Kill Bill Spirit

Ainda extasiado pelo Kill Bill, desço do Chácara das Pedras e começo a percorrer os quatro blocos que me separam de casa. No meio do percurso, cruzo com um policial, de moto, dando sucessivos círculos como quem procura por algo em especial (era uma volta muito pequena para quem está simplesmente fazendo ronda). "Tudo bem, se tem um ladrão aqui, tem um policial também", penso. E sigo percorrendo o caminho.
Chego na porta do prédio, e surpreendentemente está aberta. Não apenas deschaveada, mas aberta mesmo, bastava empurrar e entrar. "Dez da noite e a porta aberta desse jeito? Muito estranho", minha mente pensa, ainda com o filme latejando dentro dela.
Subo as escadas paranoicamente preocupado. Sabe como é, se eu fosse um ladrão buscando refúgio, ia ficar lá no terceiro andar, o último, o andar que o Saulo mora com seus tios.
E assim vou subindo, dando umas olhadas para cima, sem muita pressa, adiando ao máximo o derradeiro momento em que eu chegaria no último patamar e certamente encontraria um BANDIDO REAL (com uma imensa cicratiz no rosto e tiques nervosos no olho direito, enfim, tudo como deve ser).
Aí eu chego lá e...nada encontro, obviamente. Aliviado, penso que estou a salvo e sorrio superior para a minha paranóia pos-filme ultra violento.
Coloco a chave na porta e, para minha supresa, está aberta. "Ai, jesusamado, meus tios NUNCA deixam a porta aberta". Aliás, eu tinha reparado antes de entrar que as luzes estavam todas apagadas, ou seja, achei que ninguém estava em casa. Esperava, portanto, encontrar até a doberman fechada. Mas NENHUMA assim estava.
Abro a porta. Silêncio total. Minto, o cachorro resmunga. Será para algum malfeitor? Ou será para mim, novamente, uma vez que ele me odeia?
Puxa vida, onde está a Uma Thurman com seus Asics amarelo e sua espada de samurai quando se precisa dela?

(continua)