Classificação cooperativa
Já conhecendo o sistema de tags utilizado pelo Flickr, del.icio.us e recentemente pelo Technorati, e motivado pelo Folksonomic Zeitgeist no blog do The Observer, resolvi ir mais a fundo no "social tagging" e nas possibilidades de implementar um processo semelhante aqui no insanus.
Folksoquê? - Fica mais fácil se analizarmos o que faz exatamente esse curioso gimmick.
À todos os posts do blog The Observer são adicionadas palavras-chave (tags) que tentam descrever a temática e o conteúdo do post. Semelhante ao processo utilizado no Flickr para categorizar fotos, o autor pode adicionar quantas palavras-chave quiser, sem precisar obedecer campos ou hierarquias pré-determinadas.
O conjunto de todas as tags utilizadas no blog, ou em todo o sistema de uma comunidade (como é o caso do Flickr), é então contabilizado e agrupado por quantidade - as tags mais utilizadas são apontadas uma posição mais elevada na listagem. Representando isso graficamente através de uma variação no tamanho da fonte de acordo com essa classificação, temos o Folksonomic Zeitgeist.
Zeitgeist, segundo a Wikipedia, vêm do alemão "o espírito dos tempos", e denota o clima intelectual e cultural de uma era. A ferramenta descrita acima, se não chega ao ponto de representar um conjunto de ideais, ao menos mostra o que esteve na cabeça das pessoas durante os últimos dias. Notem como de 'era', passamos a 'dias', fruto das maravilhas da informatização e da Grande Rede.
Uma folksonomia, termo cunhado por Thomas Vander Wal em uma lista de discussão sobre arquitetura da informação, representa esse zeitgeist: o conjunto dos nomes e termos utilizados para denotar um sistema. Juntando 'folk' (povo) com 'taxonomia', temos um processo que surge no final da linha, nos usuários, e é gestionado por si próprio. Por ser independente de uma classificação rigorosa, afinal cada um pode utilizar a palavra que quiser na hora de criar as tags, alguns autores estão preferindo se distanciar do termo taxonomia, que pressupõe uma organização fixa e linear, e tratá-lo como uma ethnocategorização ou uma classificação cooperativa. Social tagging.
Como disse a jornalista Katharine Mieszkowski em artigo na Salon, "a ordem não é proclamada, ela simplesmente acontece". Podendo ser analisado como um modelo caótico, é nessa liberdade que reside o potencial, ou o maior desastre, do sistema. A noção de ordem no caos não é nada novo, porém a aplicação disso como uma possibilidade de categorização começou a surgir apenas recentemente, ou melhor, está acontecendo agora.
Em termos práticos, estamos diante do surgimento de uma nova forma organizacional na internet; uma revolução da auto-organização que alguns proclamam irá substituir os atuais mecanismos de busca. Atualmente listando 400mil palavras-chave e constantemente crescendo, o site Technorati é o primeiro a oferecer uma busca em tempo real da internet categorizada. Ao agregar informações tanto do del.icio.us e do Flickr quanto de milhares de blogs que rapidamente estão adotando essa classificação cooperativa, "está ajudando as pessoas a se encontrarem, expondo e criando novas comunidades" relatou Dave Sifry para o mesmo artigo da Salon.
De relance tudo ainda parece apresentar muitas falhas. Como lidar com ambigüidades, sinônimos, tag spammers e até mesmo os plurais? E quanto à escalabilidade, será que o sistema funciona quando passamos de milhares a milhões, bilhões de tags sendo utilizadas? Um modelo simples, que não deveria dar certo, mas que simplesmente funciona. E isso é a maneira mais natural das coisas.