O dia em que FHC perdeu a cátedra

"Havia uma preocupação com o perfil do Fernando Henrique. Uns diziam que era muito intelectual, que não sabia discursar, que não conhecia povo, só academia. Não dava para ser candidato. Levei-o a Juazeiro", disse Tasso, relatando a história com o leve sorriso de quem conta uma piada.

Segundo ele, FHC chegou bem vestido, de paletó, camisa social. De cara, Tasso pediu que tirasse o paletó e dobrasse as mangas. Depois, ordenou: "Conte a sua história. Apresente-se. Diga o que pretende fazer por essa gente".

Lá se foi um FHC muito diferente daquele loquaz político dos palanques de hoje. O candidato a presidente disse que era um intelectual, um sociólogo que estudava muito os problemas do povo. Falou que foi um professor universitário que lutou contra a ditadura militar de 1964 e que por isso acabou preso.

"Foi muito difícil a prisão. Muita pressão. Acabei perdendo a cátedra", disse FHC, em tom solene.

No relato de Tasso, a platéia formada por umas trinta lideranças reagiu com um misto de espanto e tristeza. Uns arregalaram os olhos. Outros abaixaram a cabeça. A surpresa veio, diz Tasso, quando um "caboclo forte" que estava ao lado de FHC colocou a mão sobre o ombro do visitante, deu um apertão e falou em tom solidário: "Força. Não liga, não. Na prisão, isso pode acontecer com qualquer um".

Tasso se segurou para não rir. FHC fez que não tinha entendido que o "caboclo forte" confundira cátedra (antigo cargo no ensino superior conquistado por concurso, o famoso "professor catedrático") com algum revés pessoal que poderia ter sofrido na prisão.

Desde então, o "caboclo" ficou ao lado de FHC o tempo todo. O visitante continuou a contar a sua vida. Citou o ingresso no PMDB, o apoio às greves do ABC contra a ditadura, a passagem pelo governo Itamar Franco, do qual foi ministro das Relações Exteriores e da Fazenda, etc. etc.

Segundo Tasso, o "caboclo" não arredou pé. De vez em quando, apertava de novo o ombro de FHC e dizia algo com voz firme em seu apoio, como quem quisesse protege-lo e confortá-lo pela perda da cátedra na prisão: "Bonito", "Bom", "Isso mesmo", "Força".

Perguntado se sua intenção ao levar Alckmin recentemente a Juazeiro do Norte era um jeito de "apresentá-lo ao povão" e de forçá-lo a tentar tirar a vantagem de Serra, Tasso disse que também levaria o prefeito a Juazeiro. Em seguida, sorriu e arrematou: "Já, já o Alckmin perde a cátedra".

Mais umas três dessas e o partido cassado será o PSDB. Bando de desavergonhados.

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