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Melchior, o malfeitor*


Tenho pensado cada vez mais em como seria bom se eu fosse Vice-Presidente de algum setor inútil de uma companhia internacional. Receberia um polpudo salário apenas para ceder meu nome para preencher o quadradinho mais alto do organograma. Ah, e para fazer carimbos também. Sim, muitos carimbos com meu nome em alto relevo. "Saulo Szinkaruk. VP de Relações com o Mercado" ou "Saulo Szinkaruk. VP de Organizações Gerais".

Poderia ser capa de uma importante revista de marketing também. Lá estaria minha foto, com a mão no queixo, e uma legenda "o guru do RTN coop-business".
Mas, acima de tudo, teria uma sala muito grande. Com um janelão imenso de onde se poderia avistar toda a cidade. Colocaria minha poltrona de couro preto e armação cromada de costas para a janela, como deve ser. E, sempre que recebesse visitas, ficaria olhando a vista, de costas para a porta, onde o convidado fcaria esperando meu leve e sutil aceno com os dedos da mão esquerda para entrar.
Se o assunto da visita fosse trabalho, ouviria desatentamente o esforçado-gerente-em-busca-de-promoção durante vinte minutos. Então, interromperia seu monólogo espalmando a mão no ar e chamaria minhas assistentes - duas lindas moças vestindo saias curtas, que sentariam no meu colo, uma em cada perna, e fingiriam anotar informações importantes em boclos de papel reciclado.
O gerente, naturalmente constrangido com a cena, começaria a ficar muito nervoso, suaria, pediria para tomar suas pílulas para pressão alta. E ia seguir sua tentativa vã de me explicar como a empresa poderia reduzir seus gastos em 10% se menos pessoas espirrassem e lessem O Código da Vinci.

- Ah, isso é realmente um horror - eu diria, franzindo a testa - Não, meu bem, horror é com agá - completaria, depois de olhar para o bloco da moça da perna direita.

A esta altura, o gerente já estaria esboçando o momento máximo do desespero, com argumentos pró-aprovação do projeto do nível de "eu tenho duas filhas, a Iasmin e a Andressa. olha a foto".

- Deixe-me ver. Sim, são lindas. O que? Não, não se assuste, o isqueiro é para o charuto. Adoro crianças. Tome sua foto.


Ele com a foto em sua mão. Eu com o charuto na minha. A menina da perna esquerda já sabia: estava na hora de o gerente se retirar. A partir de agora todos os argumentos dele seriam refutados com uma leve gargalhada, seguida de uma profunda baforada no charuto. E, se ele ousasse replicar, faria rosquinhas de fumaça, desarmando o pobre homem por completo.

- Também não precisa fazer biquinho - ele diria, já aos prantos.
- Não há como fazer rosquinhas sem fazer biquinho - a moça da perna direita responderia.
- Mas isso é muita humilhação. Não preciso suportar! Hahaha, sou melhor que isso! Sou melhor que vocês!...diga alguma coisa!
- Ho, ho, ho.

E mais rosquinhas.