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Fala, véi


Já se iam mais de três horas de viagem quando, jogando o olhar ao acaso pelo ônibus entre um cochilo e outro, reparei em uma figura familiar. "Será mesmo o Cardoso?", pensei.

Era difícil saber. O suspeito estava umas três, quatro fileiras à frente da minha, de modo que eu só podia ver sua nuca (e uma partezinha do rosto, quando se virava de lado) acima do banco do veículo. Tinha cabelos curtos, bem ruivos, e usava um óculos bem similar ao do Lord CAPS, características que me levaram a cogitar seriamente que fosse o próprio ali. Por outro lado, o que diabos o Cardoso estaria fazendo em Passo Fundo, de onde eu voltava naquele ônibus?

A dúvida injetou adrenalina nos meus olhos. O sono passou e comecei a me distrair conjecturando possibilidades acerca do caso. Eu poderia simplesmente me levantar e ir até o suspeito conferir, claro, mas isso, além de sem graça, tiraria um belo passatempo para os 50 minutos ainda restantes de viagem.

Decidido a resolver o quebra-cabeça com estilo, repassei mentalmente a situação. O passageiro era ruivo, apoiava no nariz óculos cardoseanos e, agora eu estava reparando, possuía um penteado bem similar ao do próprio. Além disso, estamos falando do Cardoso, alguém que tem um trabalho estranho, uma rotina estranha e faz costumeiras viagens estranhas. Ele poderia, quem sabe, ter ido até a Capital do Planalto Médio falar sobre internet num colóquio. Consigo me imaginar lendo um e-mail dele no dia seguinte, maravilhado com o xis do Boca e contando que bateu papo com os garçons que espancaram o Planet Hemp. Esses eram os indícios afirmativos.

Por outro lado, eu já tinha encontrado uma amiga de Porto Alegre no ônibus, ia ser coincidência demais esbarrar com mais um conhecido na mesma viagem. Cabe lembrar ainda que nuca não é arcada dentária ou impressão digital, não podendo ser usada como prova irrefutável de nada. Por fim, o biotipo suspeito se encaixava perfeitamente também com o de uma comum senhora passofundense de 50 e poucos anos.

O caso era complexo, por isso segui observando, com método, critério e zelo. Notei que o passageiro estava agitado, olhando a todo momento para a janela e para a frente, como quem não pode perder algo que em breve cruzará a paisagem. Ou, e aí matei a questão, como quem desconfia do motorista e só se sente seguro olhando a estrada fixamente e cuidando todos os movimentos do veículo.

Elementar, meus caros: o Cardoso não se preocupa com essas coisas. Até porque, grandes seriam as chances, se ali ele estivesse, de ter fumado uma moita de maconha antes de embarcar.

Conclusão: não era o Ruivo.

Encerrado o caso, ri ao perceber a nova tese que o episódio trouxe à tona para mim: existe uma intersecção entre o círculo a)Cardoso e o círculo b)típica senhora passofundense de 50 e poucos anos, que torna possível confundir um com outro facilmente.

cardoso.jpg
Cardoso (E), ao lado de um amigo (talvez seja o tal garçom).

velhas.jpg
Típicas senhoras passofundenses de 50 e poucos anos. Todas da primeira fila, sob um certo ângulo, parecem o Cardoso.