Tudo a mesma merda

Clóvis Rossi, na Folha de hoje:

"Mas que o exemplo pegou dá prova o fato de uma das colunistas mais renomadas de Portugal, Teresa de Sousa (diário "Público"), apontar para a "brasileirização" da política portuguesa, traduzida na idéia de que, "se todos os políticos são gatunos, para que votar?"."

Folha de São Paulo

São Paulo, terça-feira, 11 de outubro de 2005

CLÓVIS ROSSI

A Europa se curva

SALAMANCA - Não é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha razão quando disse, na semana passada, que o Brasil servia de exemplo para o mundo pelo funcionamento de três CPIs simultaneamente sem que o mundo acabe?
Tem razão, mas não pelo que ele imagina. Afinal, exemplo para o mundo seria um país em que não fosse necessário constituir nenhuma CPI, porque não haveria tantas maracutaias a investigar.
Mas que o exemplo pegou dá prova o fato de uma das colunistas mais renomadas de Portugal, Teresa de Sousa (diário "Público"), apontar para a "brasileirização" da política portuguesa, traduzida na idéia de que, "se todos os políticos são gatunos, para que votar?".
Ocorre que mais de um terço das Câmaras Municipais portuguesas estão sob investigação. Quer dizer: pelo menos no plano municipal, a política portuguesa seria muito mais exemplo para o mundo do que a brasileira pela lógica torta de Lula.
Outro exemplo: antes, nos filmes B norte-americanos, o bandido fugia sempre para o Brasil, claro.
Agora cito Fátima Felgueiras, ex-prefeita socialista de Felgueiras, processada por 23 delitos, de abuso de poder a prevaricação. Fugiu para o Brasil, como é óbvio.
Ficou dois anos mais ou menos e acaba de voltar, para disputar, como candidata independente, a prefeitura que já exercera. Teve 53% dos votos no domingo.
Serve como exemplo invertido: os deputados na fila para serem cassados podem renunciar tranqüilamente, porque, se, em Portugal, 23 delitos não impedem a vitória eleitoral, o que dirá no Brasil com apenas dois ou três delitos?
Felgueiras nem foi a única acusada a ganhar no domingo. Dois outros fizeram o mesmo. Apenas Avelino Ferreira perdeu. Sua reação: "Toda a imprensa, toda, estava comprada pelo Partido Socialista" (de oposição a Ferreira). Como se vê, ensinamos também a fazer papel ridículo.

@ - crossi@uol.com.br

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