ZERO HORA
14 de junho de 2005.
Edição nº 14540
Gente
Elas são as garotas do calendário
Treze mulheres com mais de 50 anos farão um ensaio fotográfico em Porto Alegre em prol de causas sociais
LETÍCIA DUARTE
Quando contou à família que posaria nua para um calendário beneficente, a dona de casa Ana Marlisa Hinterholz Siqueira, 58 anos, ouviu do neto: - Bah, vó, então eu vou te ver no borracheiro? Sorrindo, ela respondeu: - Com muito prazer. Se o borracheiro tiver disposição de nos valorizar e ajudar essa causa tão nobre, será motivo de orgulho.
Transportando para a realidade o filme Garotas do Calendário, 13 mulheres da Capital com mais de 50 anos se preparam para quebrar preconceitos em prol de uma causa social. Com lançamento previsto para 25 de novembro, o projeto Gurias do Calendário destinará recursos ao Instituto da Mama do Rio Grande do Sul e ao Multipalco do Theatro São Pedro.
O projeto que vem transformando as vidas das novas modelos começou com o Bate Papo na Maturidade, desenvolvido pela MP - Marketing & Psicologia. Em encontros semanais, cerca de cem homens e mulheres compartilham angústias e anseios. Após assistir ao filme, as mulheres foram desafiadas a participar do calendário pela psicóloga Márcia Papaléo, coordenadora e fotógrafa do projeto.
Empolgadas, ensaiam em casa, em frente ao espelho, as poses que pretendem eternizar no calendário a partir de agosto. Em vez do símbolo do filme, o girassol, as modelos da Capital aparecerão com a fita-símbolo da luta contra o câncer de mama em poses sensuais. Mas o significado do projeto vai além de expor o corpo. É um resgate da auto-estima.
Filha de militar, desde criança Ana Marlisa aprendeu que mulher não podia usar decote, tinha de sentar-se de pernas fechadas e não falar alto. Agora, faz questão de expor seu corpo.
- Uma amiga me perguntou se eu não tinha medo de me expor ao ridículo, mas acho que a gente tem de aceitar nossas rugas, nosso corpo. Nessa aceitação é que está a nossa felicidade - conta.
Para a professora aposentada Maria Helena Canto, 65 anos, a decisão de posar nua é a culminância de uma transformação pessoal.
- Antes, eu era muito vó, só pensava nos outros. Agora, penso em mim. Quando a gente fica com atitudes e posturas mais sensuais, fica mais atraente. Meu casamento revigorou, e meu marido adorou. O calendário é uma maneira de mostrar que uma velhinha também tem o corpo apetitoso - brinca.
A mais velha do grupo é a aposentada Enir Lopes Figueiró, 76 anos. Após superar um coágulo de sangue na coluna, ela não quer perder tempo. Não teme preconceitos, mas faz mistério sobre as fotos:
- Já estou ensaiando, mas a pose é um segredo. Tu vais ter de comprar o calendário...
( leticia.duarte@zerohora.com.br )
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Da ficção à realidade
- Lançado em 2003, o filme Garotas do Calendário conta de uma forma bem-humorada uma história de mulheres (acima) que vivem uma aventura de posar nuas para um calendário beneficente. O filme é inspirado em fatos reais.
- O cenário é a pequena cidade britânica de North Yorkshire, onde um instituto produz anualmente um calendário com cenas locais para, com o lucro das vendas, investir na comunidade. Depois que o marido de uma das sócias honorárias do grupo morre de leucemia, surge a idéia de produzir um calendário com as mulheres nuas e em momentos caseiros, sempre com um girassol na imagem, a flor preferida do falecido. A renda será usada no combate ao câncer.
- A idéia dá certo, e à medida que a notícia se espalha elas se vêem presas em um turbilhão publicitário que as transforma em celebridades internacionais.
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Madrinha do projeto, Eva Sopher não descarta participar das fotos
Algumas das vovós-modelos ainda não contaram para toda a família sobre as fotos, mas acabaram surpreendidas pelo impacto da divulgação do projeto. Assim como no filme, na vida real a iniciativa ganhou a atenção da mídia.
Ontem, elas se dividiram para atender jornalistas de Porto Alegre, além de serem recebidas pela madrinha do Gurias do Calendário: Eva Sopher, presidente da Fundação Theatro São Pedro.
- Aderi à causa de coração e braços apertos. Acho louvável perceber que a mulher não é só objeto de tolice - disse Eva.
Animada com o projeto, Eva quis saber detalhes de tudo. E não descartou uma participação no calendário:
- Isso nós vamos resolver ainda. Tudo é possível.
Animada com a repercussão da iniciativa, a MP - Marketing & Psicologia cogita de uma segunda edição do projeto em 2006.
- A repercussão foi grande. Recebemos ligação de muita gente interessada em participar - comemora a psicóloga Márcia Papaléo, coordenadora do projeto.
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