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Ganhador do Ig Nobel, físico já levitou sapos e descobriu adesivo em lagartixas

agosto 21, 2006

O cientista holandês, de 47 anos, ganhou fama (e escárnio dos colegas) em 2000 ao ganhar o Prêmio Ig Nobel, dado a pesquisas "que não poderiam ou não deveriam ser replicadas". O responsável foi um artigo publicado em 1997 no "European Journal of Physics" no qual Geim e o inglês sir Michael Berry descreviam o uso de ímãs para levitar um sapo.

"Em 99% dos casos é um lixo completo. Mas, uma vez ou outra, esse questionamento do senso comum produz resultados, e o grafeno é provavelmente o exemplo mais espetacular."

Geim pode se tornar, ele mesmo, vítima de um paradoxo: ser o primeiro cientista a ganhar um Ig Nobel e um Nobel. "Sem comentários sobre isso", ri. "Mas tenho muito orgulho do experimento do sapo." (CA) (Folha de São Paulo)

Folha de São Paulo

São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 2006

Ganhador do Ig Nobel, físico já levitou sapos e descobriu adesivo em lagartixas

DA REDAÇÃO

O efeito mais imediato da descoberta do grafeno foi colocar um freio à criatividade de André Geim e seus alunos. Desde 2004 o grupo de Manchester só se dedica a pesquisar as propriedades do novo material -deixando de lado pesquisas, digamos, pouco convencionais, como a levitação de sapos e o desenvolvimento de um adesivo inspirado em lagartixas.

O cientista holandês, de 47 anos, ganhou fama (e escárnio dos colegas) em 2000 ao ganhar o Prêmio Ig Nobel, dado a pesquisas "que não poderiam ou não deveriam ser replicadas". O responsável foi um artigo publicado em 1997 no "European Journal of Physics" no qual Geim e o inglês sir Michael Berry descreviam o uso de ímãs para levitar um sapo.

Naquele mesmo ano, Geim publicou na revista "Nature" a descrição do mecanismo pelo qual as lagartixas se grudam a paredes, o que inspirou o desenvolvimento de um novo tipo de adesivo.

"Eu sempre tive algum tipo de pesquisa que me possibilita obter verbas -se eu dissesse "quero levitar um sapo" nenhuma agência daria dinheiro. E cinco ou dez pequenos projetos nos quais eu pergunto "o que acontece se?'", diz.

"Em 99% dos casos é um lixo completo. Mas, uma vez ou outra, esse questionamento do senso comum produz resultados, e o grafeno é provavelmente o exemplo mais espetacular."

Geim atribui sua forma "sui generis" de fazer ciência, em parte, às próprias origens: filho de alemães, ele nasceu na Holanda e cresceu na Rússia. "Na Rússia ninguém faz as coisas do jeito convencional", brinca.

Aparentemente o grafeno deverá suprir o gosto de Geim pelo bizarro por mais algum tempo. Recentemente, por exemplo, ele e seus colegas observaram no pequeno filme de carbono um efeito que até agora só se achava que acontecesse na evaporação de buracos negros: o chamado paradoxo de Klein, no qual elétrons atravessam barreiras teoricamente intransponíveis como se elas fossem transparentes. O estudo será publicado no mês que vem na revista "Nature Physics".

"Agora, processos fundamentais que acontecem no Universo e estavam fora do alcance até dos maiores aceleradores de partículas podem ser simulados no grafeno", diz.

Geim pode se tornar, ele mesmo, vítima de um paradoxo: ser o primeiro cientista a ganhar um Ig Nobel e um Nobel. "Sem comentários sobre isso", ri. "Mas tenho muito orgulho do experimento do sapo." (CA) (Folha de São Paulo)

Walter Valdevino Estudo , Intriga Comentários (0) Comentários (0)