou me garantir uma camiseta bonitona. Como esse símbolo me faz ver.


Ra-pirodatilografia.jpg


Logotipo criado por Marcelo Halpern. "Pirodatolografia" é uma criação comum com Cavinato.


Homem bonito não paga

Alô pessoal da região metropolitana! Hoje tem show imperdível de Marcito na cidade de Porto Alegre. Sintam o serviço e ouçam o mySpace do garoto:

Quando? Dia 3 de maio, nessa quinta-feira, às 22h.
Quanto? R$ 10,00 com poesia liberada e queridismos a granel
Onde? Manjar Pub - Rua Dona Cecília 01, esq Azenha, pertinho do Olímpico.

Lembrando que é a estréia da carreira solo do rapaz, que anda compondo trilhas sonoras de amor pelo mundo, participação especial dos Pogoboys. Apaga a TV e me abraça.


Para o Rock Brasileiro crescer.

Na ânsia de economizar 2 reais, entrei antes da meia-noite no bar onde aconteceria o show. Desacompanhado de meus amigos que só chegariam uma hora depois, peguei uma Sol que me fez arrotar sem parar e me virei para o palco. Para minha surpresa, mesmo em um ambiente cheio de gente, eu podia ver o palco por completo. E sem fazer esforço, o que não é comum distante 25 metros dos músicos e estando um metro e oitenta centímetros do chão.

Tirando uma mufa capilar ou outra, eu tive a certeza rapidamente de estar frente a uma horda de baixinhos, uma verdadeira conferência da nanicolândia. Mais ou menos como deve se sentir um adulto no show dos Rebeldes, que é como se chama a Novela Malhação feita no México e como a banda que tocava adoraria ser rotulada. Todos eram de 3 a 5 anos mais novos que eu e uma cabeça mais baixos. Outra coisa que os unia era a amizade com a banda, que verifiquei na insistência do diálogo público-artista através do microfone, um troço muito, mas muito chato sempre.

Como ouvir a música era impensável e não tinha ninguém para conversar, fiquei refletindo sobre os motivos da baixa estatura do pessoal, que lá pelos seus 20 anos já tinha que ter crescido o que havia de ser agigantado. Se o Rock fazia mal para os músculos, eu acabara de ser informado, e tinha uma penca de amigos e lembranças para negar essa lei.

Pulei a parte biológica e fui para a sociologia. Imaginei essa garotada no colégio e na década que vivemos. Cantarolei Papo de Jacaré e tive uma revelação um tanto quanto óbvia.

Os maiores da idade deles estão no Pagode, Axé e Hip-hop, todos os gêneros e culturas onde as mulheres estão mais expostas e oferecidas. Para os pequenos, resta a opressão e a mágoa, a sensação de solidão e clausura sem mulher. Afinal, já disse a banda Cissa Guimarães “mulher no show de rock não quer um namorado, ela precisa de um terapeuta”. Até que um dia ele olha para uma banda que existiu a 40 anos atrás e pensa "hey, eles são do meu tamanho, acho que comprarei uma guitarra". Como as roupas do pai servem neles, o que não acontece normalmente com outras pessoas, está criado um nano-mod.

Nada contra, por sinal, eles parecem se divertir na medida certa, sem forçar a barra. Que bom que eles estão felizes. Tirando dançar músicas do cachorro grande, parecem com o que fizemos um tempo atrás, e isso é até bom de ver. Pena que a banda de abertura era tão ruim. Se bem que isso não mudou tanto.

E até meus amigos chegarem, fiquei com cara de desinteressado em tudo sem fazer força, o que é uma grande evolução para alguém da turma de 1981.


Para as que estão em casa

Atenção, mulheres! Guarda-chuva estampado é para vocês. Se foi um homem ou uma mulher que inventou eu não sei, mas vocês incentivam, consomem e usam como complemento para o vestuário em dia de chuva. Portanto, é obrigação sempre usá-los. E o mais importante: façam o favor de não tocar no meu guarda-chuva escuro. Não estou afim de andar por ai com um objeto todo florido, de alça minúscula para atender aos caprichos da moda de alguma mulher que mora comigo. Muito menos ter a desagradável surpresa logo cedo, ao saber que a minha escolha é entre uma porcaria daquelas ou tomar chuva. Não me forcem a adotar o plano B, que é desenhar caralhos e sacos peludos no meu guarda-chuva com uma caneta-corretivo, e garantir para sempre que ficarão longe deles.


por Menezes - 5 minute não-design de Gabriel - um blog insanus