home. arquivos: setembro07. agosto07. julho07. junho07. maio07. abril07. março07. fevereiro07. janeiro07. dezembro06. novembro06. outubro06. setembro06. agosto06. julho06. junho06. maio06. abril06. março06. fevereiro06. janeiro06. dezembro05. novembro05. outubro05. setembro05. agosto05. julho05. junho05. maio05. abril05. março05. fevereiro05. janeiro05. dezembro04. novembro04. outubro04. setembro04. agosto04. julho04. junho04. maio04. abril04. março04. fevereiro04. janeiro04. dezembro03.

Insanus
alexandre
bensimon
bituca
bruno
cardoso
carol
cisco
cove
daniel
firpo
gabriel
hermano
menezes
nova corja
parada
träsel
vanessa

Blogroll
3 vozes
alliatti
anna martha
antenor
bibs
bulcão
carine
conjunto comercial
dani
diego
g7+henrique
iuri
jousi
lima
lu
madureiras
marcia
mirella
nego
patrício
rodrigo
soares silva
solon
tams

Sobre Legos e lero-leros


Quando se é criança, chamar de “viado”, “bicha” ou qualquer outra variação cujo objetivo é macular a heterossexualidade de outrem é bastante comum. Porém, meus primos, meu irmão e eu, durante nosso período pueril, na ainda nascente década de 90, tínhamos uma tradição de ofensas orais bem mais evoluída.
Tudo começava mais ou menos como começa em qualquer quintal: com um pressuposto altamente consistente, como uma ofensa ao penteado de um dos Comandos em Ação de alguém, uma desavença futebolística ou um comentário crítico visando unicamente o crescimento pessoal e amadurecimento do amigo e que acabava mal interpretado:

- Tua camiseta é de mulher.

- Nada a ver, bicha.

Pronto. Estava lançado o estopim para um complexo jogo de argumentação, de dar inveja aos filmes do Perry Mason.

- É sim seu bissexual, que gosta de homem e mulher. – a tréplica.

Observe o didatismo da ofensa (parênteses: em um mundo adulto, possivelmente o último diálogo receberia como resposta algo como “bom, ao menos gosto um pouco de mulher”. No universo infantil, porém, a questão numérica sempre vale mais: bissexual é o dobro de homossexual, logo, duas vezes pior).

Seguia-se, então, uma longa batalha numérico-sexual:

- Tu é trissexual: mulher, homem e plantas.
- E tu é tetrassexual: mulher, homem, plantas e canivetes suíços.
- Pentassexual pra ti: mulher, homem, plantas, canivetes suíços e retroescavadeiras.

E assim sucessivamente, até o momento em que alguém dava a cartada final:

- Pois tu é INFINITOSSEXUAL, faz sexo com TUDO. E nada é maior que o infinito.

É, ponto para a criança que assistia o Mundo de Beakman. Não havia nada mais a fazer.
Interessante é que essa discussão, exatamente como descrita acima, acontecia com enorme freqüência e, mesmo assim, ninguém nunca pulava etapas. Afinal, bastaria responder ao “bicha” com “infinitossexual. Deu” e estaria findado o papo.
Mas ser criança acima de tudo é isso: ter um dom enorme pra saber como se divertir e evitar a chatice.