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Eu queria que o mundo fosse uma sala de cinema


A parcela da minha vida social destinada ao contato com desconhecidos ou semi-conhecidos é uma sucessão interminável de fatos constrangedores. Ontem de manhã, por exemplo, aconteceu de novo.
Chego no edifício em que trabalho e me posto defronte aos elevadores, de forma a aguardar a chegada do cubo de aço que me alçará ao décimo andar.
Estava rolando um diálogo entre a ascensorista e um senhor, que, visivelmente confuso, procurava entender o que estava escrito no papel que carregava em seus grossos dedos, a fim de descobrir onde tinha que ir:

- É no cartório que o senhor vai?
- Eu não sei, tá difícil de entender.

Parecia apenas mais um caso de pessoa perdida em uma recepção de prédio, a razão original de existir dos porteiros, antes de a violência tomar conta e o Lasier Martins assumir o posto de dono do mundo.

Mas o senhor confuso estava disposto a mudar o rumo dos acontecimentos.

Hábil e astuto, ele conseguiu, em uma fração de segundo, transformar o seu problema cotidiano em oportunidade para filosofar:

- É um absurdo isso, onde já se viu, hoje em dia, a gente depender de letra ruim?
- Pois é, parece que até os médicos estão tendo que mudar isso - completou a ascensorista.

"Ah, não, por que ela faz isso? não faz parte da profissão! Será que ela não percebe que é comigo que ele vai subir vários andares em um cubículo de um metro quadrado?"

- É um absurdo, por isso que esse país está assim! - retruca o senhor.

"Oh, Deus, eu sabia."

O elevador chega. Entramos eu, o homem e seu papel. Lá dentro, dois completos desconhecidos nos aguardam, vindos do subsolo. O senhor dos dedos grossos insiste:

- Essa roubalheira que não tem fim é culpa disso. Quem tem dinheiro tem, quem não tem, bate palma.

Um dos desconhecidos apenas acena com a cabeça. O outro nada diz.

"Massa, tenho aliados."

Mas o velhaco insiste:

- Eu quero ver o que essa NOVA GERAÇÃO vai fazer.

"Putalamierda. 5 segundos para eu ser obrigado a responder."

- Né? Eu torço muito por VOCÊS - e me aponta o dedo.
- Hmnsr - é minha resposta, no máximo de simpatia que consegui, juntando todas as minhas forças.
- Porque tá difícil. Mas os jovens sempre podem mudar - diz ele, convicto.

"O que o Faustão diria agora? Acho que seria uma resposta que agradaria esse cara"

O elevador pára e ele desce. Sorte. O Faustão não caberia naquele cubículo.