Pais atraentes geram filhas sem sucesso sexual, diz estudo
outubro 27, 2006
Ter pais bonitos pode ser uma grande maldição. Uma pesquisa canadense revelou que, entre moscas-de-fruta, pais ‘gostosões’ geram filhas que passariam longe das passarelas do mundo animal. Da mesma maneira, mães atraentes têm filhos que não causam lá uma grande impressão no sexo oposto. Em seres humanos, a mesma coisa acontece com algumas características sexuais. Mas, calma. Com algumas, mas não com todas.
Para ele, esses problemas podem ser generalizados, especialmente em espécies com comportamento sexual promíscuo -- ou seja, quase todas. (G1)
Pesquisa mostra que falha de programação do genoma faz com que características sexuais que ajudam um sexo atrapalhem o outro
Marília Juste, do G1, em São Paulo
Ter pais bonitos pode ser uma grande maldição. Uma pesquisa canadense revelou que, entre moscas-de-fruta, pais ‘gostosões’ geram filhas que passariam longe das passarelas do mundo animal. Da mesma maneira, mães atraentes têm filhos que não causam lá uma grande impressão no sexo oposto. Em seres humanos, a mesma coisa acontece com algumas características sexuais. Mas, calma. Com algumas, mas não com todas.
Não é preciso entrar em desespero só porque seus pais foram eleitos o rei e a rainha do baile durante a juventude. Nem sair por aí comemorando porque papai e mamãe costumam escovar os dentes sem olhar para o espelho. A sexualidade humana é algo muito mais complexo, e apenas poucas características são afetadas por esse probleminha de programação do código genético.
Segundo o biólogo Adam Chippindale, da Queen's University, co-autor do estudo, essa particularidade é causada porque o genoma é cheio de conflitos. Neste caso, genes que têm um efeito benéfico em um dos sexos, têm o efeito oposto no outro. Normalmente, esse problema é resolvido ao desligar a parte de menor eficiência, priorizando a ação de apenas pedaços do código genético -- é por isso que machos e fêmeas, na maioria das espécies, são diferentes entre si.
Em alguns genes, no entanto, esse procedimento não funciona. “É como tentar construir uma máquina que faz tudo. Inventores nos anos 1950 e 1960 tentavam construir carros voadores. Até era possível, mas eles acabavam com máquinas que não eram nem muito boas de estrada, nem aviões eficientes”, explicou Chippindale ao G1. “O genoma, forçado a fazer duas máquinas muito diferentes, acaba comprometendo a eficiência de uma delas”, afirma.
Nas moscas-de-fruta, esse conflito ocorre em boa parte dos genes relacionados à sexualidade, passados de geração em geração pelo cromossomo X. “Se uma fêmea que têm uma boa aptidão sexual tem filhas, ela vai passar essa qualidade para elas. Se tem filhos, passará o mesmo gene, que tem uma eficiência menor em machos. Do outro lado, um pai bom de reprodução passa os genes que atrapalham as filhas”, explicou a colega de Chippindale, Alison Pischedda.
“Nosso trabalho mostra que um casamento entre a Barbie e o Ken das moscas-de-fruta resultaria na paradoxal geração de filhos sem muito sucesso com o sexo oposto”, afirma Chippindale.
Segundo o biólogo, a pesquisa contradiz as teorias de que as fêmeas procuram os melhores exemplares de machos para ter filhos melhores. Por isso, é uma má notícia para mulheres que buscam o parceiro mais ‘masculino’. Como essas características de atração sexual são passadas através do cromossomo X, entre homens elas vão exclusivamente para as filhas. Ou seja, o papai bonitão não ajuda em nada o filho e ainda atrapalha a vida sexual da filha. Somente se a filha tiver um neto, ele terá ajudado na continuidade da família.
Isso tudo parece uma decisão não muito inteligente do genoma? Muito pelo contrário. Para Alison Pischedda, na verdade, esses conflitos ajudam a manter a diversidade genética. “Uma pergunta importante na biologia evolutiva é: se a seleção natural favorece os melhores indivíduos em uma população, porque há tanta diversidade genética? Acreditamos que esse conflito pode ser a explicação. A busca pelas melhores fêmeas pode contrabalançar a seleção dos melhores machos e vice-versa. A eficiência da evolução é contida e a diversidade genética se mantém”, diz ela.
É claro que nem tudo depende dos genes. “O sucesso reprodutivo é algo difícil de ser medido, porque é influenciado não apenas pelas características genéticas como também pelo ambiente”, diz Chippindale. “Não sabemos sempre quais características serão traduzidas em sucesso sexual. Por isso, é mais fácil observar esses conflitos nos genomas de organismos-modelo, como as moscas-de-fruta, em laboratório”, explica.
Para ele, esses problemas podem ser generalizados, especialmente em espécies com comportamento sexual promíscuo -- ou seja, quase todas. “A questão é saber quão poderosos são esses efeitos. Na natureza, com pressões ambientais, a sobrevivência e a coleta de recursos podem superar os efeitos desses genes relacionados ao comportamento sexual”, diz o cientista.
Os resultados estão publicado na revista “PloS Biology”. (G1)
Walter Valdevino Estudo , Evolução , Sexo Comentários (1)