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P&P - parte I


A propaganda é, possivelmente, a única profissão em que o cara pode ser mal visto por querer ser um bom profissional. Explico:
Tu trabalha numa agência e recebe um pedido de trabalho pra criar uma campanha. Atravessa madrugadas, ensopa camisetas de suor, ganha olheiras, come mal, tudo pra criar uma ótima campanha no prazo estabelecido. Aí apresenta pro cliente e ele diz "ah, vocês estão só querendo ganhar prêmio as minhas custas, não vou aprovar". É um raciocínio torto e equivocado. O publicitário cria um bom anúncio pelo mesmo motivo que o médico tenta salvar o caso perdido ou o advogado vence uma causa dífícil: para ser reconhecido como bom profissional. Não interessa qual a profissão, ser reconhecido pelos pares como competente é um desejo universal. Assim, podem eliminar todos os prêmios de propaganda do mundo, o pessoal dos tênis coloridos vai seguir tentando fazer coisas do caralho.

Sabendo que vão surgir objeções, adianto-me e respondo algumas:

- mas publicitário tem ego imenso, se acha pra burro, é por isso que faz coisas pra ganhar prêmio!

Sim, verdade, tem ego grande. Tão grande quanto o médico presunçoso que se acha dono da verdade, senhor da natureza e, entre outras coisas, despreza as medicinas alternativas. Tão grande quanto o advogado que se acha dono da lei e senhor do universo, que pensa que pode resolver tudo no carteiraço. Ego, amigos, existe em qualquer lugar. A gente só aparece mais e, por isso, leva o estigma.

- e os anúncios fantasmas, hein? aqueles feitos só pra ganhar prêmio, que nunca foram veiculados?

Verdade também, mas cada vez menos verdade. É uma prática menos comum. A propaganda está cada vez mais profissional, porque os clientes estão cada vez mais profissionais. quem brincar, perde a conta. Aliás, pode perder até mesmo o prêmio, como já aconteceu mais de uma vez em casos de comprovação de que a peça era fantasma. Já é uma prática mal vista, exatamente por dificultar o desenvolvimento da confiança cliente-agência.