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A pedido da Carol (ex-Viper Rum), publico aqui a homenagem dela ao Gabriel:
Foi com ingenuidade de criança pedindo brinquedo pro Papai Noel que eu perguntei pro Elvis ontem no enterro do Gabriel se ele, que era tão esperto, não podia inventar um jeito das pessoas pararem de morrer. E foi da mesma maneira que os pais das crianças dizem pra elas que na verdade é um tio gordo que se fantasia com roupa vermelha que ele respondeu pra mim sem muita cerimônia, não, não dá.
Mas eu continuei me questionando depois que se pelo menos as pessoas que olham a gente no olho, as que estão sempre com um sorrisão, as que fazem tu se sentir bem só de estar do teu lado, mesmo sem falar nada, se estas podiam ficar pra sempre? Nem as que fazem diferença e não usa isso motivo pra arrogância, pedantismo ou status? Eie! Quem é que
escolhe quem é que fica e quem é que vai que tira meus amigos de mim e não me consulta?
Conheci o Gabriel num seminário de pós-modernismo. Nós, professor Rudiger e o Maffesoli. 2001, acho. Ele fazia sociais na UFRGS, talvez. Eu o achei jovem, hippie e inteligente. Tomamos café e ironizamos o pós-modernismo. Alguns anos depois estávamos na Fabico dançando Fuego Lento no meio do diretório acadêmico. Ele já não era tão hippie e eu já não era tão preconceituosa.
Sexta, na última vez que saímos juntos, fomos a duas festas. Na primeira o puxei para uma coreografia e ele não,muito cedo. Na segunda ele me puxou e eu ná, estou acompanhada. Te devo uma coreografia em chamas no céu, caro amigo.
Na quinta tinha tomado um café com ele. Talvez o momento mais íntimo e sincero que já tive com ele. Conversamos horas sobre a vida, relacionamentos, futuro, pessoas, amigos, banalidades. Voltamos a pé pra casa e quando nos despedimos ele disse pode me ligar sempre pra tomarmos café de tarde, minhas tardes estão todas assim, livres.
E eu pensei: certo, agora que também estou com as tardes livres, toda semana. Mas não falei.
Mas, ô, Gabriel, tua companhia pra voltar pro Bela Vista me fez lembrar minhas voltas a pé pra casa do colégio, em que eu carregava o material do colo e pensava tanto sem saber tudo o que tinha pela frente. Depois de tudo que a gente foi lá e viveu, caminhar assim junto contigo e ter essa mesma sensação, tu sabe, foi ainda melhor, deu pra ir ainda mais longe, tanto em passado quanto em presente. Insanus, Fabico, cidade baixa, teu fusca, a UFRGS, as chinelagens, o sabor 1, o Via Imperatore, jantas, Bom Fim, São Paulo, mato, praia e todas as pessoas que fizeram parte disso. Obrigada, Gabriel.