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Na última vez em que estive em Buenos Aires*, conheci uma menina chamada Jennifer**. Hospedada na mesma pensão que nós, a carioca Jennifer viajara sozinha para a capital argentina. Ou seja, ou ela era uma pessoa muito auto-suficiente, daquelas que preferem a independência e a liberdade dos atos solitários, ou uma simpática aguda, das que acreditam que vão fazer amizade fácil, fácil e se divertir de montão.
Para nosso azar, era o segundo caso. Não que a menina fosse má. Ao contrário, era boa demais. Sorridente demais. Puxadora de assunto demais. Sempre que vejo uma pessoa assim, dando tapinhas nas costas e fazendo gracejos com semi-desconhecidos, fico pensando no que sobra para os amigos dela. Quer dizer, se ela oferece todo o seu repertório de simpatia, humor e prestatividade à toa, o que os amigos podem se orgulhar de receber com exclusividade? Silêncio, se tiverem sorte, e só.
Fora toda a agonia do contato com estranhos. Conversar, para mim, é metaforicamente ficar nu com uma ou mais pessoas enquanto comentamos trechos dos Simpsons. Não é, definitivamente, algo que se possa ou se deva fazer com qualquer um. É indecoroso, inclusive, bater papo com desconhecidos em fila de banco ou assento de ônibus. Quando estou no elevador e alguém comenta sobre o tempo sinto como se estivesse passando a mão na minha bunda.
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A única exceção, que de tão rara quase esqueci de mencionar, é a de gente como o Menezes, que tem tanto a dizer que precisa extravasar a todo momento, para não explodir. Por isso, quando ele surge do nada, falando daquele jeito dele, meio de lado, sinto uma alegria bastante pura e infantil. E no instante seguinte percebo que aprendi um pouco sobre a capital da Nigéria ou a segunda divisão do campeonato uruguaio de futebol. Mas nunca sobre a previsão do tempo do dia seguinte.
*passei o último Réveillon com a Paula lá. Buenos Aires com quem a gente gosta numa data que leva acento na sílaba átona é mesmo bem massa.
**senti um pouco de culpa pelo post e coloquei dois enes no nome dela. Não sei se está certo, mas ficou charmosinho.