Como usar a lama em 2006?
Dia desses eu conversava com o Walter sobre as circunstâncias que podem levar Rigotto à presidência da república – e elas estão sendo desenhadas de maneira cada vez menos improvável – e pelo menos uma delas é digna de tese: bater no adversário está fora de moda. De certa maneira, a própria vitória de Rigotto em 2002 foi um divisor de águas neste sentido.
Em meio à artilharia pesada disparada entre Tarso e Britto, surgiu um candidato cujos programas eleitorais na televisão não continham imagens em preto e branco, músicas tensas ou recortes de documentos atacando o adversário.
Virou lei no manual de qualquer marqueteiro que se preza: campanha hostil não pega bem entre os eleitores. É melhor apelar para o coração. Nestas circunstâncias, mesmo que os números mostrem o fiasco da administração de Rigotto no Rio Grande do Sul, eles não serão úteis para nada. O adversário que tentar mostrar isso ganhará uma imagem antipática. Rigotto, por sua vez, fará o seu papel de galã e usará o discurso da reforma das instituições, do choque de gestão, etc. E em nenhum momento precisará mostrar que não conseguiu fazer nada disso no Estado. E muito menos seus adversários o farão.
Não há dúvida de que a repulsa da população aos ataques eleitorais é fruto de uma saturação e de uma radicalização de posições que atingiu o seu auge nas eleições de 2002. Lula foi vitorioso porque, durante a campanha, não bateu em FHC. Rigotto foi vitorioso porque, durante a campanha, não bateu nem em Tarso nem em Britto. A questão é saber se, como todo ciclo, essa repulsa da população vai, de fato, retroceder.
Em um ano em que a oposição tem pratos cheios para metralhar o governo – seja o PSDB falando do mensalão em nível nacional ou o PT usando a falência econômica do RS em nível estadual – de que maneira essa lama toda vai ser utilizada junto a um eleitor que não quer mais ouvir falar da miséria alheia?
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