Maluco por todo lado
Caminhar pela Cidade Baixa pode ser agradável, acredite. É simplesmente o lugar com maior concentração de loucos – no pior sentido do termo – que existe. Não estou falando de loucos bacanas, como a Katia Suman, aquela que trabalhou na "rádio dos loucos", gosta.
Estou falando de loucos de amarrar em poste.
Loucos que babam, que saem pelas ruas preguejando contra os muros, manipulando facões, chorando, exalando merda por todos o poros. Não sei ao certo porque essa cidade produz tanto esse tipo de gente. Por que Porto Alegre enlouquece as pessoas? A aparente brisa do rio e o verde das árvores travestem uma impossibilidade escrachada, nesta cidade: a de viver um punhado de anos sem se sentir sufocado. Não sei se é a nossa água suja captada do rio, se é a nossa moral traveca enrustida ou nossa pretensa politização mentirosa. Mas há um elemento enlouquecedor em Porto Alegre.
Em um tratamento a longo prazo, eu definitivamente não recomendo esta cidade a ninguém. Num dia desses de verão, te digo, Porto Alegre ainda vai explodir.
A prefeitura de Porto Alegre tem apenas oito Unidades Básicas de Saúde para tratar de pessoas com distúrbios mentais. O que enxerguei em São Paulo há dois anos se registra como um padrão agora em Porto Alegre. O acúmulo de gente doida nas grandes cidades brasileiras cresceu de forma desmesurada. A questão é que essas pessoas não nasceram ontem. A maioria é abandonada à própria sorte pelos familiares pelas questões mais mundanas, mas a razão mais citada é a econômica.
Enquanto o pessoal mais abastado pode disfarçar a loucura dos parentes com Esquadrões Tarja Preta e fazendinhas, passa aos olhos que quem realmente necessita é prejudicado com o preço astronômico de remédios e clínicas de tratamento. Práticas, as famílias mais pobres preferem disfarçar o problema como "social" ou então despejam os louquinhos. Por alguma razão obscura, a concentração é notável na Cidade Baixa, Bom Fim e Centro.
Não é um julgamento de razões, mas são nesses casos que a sociedade deveria interferir. Esperar que prefeitura, governo Estadual e quiçá o Federal façam alguma coisa é a mesma coisa que nada. Eles têm questões mais urgentes. Como esse trecho da Política de Saúde Mental de Germano Rigotto: "As legislações que orientam as ações em saúde mental, para uma visão comunitária e extra-hospitalar, tem como conseqüência a constatação de que o modelo hospitalocêntrico não é resolutivo no que se refere as necessidades individuais e sociais frente à realidade do sofrimento psíquico. Novas modalidades de atenção devem ser implantadas e implementadas, contemplando ações de promoção, prevenção e reabilitação, de forma contínua, abrindo possibilidades de atendimento, através de planos terapêuticos individuais e respeitadores dos direitos de cada cidadão/ã".
Ou seja, o governador interfere na Economia para aquela tungada amiga do ICMS, mas foge da responsabilidade do Estado para preservar uma parcela de pessoas que simplesmente não têm condições de levar uma vida digna e normal.
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