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Oh, poesia


Existe uma idéia bastante enraizada por aí de que poesia boa tem que ter alto nível de abstração. E palavras difíceis também, claro. Não sei se isso é algo tipicamente brasileiro, mas está aí o nosso hino pra dar sustânça à tese.
Se eu chegar para minha avó (sempre imagino minha vó quando quero submeter à prova teses que envolvam "boa parte das pessoas"), por exemplo, e ler um poema que diga "sândalos olentes", "ó, imaculada flor" ou que fale de um florão da américa que fulgura por aí, ela vai dizer "lindo! lindo!", mesmo que não entenda exatamente o que foi dito. Por que? Porque assim se estabeleceu: poesia tem que ter palavras difíceis. Mais do que isso: poesia não foi feita pra ser totalmente entendida.
Isso é uma distorção da idéia de que poesia é metáfora e, portanto, pede interpretação. Em geral as pessoas são condescendentes demais, acabam aceitando qualquer bobagem que o cara escreve com o argumento “ah, poema é pessoal, cada um faz sua própria interpretação”. Balela. Se for assim, então TUDO é boa poesia, porque tudo pode ser justificado, tudo pode ter sentido se assim se quiser. Exemplo disso é a versão do hino soviético, genialmente feita pelo Menezes. Diz ele, explicitamente, que se baseou apenas na fonética para construir os versos. No entanto, escreveu uma defesa para a letra que faz com que ela pareça mesmo dizer o que a justificativa prega que ela diz. Claro, bastou ser bem amplo na interpretação.
E o maior exemplo popular dessa história é o Renato Russo. Tem letras dele que eu gosto, acho boas mesmo. Mas boa parte não faz o menor sentido. Mas ele é poeta, né? Isso sim prova que ele é gênio. Nem entendo o que ele diz!

Parênteses: em geral, as letras do RR alternam bons versos com outros sem sentido que destroem tudo. Ex:


Parece cocaína
Mas é só tristeza

Isso é bom. Mas aí ele diz, no verso seguinte:

Talvez tua cidade

Que não faz o menor sentido, nem com o que acabou de dizer, nem com o que vai dizer depois. Fechando parênteses.

O Marcelo Camelo, do Los Hermanos, disse uma coisa interessante sobre isso. Ele citou a ditadura - e a paranóia dos versos com vários sentidos ocultos que existia na época - como responsável por essa mania de que boa letra tem que ser altamente metafórica.
E é curioso que o melhor letrista do Brasil, o Chico Buarque, tenha sido um dos ícones dessas letras cheias de significados. Logo ele, que tem letras bem compreensíveis e diretas, embora poéticas ao máximo.
Enfim, não gosto de poetas que precisam usar minha ignorância para escrever bons textos.