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Eram pouco mais de sete e meia da manhã quando o ônibus surgiu da curva para me recolher da parada. Nesse horário, ele - que atende pelo nome de T3 -, bem como boa parte dos coletivos da cidade, costumam estar atrolhados.
Mas hoje a situação estava um pouco diferente. Ele não estava simplesmente atrolhado, mas completamente entupido.
Assim que ele parou, estimulado pelo meu desanimado aceno matutino, fiz menção de entrar. A porta se abriu para mim, toda LÉPIDA e feliz, entretanto, nenhuma das cerca de dez pessoas que se esmagavam só ali naquela região ao lado do motorista pareceu animada com a minha chegada.
E olha, serei justo, entendo todos eles. Não havia espaço para um Saulo inteiro ali. Eles sabiam que minha entrada significaria rins comprimidos e diafragmas forçados a trabalhar no limite.
Eu, claro, também não estava feliz de ver aquele NOVELO de pessoas emaranhadas na minha frente mas, que fazer? Iniciei minha adentrada.
Coloquei o pé direito pra dentro do ônibus, na esperança de que houvesse um recuo da grande massa de pessoas e eu pudesse me colocar por inteiro no veículo. LEDO engano.
FORCEJEI a situação colocando o outro pé também, alinhado com o direito. Mas nada de surgir espaço.
Tecnicamente, eu já era um passageiro. Porém, efetivamente, ainda tinha uma porcentagem de mim pra fora do carro, incluindo aí minha mochila, nuca e, possivelmente, os GOMOS das minhas nádegas.
Percebendo a situação periclitante e estimulado por um aceno de "vai com fé" de um passageiro que estava bem próximo a mim, o motorista acionou o mecanismo que fecha a porta.
Assim que ouviu aquele "pssssss" que a porta faz ao se mover, meu ágil organismo iniciou um processo de encolhimento muscular e compactação biomolecular, a fim de sobreviver a um potencial esmagamento que, embora não fatal, seria deveras constrangedor.
Graças a minha alta habilidade de ESCAMOTEAMENTO, escapei ileso ao fechamento das compotas e à arrancada do coletivo, feito louvável se considerarmos que eu não tinha onde me segurar.
Como eu conheço o funcionamentodo T3, sabia que ele esvaziaria nas proximidades do Parcão, bem antes do meu ponto de descida. Por isso, apesar de esmagado, eu estava tranqüilo. Consegui até ouvir o protesto dos populares com o transporte coletivo em horários de pico. "Quem vai de pé deveria pagar menos. R$1,75 só pra quem vai sentado". "É mesmo, e deveria ter um ônibus onde todo mundo vai de pé, até o cobrador e o motorista. Seria mais barato".
Gosto quando as pessoas levam as situações limite do dia-a-dia com senso de humor.