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Por que sempre que quer retratar o recomeçar de uma pessoa que sofreu muito na vida (=drogas, prostituição ou aborto) o cinema coloca o cidadão para trabalhar como garçom num restaurante? Ali, de avental e às vezes chapeuzinho, ele carrega pilhas de pratos, oferece mais café e seca as costas das mãos na calça, enquanto reconstrói sua vida com aquela humildade, dignidade e esperança que, parece, só fritar hambúrgers dá.
Invariavelmente também a cena termina com o personagem derrubando uma bandeja cheia de copos de cerveja ou pratos sujos de molho e chili sobre os fregueses - o que, imagino, é a metáfora máxima da sétima arte para os percalços da vida.
Há ainda a variante mais melancólica, aquela em que cozinhar e servir fast food é o emprego de um total desajustado (=mulher de batom vermelho e cabelo tingido de loiro). Das duas uma: ou os roteiristas acham que ser garçom é a síntese da derrota, do descaso e do despreparo, ou nunca tentaram carregar três porções de talharim com uma só mão para ver como é.
Na página 2 do caderno Donna da ZH de ontem, a empresa Reserva Natural anunciou uma loção para a pele chamada DMAE:
DMAE para o corpo (loção): proporciona ação firmadora e tensora a curto e longo prazo. Disponível com e sem óleo de oliva.
Declaro aberta a temporada de trocadilhos:
DMAE, a loção que trata sua pele.
DMAE, sua pele muita mais hidratada.
Comentários à disposição.
Quando eu tinha 15 anos, perdi um dos meus melhores amigos em um acidente de trânsito. Até hoje, lembro claramente do choque que senti ao receber a notícia por telefone – parecia que subitamente eu havia sido sugado para um outro universo, que não era exatamente como um sonho, ainda que fosse torpe e embaçado, mas que não podia ser a realidade - e do sentimento estranho que se seguiu nos dias posteriores: uma mistura de dor, saudade, incredulidade e tristeza por ver uma vida ser interrompida tão cedo.
Segunda-feira passada, os sentimentos se repetiram, com quase absoluta fidelidade, assim que recebi a ligação do Menezes pela manhã. Entre tudo, apenas uma, pequena porém importante, diferença. Eu simplesmente não consegui – e ainda não consigo – imaginar o Gabriel de um jeito que não seja sorrindo, com aquele sorriso que só ele sabia dar.
Em parte, sei que isso se deve pela minha crença profunda e densa de que ele está bem e feliz agora. Mas em parte também porque foi assim, gargalhando, cheio de projetos e idéias, que ele sempre viveu. E, por isso, é assim, só assim e exatamente assim, que sempre me lembrarei dele.
Fica com Deus, Gabriel.
A pedido da Carol (ex-Viper Rum), publico aqui a homenagem dela ao Gabriel:
Foi com ingenuidade de criança pedindo brinquedo pro Papai Noel que eu perguntei pro Elvis ontem no enterro do Gabriel se ele, que era tão esperto, não podia inventar um jeito das pessoas pararem de morrer. E foi da mesma maneira que os pais das crianças dizem pra elas que na verdade é um tio gordo que se fantasia com roupa vermelha que ele respondeu pra mim sem muita cerimônia, não, não dá.
Mas eu continuei me questionando depois que se pelo menos as pessoas que olham a gente no olho, as que estão sempre com um sorrisão, as que fazem tu se sentir bem só de estar do teu lado, mesmo sem falar nada, se estas podiam ficar pra sempre? Nem as que fazem diferença e não usa isso motivo pra arrogância, pedantismo ou status? Eie! Quem é que
escolhe quem é que fica e quem é que vai que tira meus amigos de mim e não me consulta?
Conheci o Gabriel num seminário de pós-modernismo. Nós, professor Rudiger e o Maffesoli. 2001, acho. Ele fazia sociais na UFRGS, talvez. Eu o achei jovem, hippie e inteligente. Tomamos café e ironizamos o pós-modernismo. Alguns anos depois estávamos na Fabico dançando Fuego Lento no meio do diretório acadêmico. Ele já não era tão hippie e eu já não era tão preconceituosa.
Sexta, na última vez que saímos juntos, fomos a duas festas. Na primeira o puxei para uma coreografia e ele não,muito cedo. Na segunda ele me puxou e eu ná, estou acompanhada. Te devo uma coreografia em chamas no céu, caro amigo.
Na quinta tinha tomado um café com ele. Talvez o momento mais íntimo e sincero que já tive com ele. Conversamos horas sobre a vida, relacionamentos, futuro, pessoas, amigos, banalidades. Voltamos a pé pra casa e quando nos despedimos ele disse pode me ligar sempre pra tomarmos café de tarde, minhas tardes estão todas assim, livres.
E eu pensei: certo, agora que também estou com as tardes livres, toda semana. Mas não falei.
Mas, ô, Gabriel, tua companhia pra voltar pro Bela Vista me fez lembrar minhas voltas a pé pra casa do colégio, em que eu carregava o material do colo e pensava tanto sem saber tudo o que tinha pela frente. Depois de tudo que a gente foi lá e viveu, caminhar assim junto contigo e ter essa mesma sensação, tu sabe, foi ainda melhor, deu pra ir ainda mais longe, tanto em passado quanto em presente. Insanus, Fabico, cidade baixa, teu fusca, a UFRGS, as chinelagens, o sabor 1, o Via Imperatore, jantas, Bom Fim, São Paulo, mato, praia e todas as pessoas que fizeram parte disso. Obrigada, Gabriel.