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Está mesmo na hora de terminar esta palhaçada de engrandecer o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) como se ele fosse um registro decente da história do Rio Grande do Sul. Elitista e com raízes urbanas, o movimento, que tem como ilustres criadores e seguidores Paixão Cortes e os Fagundes, nada mais fez do que MACULAR um passado conveniente para o gaúcho. Um passado onde Bento Gonçalves não é um contrabandista safado, onde escravidão não combina com o Pampa e, claro, onde não se pode usar brinco em CTG:
Na ZH de hoje (achei que valia a pena reproduzir aqui na íntegra):
"Gaúcho usava brinco para expressar masculinidade"
Entrevista: Tau Golin, historiador
por MOISÉS MENDES
Gaúcho de brinco não poderia ser rejeitado em Centros de Tradições Gaúchas, segundo o historiador Tau Golin, doutor em História, estudioso da ocupação do Rio Grande do Sul e professor da Universidade de Passo Fundo. Golin contesta os tradicionalistas que apoiaram a decisão do patrão do CTG Lalau Miranda, Ari Ferrão, de Passo Fundo, que expulsou do salão o professor Ademir de Mello de Camargo, no último dia 20. Camargo não pôde participar de um baile porque usava brincos.
O patrão teve o apoio do historiador e tradicionalista Nico Fagundes e do presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Manoelito Savaris. Ambos asseguraram, em entrevista a Zero Hora, que o brinco não faz parte da indumentária do gaúcho. Nico Fagundes afirmou:
- Brinco não combina com pilcha. É uma coisa moderna, não tem a ver com o tradicional.
Savaris reforçou:
- O brinco pode estar na história dos piratas, mas não na do gaúcho. Sou historiador, e não encontrei referência ao uso de brincos.
Pois Tau Golin, 49 anos, diz que pesquisas de historiadores respeitados encontraram brincos em orelhas de homens cabeludos do final do século 18 e início do século 19. Nesta entrevista, o historiador dá sua versão para os motivos que levam os CTGs a rejeitar homens de brinco:
Zero Hora - O gaúcho do campo usava brincos?
Tau Golin - Está fartamente documentado que o gaúcho usava adereços como o brinco e a vincha na cabeça (bandana), entre a segunda metade do século 18 e a primeira metade do século 19. Geralmente, eram homens melenudos. Muitos usavam tranças e brincos de argola. O brinco era parte do embelezamento masculino e expressão de masculinidade. Mas agora, conforme o MTG, o brinco é um adereço feminino. Isso pode ser determinado por uma norma interna da entidade, mas não tem base histórica. É uma visão de mundo preconceituosa. Não sei se o CTG permite o uso da bandana. O movimento depurou o presente dos adereços inquietantes.
ZH - Este gaúcho que se enfeitava seria o espanhol, o tipo da fronteira?
Golin - É mais o gaúcho platino, do Pampa, da área que pega parte do Rio Grande do Sul. O gaúcho é um tipo com várias influências. Vestimentas e costumes dependiam da origem, dos europeus, da mistura do europeu com os grupos indígenas. O Pampa é uma construção de várias influências. A região de Passo Fundo é a região do caboclo, de um homem economicamente extrativista, da erva mate e da pequena lavoura. Se fossem fazer uma discussão do passado no presente, nesta região o homem a ser exaltado seria o caboclo.
ZH - Por que o gaúcho de brinco incomoda os CTGs?
Golin - O grupo social chamado gaúcho deveria ser extinto para que a ''civilização'' chegasse à Campanha e se implantasse a propriedade privada, a família. O gaúcho metia medo, vivia em grupos, praticava saques. A visão estatal, de criação desses módulos de produção, era atrapalhada pela ação desses grupos de predadores. Por isso os CTGs preferem o peão, que é uma figura enquadrada no sistema. O gaúcho representa uma força do não-trabalho regular dentro da estância. O tradicionalismo não é uma representação de totalidade do mundo antigo. É exatamente uma versão da parcela da elite oligárquica. O gaúcho teatino é uma contradição que incomoda.
ZH - O rejeitado seria o tipo social, e não só o brinco?
Golin - Quando alguém tenta usar algum adereço que era do gaúcho, e não do sujeito confinado dentro do sistema, ele é eliminado do sistema que reproduz o mundo oligárquico. Há uma série de depurações desse mundo simbólico. Eliminam-se o gaúcho histórico e o escravo. Os CTGs têm patrão, peão, capataz, sota-capataz, agregado, prenda. O ser gaúcho não existe na estrutura associativa do CTG. O gaúcho como grupo social marginal seria um não-exemplo devido ao seu modo de vida. A senzala também não existe no CTG. Como a estância é apresentada como o lugar da felicidade, onde colocar o cativo?
ZH - O senhor submeteria suas fontes de pesquisa a um confronto com as de outros historiadores?
Golin - Sim. Há inúmeros relatos de viajantes e pintores do final do século 18 que descrevem o gaúcho, e muitos pintores o retrataram. O uruguaio Fernando Assunção, o grande pesquisador do gaúcho, de seu modo de vida e das pilchas crioulas, nos mostra que o brinco era usado com outros adereços. O pesquisador sempre trabalhou com documentação. E Assunção poderia ser considerado um sujeito conservador.