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O ponto alto da tolice do ano continua a MP 232, que aumentava impostos vários. Do PFL aos pelegos de CUT e Força, passando por intelectuais públicos, na maioria economistas neobobos, ouviu-se que a sociedade deu um "basta ao Estado". Que sociedade? A sociedade brasileira real: pessoas retratadas em novelas da Globo, que tomam café da manhã com suco de laranja, "fazem compras", e em que "pobres" vivem em casas próprias de dois ou mais quartos. O resto é escória mesmo. A "sociedade", classe média e alta, uns 5% da população, não quer pagar mais imposto. Foi só isso que se passou.

Vinicius Torres Freire, DANDO A REAL na Folha de hoje (completo aí embaixo).

Folha de São Paulo

São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2005

VINICIUS TORRES FREIRE

Conversa de botequim

SÃO PAULO - O governo Lula da Silva ora passa do estágio de degradação que causa revolta àquele mais deprimente e pernicioso, que provoca cinismo aberto e desesperado. Mas pior ainda que Lula é o burburinho pantanoso do horizonte visível da vida e debates públicos brasileiros.
O ponto alto da tolice do ano continua a MP 232, que aumentava impostos vários. Do PFL aos pelegos de CUT e Força, passando por intelectuais públicos, na maioria economistas neobobos, ouviu-se que a sociedade deu um "basta ao Estado". Que sociedade? A sociedade brasileira real: pessoas retratadas em novelas da Globo, que tomam café da manhã com suco de laranja, "fazem compras", e em que "pobres" vivem em casas próprias de dois ou mais quartos. O resto é escória mesmo. A "sociedade", classe média e alta, uns 5% da população, não quer pagar mais imposto. Foi só isso que se passou.
O PFL, dos liberais filhotes da ditadura, sob FHC ajudou a aumentar a arrecadação federal em 40% por meio dos piores impostos. O que mais subiu sob FHC não foi imposto de renda, mais justo e racional, mas o imposto indireto, que encarece a vida do povaréu e o faz viver de bico. Economistas neobobos babavam nos calcanhares de FHC e então não reclamavam de impostos. Gentalha.
O mais recente disparate do presidente, em um seu papel predileto, o boquirroto de botequim, suscitou apenas a chorumela inconseqüente de sempre contra juros.
Se, por mágica, os juros nos bancos caíssem hoje pela metade, o Banco Central teria de dar um choque brutal de juros básicos na economia então inundada de crédito.
Decerto a política monetária do BC é hoje perniciosa e exagerada. Mas a questão dos juros altos no Brasil é algo muito mais sério que as macumbas receitadas contra banqueiros e as mezinhas de controles de preços. Saímos da hiperinflação quase por mágica, mas defeitos estruturais de economia e sociedade do país da inflação reapareceram agora sob a forma de hiperjuros. E o fato de sermos uma economia de mercado torto, de injustiça monstruosa e conservadorismo visceral tem muito a ver com isso.

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