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março 6, 2005

Classificação cooperativa

Já conhecendo o sistema de tags utilizado pelo Flickr, del.icio.us e recentemente pelo Technorati, e motivado pelo Folksonomic Zeitgeist no blog do The Observer, resolvi ir mais a fundo no "social tagging" e nas possibilidades de implementar um processo semelhante aqui no insanus.

Folksoquê? - Fica mais fácil se analizarmos o que faz exatamente esse curioso gimmick.

À todos os posts do blog The Observer são adicionadas palavras-chave (tags) que tentam descrever a temática e o conteúdo do post. Semelhante ao processo utilizado no Flickr para categorizar fotos, o autor pode adicionar quantas palavras-chave quiser, sem precisar obedecer campos ou hierarquias pré-determinadas.

O conjunto de todas as tags utilizadas no blog, ou em todo o sistema de uma comunidade (como é o caso do Flickr), é então contabilizado e agrupado por quantidade - as tags mais utilizadas são apontadas uma posição mais elevada na listagem. Representando isso graficamente através de uma variação no tamanho da fonte de acordo com essa classificação, temos o Folksonomic Zeitgeist.

zeitgeist.gif

Zeitgeist, segundo a Wikipedia, vêm do alemão "o espírito dos tempos", e denota o clima intelectual e cultural de uma era. A ferramenta descrita acima, se não chega ao ponto de representar um conjunto de ideais, ao menos mostra o que esteve na cabeça das pessoas durante os últimos dias. Notem como de 'era', passamos a 'dias', fruto das maravilhas da informatização e da Grande Rede.

Uma folksonomia, termo cunhado por Thomas Vander Wal em uma lista de discussão sobre arquitetura da informação, representa esse zeitgeist: o conjunto dos nomes e termos utilizados para denotar um sistema. Juntando 'folk' (povo) com 'taxonomia', temos um processo que surge no final da linha, nos usuários, e é gestionado por si próprio. Por ser independente de uma classificação rigorosa, afinal cada um pode utilizar a palavra que quiser na hora de criar as tags, alguns autores estão preferindo se distanciar do termo taxonomia, que pressupõe uma organização fixa e linear, e tratá-lo como uma ethnocategorização ou uma classificação cooperativa. Social tagging.

Como disse a jornalista Katharine Mieszkowski em artigo na Salon, "a ordem não é proclamada, ela simplesmente acontece". Podendo ser analisado como um modelo caótico, é nessa liberdade que reside o potencial, ou o maior desastre, do sistema. A noção de ordem no caos não é nada novo, porém a aplicação disso como uma possibilidade de categorização começou a surgir apenas recentemente, ou melhor, está acontecendo agora.

Em termos práticos, estamos diante do surgimento de uma nova forma organizacional na internet; uma revolução da auto-organização que alguns proclamam irá substituir os atuais mecanismos de busca. Atualmente listando 400mil palavras-chave e constantemente crescendo, o site Technorati é o primeiro a oferecer uma busca em tempo real da internet categorizada. Ao agregar informações tanto do del.icio.us e do Flickr quanto de milhares de blogs que rapidamente estão adotando essa classificação cooperativa, "está ajudando as pessoas a se encontrarem, expondo e criando novas comunidades" relatou Dave Sifry para o mesmo artigo da Salon.

De relance tudo ainda parece apresentar muitas falhas. Como lidar com ambigüidades, sinônimos, tag spammers e até mesmo os plurais? E quanto à escalabilidade, será que o sistema funciona quando passamos de milhares a milhões, bilhões de tags sendo utilizadas? Um modelo simples, que não deveria dar certo, mas que simplesmente funciona. E isso é a maneira mais natural das coisas.

março 2, 2005

insanus na mídia

Saiu na Revista da Folha deste domingo, dia 27:

Novas comunidades
por Pedro Doria

Um novo fenômeno está se consolidando na internet brasileira: as comunidades de blogs. Pessoas que mantêm sites pessoais com comentários diários se reúnem com gente que tenha interesses afins e montam um portal para abrigar o material de todo mundo. O resultado é a criação de algo que blogs não tinham ainda: uma marca, uma identidade que parece dizer "isso aqui é bom".

Dentre os exemplos mais notáveis está o grupo de gaúchos do portal Insanus.org. Qualquer blog alojado ali poderia estar numa lista que reunisse os melhores do país. Um é o do Filisteu (insanus.org/filisteu), blogueiro sarcástico que comenta qualquer assunto que lhe passe pela frente, de política externa à questão fundiária do Brasil, mas pode ser também quadrinhos ou televisão. Tudo sempre com uma carga de contexto histórico e links, muitos links, para artigos interessantes.

Outro do Insanus é Cardoso (insanus.org/cardoso), uma espécie de pai da geração de romancistas blogueiros. Comenta também as coisas que acontecem e estão na imprensa, mas sua carga é bem mais literária, preocupadíssimo com estilo.

O Insanus, no entanto, não é apenas um guarda-chuva para um punhado de blogs. Na primeira página, onde vão listadas automaticamente as publicações mais recentes dos vários blogs, o resultado é um novo blog, coletivo. E como todos têm interesses comuns e são do mesmo lugar, o resultado às vezes é o de uma cobertura jornalística com análise. Caso, por exemplo, do que ocorreu durante o último Fórum Social Mundial de Porto Alegre. Por vezes, o Insanus pareceu dar mais uma idéia de como eram as pessoas ali envolvidas do que a grande imprensa.

Mas os gaúchos não são o único exemplo. Outra turma é a do Gardenal.org, que se descreve assim: "O Gardenal é administrado por três jornalistas de vinte e tantos anos conhecidos como Senhor Simpático, Senhor Bonzinho e Senhor Afável". Uma das marcas da rede, naturalmente, é a informalidade. Ali, os blogs são divididos por temas: humor, esporte, viagem e turismo, cultura pop.

Sites que hospedam blogs são comuns: do popularíssimo Blogspot.com, dos EUA, a uma infinidade de alternativas, presentes em todos e cada grande portal brasileiro, europeu, norte-americano. O problema é que um site que termine com o endereço blogspot.com não quer dizer nada, qualquer um pode entrar lá, independentemente de ter algo para falar ou não.


Um meta-blog insanus

ou mais um blog sobre blogs

Acompanhar o desenrolar do processo criativo, o crescimento de uma comunidade ou as dificuldades para fazê-la surgir.

Este será o espaço d'outro lado do espelho, onde pretendo tratar do insanus como comunidade virtual, seu funcionamento e relações com nossas (e novas) ferramentas virtuais e as implicações disso na Grande Rede.

As possibilidades de desenvolvimento são muitas, e acredito ser importante manter um registro dos nossos passos. Assim, para aqueles interessados em saber um pouco mais sobre o insanus, stay tuned.