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Não quero estragar o texto explicando os detalhes e as entrelinhas, mas percebam como tudo que aconteceu, assim como tudo que aqui vai acontecer, está amarrado pelo evento JOGO DO INTER. E, claro, percebam também, ao longo do texto, o quanto essa informação que acabei de dar é irrelevante.
Assim que coloquei o primeiro pé no ônibus, temi. O motorista também estava ouvindo o jogo, em um radinho mais potente que o do tio da parada (que, aliás, embarcou comigo). Se ouvido por apenas uma pessoa, o futebol já me atirou em apuros, imagina agora, com as ondas do futebol se alastrando por todo o coletivo.
A cobradora, simpática, estava implorando por SOCIALIZAÇÃO. Embalado pelos acontecimentos externos, cheguei a responder a ela com palavras (em geral, apenas sorrio amarelo como réplica a qualquer tentativa de contato vinda de desconhecidos) umas duas vezes. Mas parei, já tinha esgotado minha cota do mês. Azar dos taxistas que andaram comigo nos próximos dias.
Porém, o início do meu silêncio coicidiu com a chegada de nosso herói.
Levemente parecido com o DEDÉ, usando uma jaqueta azul e uma mochila a tiracolo, ele já chegou torpedeando a cobradora, ao que parece, levemente conhecida sua de alguma outra linha da Carris.
- Ah, mas eles tem o Fernandão, que pode não jogar nada, ele vai lá e resolve! Sabe qual o problema do Grêmio, sabe? Vou te dizer: mentiram que o Bruno e o (esqueci o nome) são craques! A gente precisa é de uns três Fernandão num time.
E não parou mais. Falou das linhas dos ônibus e de outras generalidades chatas. Mas também proferiu pérolas:
- Passei na Carlos Gomes hoje, um carro com as rodas pra cima. Bateu na traseira de uma auto-escola, que malemal ficou arranhada. Mas ele, ficou de pata pra cima. E tem mais é que morrer mesmo! Quando eu fazia carteira, buzinavam pra mim o tempo todo!
- Mas hoje tu também não buzina? - pergunta a cobradora, numa atitude Antônio Abujamra.
- Não, não. Ando longe delas. Sabe, eu sou meio...meio...afobado...é, faísca, sabe? Ando rápido e mudo bastante de pista. Mas sempre dou sinal, sempre! Não é costurar isso, isso é só mudar de pista.
É incrível como as pessoas falam das merdas dos outros e criam grandes explicações e teorias na tentativa de justificar suas próprias merdas. E o pior: realmente acreditam nessas desculpas, numa verdadeira técnica de auto-convencimento.
Depois de relatar porque não estava errado o modo com que dirigia, o homem começa a contar sua vida: o tempo que passou desempregado, as dívidas com cartão de crédito, seu novo emprego, os concursos que fez, a acusação de desvio de verba que sofreu na empresa que trabalhava antes, e por aí vai.
Na hora que desci do ônibus, ele perguntava pra cobradora "Quantos anos tu me dá? Não, tenho menos, é que sou meio grisalho, mas tenho bem menos. É de família isso do cabelo branco. Meu pai..."
Quando o assunto muda de geração, está SELADA a amizade.
Em 12 minutos ele fez uma amiga ÍNTIMA, que sabe tudo da vida dele. Fiquei uns trinta segundos admirando o cara. Mesmo.